A formação do leitor num espaço de muitos encontros

A formação de um bom leitor pode ser auxiliada pela criação de uma atmosfera de troca, de entusiasmo, de intimidade com o universo da cultura escrita, compartilhada por professores, pais, crianças e comunidade. É preciso oferecer propostas que garantam às crianças um bom trânsito pelo mundo da escrita e experiências de encantamento com a leitura
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Computador à disposição, tanto para o conhecimento de novos softwares, como para pesquisa na internet

Não importa se a biblioteca é pequena ou grande, na sala ou fora dela; o que importa é que livros de qualidade cheguem às mãos das crianças e toquem de fato os leitores iniciantes. A rede de escolas municipais de São Bernardo do Campo, em São Paulo, tem uma importante contribuição a compartilhar com a adoção do Programa Rede Escolar de Bibliotecas Interativas-REBI.

O programa atende às escolas da rede municipal de Ensino Fundamental e Educação Infantil e, em dias específicos, abre-se para a comunidade. São ao todo 53 bibliotecas, cada qual com um acervo de cerca de 3 mil livros, jornais, revistas, computadores, CDs, CD-ROMs, fitas cassete, internet, televisão e vídeo, montadas no espaço das próprias escolas.

A idéia do programa nasceu, em 1999, de um convênio da Prefeitura de São Bernardo com a Universidade de São Paulo (USP), através da Escola de Comunicação e Arte, tendo o professor Edmir Perrotti como idealizador da proposta.

O que são as Bibliotecas Interativas
As Bibliotecas Interativas inseridas nas escolas devem cumprir uma função pedagógica e cultural, ampliando os vínculos entre a educação formal e a informal. O espaço dessas bibliotecas foi planejado para ser convidativo à pesquisa e à leitura, de maneira que os materiais estejam acessíveis e os usuários possam apropriar-se dos diferentes recursos, desenvolvendo condições de utilizá-los autonomamente como espaço.

A organização do acervo, entretanto, por si só, não garante a interação e a apropriação de conhecimentos. É fundamental o papel de e educadores capacitados para atuar na mediação entre o aluno e os suportes de informação. Nesse sentido, a professora de Apoio à biblioteca escolar (PABE) e o professor da classe desenvolvem trabalhos em parceria, para garantir a qualidade dessa mediação.

Dentre os objetivos do programa estão:

  • possibilitar o acesso dos alunos e da comunidade escolar à informação e ao conhecimento, capacitando-os a decodificar, selecionar, confrontar e criticar dados contidos em várias mídias a partir de um acervo diversificado;
  • enriquecer e alimentar a sala de aula através da interação entre as atividades da biblioteca e o plano pedagógico das unidades escolares;
  • integrar crianças de diferentes faixas etárias em torno de leituras, pesquisas ou projetos em comum e criar possibilidades de expressão diversas: oral, escrita e audiovisual.
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Criança escolhe o livro que levará emprestado

O papel do professor de apoio
Para dar conta dos objetivos acima elencados, ao efetuarem a escolha do professor para a função de professor de apoio à biblioteca escolar – PABE, as escolas levam em conta que ele irá assumir as seguintes atribuições:

  • subsidiar o corpo docente, os alunos e a comunidade;
  • acompanhar as professoras regentes de turmas e os seus alunos em projetos desenvolvidos em parceria;
  • ministrar aulas de Educação para a Informação, que inclui conteúdos como o uso e reconhecimento dos diferentes equipamentos e portadores informacionais;
  • mediar as pesquisas dos usuários;
  • confeccionar, sempre que necessário, material de apoio e subsídios pedagógicos;
  • participar de reuniões pedagógicas e reuniões de pais da unidade escolar onde está lotado;
  • redigir o Plano Pedagógico da Biblioteca Escolar Interativa, incorporando o Plano Pedagógico da Escola.

Sandra Glória, uma das PABEs, nos conta um pouco do seu dia-a-dia como responsável por tornar o espaço da biblioteca dinâmico e com muita possibilidade de circulação de idéias. Faz parte de sua agenda ajudar o professor a incrementar os projetos em andamento, tanto os de pesquisa como os de leitura, e foi o que ela fez no ano passado.

Sandra participa também das reuniões semanais dos professores de HTPC (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo), tanto para inteirar-se do planejamento do professor, como para decidir seu próprio planejamento com os diferentes grupos que recebe, para que possa dar suporte ao que está acontecendo em sala, o que alimenta a prática do professor.

