Nosso Terreiro

Visitas a museus e a exposições permitem não só que crianças se envolvam em trabalhos sobre a vida e a obra de artistas, como também professores, pais e toda a comunidade escolar aprendam mais sobre arte

Nesta edição, a revista Avisa lá inicia a publicação de uma série de artigos sobre a relação da criança com os espaços de Arte, como museus e exposições. A inspiração para a iniciativa vem do trabalho da Escola ALFA1, coordenado por Fernanda Assumpção, assessora de Arte da instituição. Nesta oportunidade, o texto destaca o trabalho do artista Cildo Meireles2. Em agosto, será a vez de Ernesto Neto3 e, em novembro, de Nelson Leirner4.

Início de conversa
Na Escola ALFA, a Arte é concebida no currículo como mais uma possibilidade de trabalhar com o sujeito em todos os seus aspectos. Essa concepção deriva da compreensão de que a Arte possibilita à criança traçar novos caminhos, desenvolvendo a sensibilidade e adquirindo novos modos de sentir e de pensar. Entendemos que a expressão artística assume grande relevância na Educação Infantil, já que por ela os pequenos se aproximam da realidade de um jeito diferente, isto é, pela pintura, pelo desenho, pela música, pela modelagem, pela fotografia etc.

Por sua riqueza simbólica e pela ludicidade de seus materiais, a Arte adquire status de linguagem privilegiada nos espaços educativos infantis, justamente pelo diálogo possibilitado. Na Escola ALFA, as ações que envolvem alunos, professores, coordenadores e especialistas denominam-se “ação artística”, que corresponde ao desenvolvimento simultâneo e permanente de atividades com três focos diferentes e complementares: a experimentação, a expressão gráfica e a investigação.

Bienal e Educação Infantil
O que nos aproximou da 29a Bienal de Arte de São Paulo5 foi a convicção de que o acesso à Arte constitui-se em possibilidade de transformação. A declaração do presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins, veio ao encontro de nossas crenças: “Acreditando na importância da Educação e da Arte na formação dos cidadãos e na sua maneira de enxergar o mundo, a Bienal de São Paulo dedica-se a promover o contato do público com a produção artística.”

O título da Bienal Há sempre um copo de mar para o homem navegar (inspirado num verso do poeta alagoano Jorge de Lima) sugeria a importância da experimentação referida acima. Segundo os curadores, a dimensão utópica da Arte está contida nela e não fora dela. Ao pensarmos no projeto Nosso Terreiro (relatado a seguir), não pretendíamos fazer uma reflexão política com crianças de Educação Infantil – pelo menos não com a dimensão pensada e proposta pelos organizadores da Bienal.

Queríamos, sim, abrir um espaço de diálogo, de experimentação, para além de nossas salas e de nosso ateliê, invocando os pais, os professores e a  comunidade para experimentar e pensar Arte. Também era nosso objetivo oferecer aos pequenos o acesso às obras expostas na Bienal, em um trabalho com base na nossa “ação artística” e também na elaboração de uma exposição.

Reconhecíamos no ato do planejamento que se tratava de um projeto ousado, considerando-se o contexto em que ele se desenvolve: a Educação Infantil. Por que e para quê ousar? Para chamar a atenção de artistas, de educadores e da sociedade às possibilidades de ação e de produção de crianças por meio da Arte. Vale ressaltar aqui que, em geral, há visitas monitoradas para crianças desta faixa etária em museus do Brasil. O que estaria por trás dessa exclusão? Qual é a visão de mundo, de sujeito, de Educação e de Arte? Consideramos que a Bienal poderia ser tomada como um espaço para ousar e questionar temas como esses que, a nosso ver, são de natureza política.

Artistas brasileiros
Tendo em vista a importância e a grandiosidade de um evento que aconteceria tão próximo de nós e do papel da Arte na Educação que se desenvolve em nossa escola, aceitamos o desafio de transpor a linguagem de diferentes artistas da mostra para o universo da Educação Infantil, assumindo a Arte como linguagem privilegiada para esse público. Foi assim que nasceu o projeto Nosso Terreiro, que envolveu as crianças de 2 a 7 anos, com o objetivo de orientar e organizar as ações desenvolvidas na Escola ALFA, tomando a 29ª Bienal de Arte de São Paulo como integradora das atividades curriculares no segundo semestre de 2010.

