Repensar, rearranjar, recortar e reconfigurar

O uso de materiais inusitados em obras de arte surpreende e captura o olhar e o pensamento
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Paisagem Verde, fotografia 100 x150cm
(foto: acervo Madu Almeida)

Meu trabalho se caracteriza por desenhar, pintar, reconfigurar, recortar, esconder, ressaltar e reagrupar imagens e objetos variados retirados do cotidiano. Pode ser entendido como assemblage. Sou formada em Comunicação Visual pela Faculdade de Comunicações e Artes Mackenzie, em São Paulo – SP. Passei um longo tempo da minha carreira desenvolvendo trabalhos de pintura em cerâmica. Depois, tive a oportunidade de integrar o grupo de artistas orientado por Albano Afonso e Sandra Cinto sobre arte contemporânea, do qual participo até hoje.

Para as minhas produções, coleciono uma diversidade de objetos que abrange desde pequenos plásticos coloridos, pedaços de louças, panos, fitas, enfeites de festa, artigos encontrados nas lojas de R$ 1,99, passando por fragmentos de fotografias, recortes de aquarelas e desenhos etc. Uso a linguagem da assemblage (ver abaixo), que vai além da colagem, produzindo peças bidimensionais ou algumas que se assemelham às maquetes. Em alguns casos o objeto tridimensional configura-se como a obra; em outros, se define como modelo para a fotografia.

No momento da criação, não hesito em recortar as minuciosas aquarelas e desenhos já terminados. Muitas pessoas se espantam que uma obra finalizada seja recortada, tornando-se matéria-prima novamente. Nesse processo, tenho um interesse em desconstruir o mundo à minha volta, para poder processá-lo e reconfigurá-lo à minha maneira. Na série de fotografias e maquetes intitulada Paisagem, por exemplo, construo protótipos que parecem lugares projetados. Lembram torres, paisagens urbanas em ruínas, cidades utópicas, paisagens marinhas etc. A série foi realizada a partir da construção com pedaços de objetos recolhidos do dia a dia, das mais diversas naturezas, e que, reunidos, transformaram-se em paisagens inusitadas, como recortes de mundos específicos.

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Imobili Encantado, 24 x 30 x 17cm A obra busca reerguer possibilidades de uma civilização em grande movimento e transformação: desgaste e instabilidade na urbanidade (foto: Acervo Sérgio
e Mônica Coimbra)

Penso que há uma característica lúdica nas minhas obras, principalmente possibilidade de representação variada e diversa de objetos e a microescala dos materiais empregados. O inusitado dos materiais provoca tanto o estranhamento como o reconhecimento de que tudo pode ser repensado e reapresentado.

(Madu Almeida, artista plástica, vive e trabalha em São Paulo. Participou de várias exposições no Brasil e em outros países)

Assemblage

O termo assemblage é incorporado às artes em 1953, cunhado por Jean Dubuffet (1901-1985) para fazer referência a trabalhos que, segundo ele, “vão além das colagens”. O princípio que orienta a feitura de assemblages é a “estética da acumulação”: todo e qualquer tipo de material pode ser incorporado à obra A ideia forte que ancora as assemblages diz respeito à concepção de que os objetos díspares reunidos, ainda que produzam um novo conjunto, não perdem o sentido original. Menos que síntese, trata-se de justaposição de elementos, em que é possível identificar cada peça no interior do conjunto mais amplo.
(Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Artes visuais, do Instituto Itaú Cultural1)

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Borbolha, 60 x 110 x 60cm Cores vibrantes e microescala de materiais se revertem em apreciação puramente prazerosa para quem observa: promoção do lúdico (foto: Marcelo Rennó)

Ficha técnica

Madu Almeida
Ateliê: Rua Aberto Faria, 1360, Alto de Pinheiros – São Paulo – SP – CEP: 05459-001
E-mail: madupa@uol.com.br
Site: http://www.ateliefidalga.com.br/?i=23&q=2

Para saber mais

Livros
Arte moderna, de Giulio Carlo Argan. Tradução de Denise Bottmann e Federico Carotti. Prefácio de Rodrigo Naves. Companhia das Letras: São Paulo. Tel.: (11) 3707-3500. Site: http://www.companhiadasletras.com.br/

ARTE híbrida, de Aracy Amaral e Sérgio Romagnolo. Funarte: Rio de Janeiro. Tel.: (21) 2279-8102 e 2262-1513 – Site: http://200.143.203.68/novafunarte/funarte/edicoes/edicoes.php.

Dicionário Oxford de Arte, de Ian Chilvers (org.). Editora Martins Fontes: São Paulo, Tel.: (11) 3106-9133. Site: http://www.martinsfontes.com.br/

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Materiais do ateliê: bloco de E.V.A., contas, restos de bijuterias, bolas de vidro, brinquedos de plástico, tampas de garrafas, embalagens de sorvete e outros.(foto: Marcelo Rennó)

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