Biblioteca – Um espaço cultural
Além do convite a contadores de história e autores de livros para realizarem atividades com as crianças, faz parte do planejamento que os próprios usuários promovam eventos na biblioteca. Assim, eles têm espaço privilegiado, por exemplo, para as apresentações dos projetos.

Alunos da 3a série apresentam crônicas, teatro, leitura dramatizada; os da 1a série contam histórias, etc. O próprio espaço arquitetônico da biblioteca foi concebido para que haja esse tipo de intercâmbio.

Com arquibancadas e almofadas aconchegantes os ouvintes vão se acomodando, e todo dia tem hora do conto, leitura de poesia ou história pelo PABE. As crianças já sabem que se inicia a visita à biblioteca com essa atividade e que, depois, podem procuram os livros que querem folhear, conhecer ou mesmo levar para casa.

A biblioteca é também um espaço de escrita. As crianças levam folhas para fazer suas anotações de pesquisa, e às vezes até fazem atividades de reescrita nas mesas da própria biblioteca.

Abrindo as portas para a comunidade
A biblioteca reserva um dia da semana para atendimento à comunidade. Nesse dia, ex-alunos participam como monitores. É um jeito de os alunos da 5ª série, que não estão mais na escola, compartilharem o que aprenderam com outros usuários desse espaço.

Sandra revela que está preparando uma agenda cultural, na qual os participantes possam ser informados anteriormente acerca da programação da semana.

Além do espaço da biblioteca, onde fica todo o acervo, semanalmente há empréstimo de livros para levar para casa. Os livros de sala de aula também são renovados quinzenalmente. Em geral, cerca de 40 a 50 livros ficam nas salas.

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Fácil localização dos livros nas estantes: é só seguir a legenda

Empréstimos entre bibliotecas
Os alunos aprendem desde cedo a serem usuários de biblioteca e conhecem todas as suas possibilidades de uso – até mesmo consultam o banco de dados de outras bibliotecas da rede de São Bernardo (todos os alunos têm a orientação de como utilizá-lo). Assim, se uma criança está procurando um livro que fale da vida de Beethoven e não o encontra na biblioteca, pode tentar localizá-lo em outra biblioteca para fazer o empréstimo interbibliotecas. Aprendem, sobretudo, a buscar informação, compartilhar e ter autonomia no uso desse espaço cultural.

Carrinhos temáticos e computador
Sandra costuma separar, nos carrinhos temáticos, materiais que as crianças estão usando para trabalhar em sala de aula. Às vezes separa por autor ou títulos específicos, de acordo com um projeto de pesquisa que esteja sendo desenvolvido, como, por exemplo, sobre o tema olimpíadas.

É uma forma de mostrar a abrangência que um assunto pode ter. Um meio interessante de pesquisa é o uso do computador. Na biblioteca as crianças aprendem a entrar em sites de busca na internet. Algumas estão tão familiarizadas com essa mídia que até mandam e-mail para personagens de alguns sites que oferecem essa interatividade.

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Carrinhos temáticos. Nele são selecionados materiais de acordo com a pesquisa que está sendo desenvolvida, faixa etária, estudo de algum autor, gênero literário, etc.


Propostas lúdicas

Faz parte do trabalho da PABE encontrar formas de inovar, propor estratégias que capturem os leitores para o instigante universo das histórias. Sandra tem adotado uma gostosa brincadeira de leitura que se chama Caixa Misteriosa. As crianças recebem na sala uma caixa com uma carta dentro e um livro. Cada vez há uma mensagem diferente, dizendo, por exemplo, para elas aproveitarem a história enviada e darem sua melhor história de volta para a caixa, para circular em outras salas. Em outra caixa, as crianças, recebem uma parte de uma história e precisam achar os pedaços da mesma história que ficam afixados nas paredes da escola.

São muitos os exemplos de sucesso do programa que assíduos freqüentadores do espaço podem nos dar. Tem mãe que chega pedindo para que Sandra conte ou leia uma história para poder recontar/ler para o filho. Tem criança da primeira série que se prontifica a realizar leitura para os companheiros que ainda não sabem ler. E as crianças estão até retirando livro para ler na hora do parque, na tão concorrida quadra de esporte!

Ficha Técnica

Biblioteca Interativa Rubem Alves/EMEB Edson Danilo Dotto – Rua Hum, 1875 – Parque Selecta – São Bernardo São Paulo – SP – CEP: 09791-530 – Tel.: (11) 4338-6200.
Diretora: Denise Terezinha Lima Teixeira Dias e Sandra Monsanto Glória. Fotos da Biblioteca Cecília Meireles.

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