Considerando a grande quantidade de artistas com obras na Bienal e a especificidade de nossos alunos, escolhemos estudar os artistas brasileiros representados nessa exposição (e que estão nas prateleiras da biblioteca de Arte da Escola), cujas obras as crianças, as professoras, os funcionários e os pais certamente têm mais possibilidade de acesso em exposições de galerias e demais espaços.

Seis artistas foram escolhidos para o trabalho, levando-se em consideração as diversidades do fazer artístico, sua importância histórica no âmbito nacional e a capacidade de diálogo direto com a faixa etária em questão. São eles: Cildo Meireles, Ernesto Neto, Hélio Oiticica6, Mira Schendel7, Nelson Leiner e Rosângela Rennó8.

Com base no estudo de cada um desses artistas, foi possível ensinar técnicas diferentes: intensidade cromática, com Cildo Meireles; instalação, com Ernesto Neto; construção, com Hélio Oiticica; grafismo de letras, com Mira Schendel; colagem, com Nelson Leirner; e fotografia, com Rosângela Rennó. Todo o processo começou no primeiro semestre de 2010. No fim de maio e ao longo de junho, as coordenadoras pedagógicas e eu participamos do curso elaborado pelo setor Educativo da Bienal que, além das preciosas informações, distribuiu valioso material. Com isso, iniciou-se uma conversa com as professoras da Escola sobre a implantação do projeto. Foi definido que todas as turmas participariam do trabalho, realizando as mesmas atividades, apenas adaptando-as às características de cada faixa etária. Cada um dos artistas foi trabalhado durante duas semanas, em duas etapas, da seguinte maneira:

  1. Atividade artística proposta por mim para todas as turmas, com referência no trabalho do artista estudado.
  2. Com base no trabalho da semana anterior, cada professora, levando em conta as características de seu grupo, elaborou uma proposta de produção diferente, modificando o suporte inicial. Essas ações, coletivas ou individuais, caracterizaram-se em atividades como pintar por cima, cortar e remontar, rasgar e colar em um novo suporte, fotografar para fazer intervenções etc.

Antes de iniciar os trabalhos, as educadoras apresentaram para as crianças imagens da vida e da obra dos artistas e uma breve biografia de cada um deles.

Pesquisas de diferentes suportes e materiais  (foto: Fernanda Assumpção)

Pesquisas de diferentes suportes e materiais (foto: Fernanda Assumpção)

Tudo em vermelho
Todas as crianças assistiram a um vídeo9 sobre a vida e a obra de Cildo Meireles. Depois, as professoras solicitaram a cada uma que levasse para a escola um objeto vermelho. No dia combinado, por sorteio, os pequenos colocaram seus objetos em um local onde todos puderam sentar-se em volta para apreciá-los. Tinta vermelha e riscantes de vários tons foram oferecidos, além de cartolina para que eles pintassem ou desenhassem o que quisessem. Para os maiores, havia lápis grafite para desenho de observação dos objetos, além de material de pintura.

As crianças das turmas de 5 e 6 anos realizaram, além das atividades apresentadas, uma pesquisa individual. Nesse momento, pedimos a colaboração dos pais e dos responsáveis. Era preciso encontrar, em qualquer momento da história da Arte Brasileira, um artista que, por alguma razão, lhes despertasse interesse particular e significativo. A atividade teve como objetivo construir repertório visual e prático, com referência nos artistas brasileiros da Bienal.

Como resultado, as pesquisas revelaram diversos tipos de informação, como a história de vida do artista escolhido, sua trajetória artística e, principalmente, fotos e imagens de seu trabalho. Depois, todos fizeram uma apresentação para os demais colegas da sala. O envolvimento dos alunos e dos pais e a desenvoltura das crianças durante a apresentação da pesquisa para os colegas revelaram a potencialidade da Arte como integradora do processo de desenvolvimento infantil.

Em setembro, combinamos que as crianças visitariam a Bienal. Como parte da preparação dessa saída, as professoras visitaram antes a mostra. Também houve uma reunião com os pais para apresentação do projeto Nosso Terreiro. Na ocasião, foram sorteados kits do material da Bienal para os interessados e distribuídos convites para os responsáveis a fim de que eles pudessem ir com a escola ao evento.

