Os Nomes


Muitas vezes as pessoas não acreditavam nos nossos nomes: José, Chico, Paulo e Antônio. Pareciam pseudônimos, disfarce para ajudar na integração. “Tá chateano de mim?!”, disse Anderson ao nos apresentarmos. Foi difícil fazê-lo crer que nós, de cabelos lisos, pele e olhos claros, tão próximos daquele modelo da televisão, não nos chamávamos nem Wellington, nem Walter, nem Jackson ou algo do gênero. Tão difícil quanto foi pra nós aceitar que esses fossem os nomes deles. Gerisvan, Djeulianny, Djuilianny, Ayslan, John Kevin e Jordan Kennedy, Julisneyde, Oldaylton e Marciana – mistura de Márcio com Ana. Esses são só alguns, tem muito mais lá.

Por que esses nomes, meu Deus? A primeira explicação que tivemos foi a da mistura. Pai Claúdio, Mãe Juliana, Claudiana. Aí a Claudiana conhece Ayran, o filho do Ayrton com Mirian. Casam-se e nasce um belo casal, Claudian e Ayriana.
Mas essa explicação não dá conta de todos os nomes. Muitos deles são
tirados da televisão. Pode parecer estranho um John Kevin no Crato, CE, mas não é. Quantas Maíras há em São Paulo? A diferença é que John Kevin é a homenagem a Macauley Culkin, ator do filme Esqueceram de Mim, e Maíra é tirado do livro homônimo, de Darcy Ribeiro. A Maíra de São Paulo é tão distante
da tribo indígena quanto o Kevin do Ceará é dos EUA. Ou será que uma
Maíra urbana é mais “normal” só porque o livro é uma mídia mais “culta” que
a TV? Leu o livro, gostou, batizou o filho. Viu o filme, gostou, batizou o filho,
mesmíssima coisa.

Como na TV não aparecem escritos os nomes falados, as pessoas acabam
escrevendo da forma que ouvem. Vimos muitos nomes começados com Dj,
recurso utilizado para fazer a pronúncia americanizada de Djonatan, Djulia,
etc. Ípslons, dáblius e Ks, claro, dão aquele toque especial a qualquer nome.
O cúmulo da sofisticação nós vimos em Salitre. O prefeito, havíamos lido
numa ficha sobre a cidade, chamava-se Francisco. Lá, porém, nem todos sabiam
disso. Era mais conhecido por seu apelido: Neoclides. Por quê? “Todo
mundo chamava, acabou pegando…”

(Antonio Prata, Cabras, caderno de viagem,
Programa Comunidade Solidária, 1999)

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