Exposição de aprendizagens
Em novembro de 2010, a Escola ALFA abriu as portas para receber alunos, famílias e demais convidados para a exposição de todos os trabalhos realizados no projeto Nosso Terreiro. O convite para o evento foram copos de quatro cores diferentes para cada família, com o título da Bienal: Há sempre um copo de mar para o homem navegar. Assim como na Bienal, a Escola dividiu-se por terreiros. Foram seis, correspondendo aos artistas estudados.

Como ação coletiva, montamos o sétimo espaço para que cada turma escolhesse livremente o modo de trabalhar o tema da exposição. O resultado desse terreiro-síntese expressou o alcance do projeto, pelo envolvimento de alunos e docentes na produção de mares, barcos, cascatas, barcos à vela, resultando em uma instalação de grande criatividade e beleza.

Nos terreiros dos artistas, além da exposição das obras produzidas pelas crianças, foi montado um ateliê para os visitantes realizarem atividades artísticas. Não havia limite de tempo nem de quantidade. A ideia era envolver pais e filhos em uma produção conjunta, em que o lúdico assumisse prevalência.

No terreiro de Cildo Meireles, realizamos uma oficina de exploração do vermelho. As professoras montaram as mesas de luz e o retroprojetor para manuseio de vários objetos translúcidos. Crianças e pais podiam escolher os objetos (um ou vários), colocá-los sobre a mesa de luz e vê-los projetados no teto, com formas que surpreendiam e encantavam. No mesmo espaço, sobre uma mesa, havia também grandes cartolinas vermelhas (atividade individual) e um rolo de papel kraft aberto (atividade coletiva), além de riscantes e tinta vermelha de vários tons.

Na história da ALFA, muitos foram os projetos realizados, sempre com o objetivo de integrar os conhecimentos das diversas áreas trabalhadas na Educação Infantil e de sintetizar o processo vivido por crianças e educadores ao longo do ano letivo. Contudo, o trabalho apresentado foi surpreendente, sobretudo pelas ações e interações proporcionadas pela Arte Contemporânea. A começar por nosso contato com a equipe do setor Educativo da Bienal, que se constituiu em parceiro na formação da nossa equipe; pela receptividade e pelo envolvimento dos pais e dos responsáveis em todos os momentos; pelo envolvimento de vários funcionários da Bienal, que receberam as crianças, que se encantaram com suas atitudes e conhecimento – elas sabiam os nomes dos artistas e de suas obras; pela habilidade de alguns alunos, que serviram de monitores e guiaram os pais em visita à mostra; e, finalmente, pela disponibilidade das professoras, que se apropriaram de novos conhecimentos sobre Arte Contemporânea, arriscaram inusitadas produções com as turmas e guiaram os pais e demais visitantes em suas oficinas.

O convite do setor Educativo da Bienal para que relatássemos o projeto Nosso Terreiro, em um dos terreiros, foi recebido com grande honra, e o relato feito pelas profissionais da Escola ALFA coroou uma ação que revelou a importância da ação coletiva na Educação e as reais possibilidades de avançar em qualidade quando unimos os profissionais da escola, os da Bienal e as famílias, na promoção de algo que faz a diferença não só para as crianças, mas para toda a comunidade.

(Fernanda Assumpção, arquiteta, artista plástica e assessora de Arte da Escola ALFA, em São Paulo – SP)

1A Escola ALFA dedica-se à Educação Infantil, atendendo crianças de 2 a 6 anos.

2Cildo Meireles (Rio de Janeiro, 1948) é um artista multimídia. Em toda a sua obra, há uma constante manifestação de tensão e torção no âmbito da estética, da percepção, da ciência ou da economia. Centrada na experiência desses diferentes ramos do conhecimento, sua arte visa gerar novos significados por meio do reconhecimento dos limites e da falibilidade desses sistemas de compreensão.

3Ernesto Neto (Rio de Janeiro, 1964) expande a prática da escultura utilizando-se, na maior parte das vezes, de tecidos com elasticidade, temperos e isopor como principais materiais, e a força da gravidade como elemento determinante. A interação física é outro aspecto fundamental de seu trabalho.

4Nelson Leirner (São Paulo, 1932) é considerado um artista polêmico, sempre preocupado em atingir as ruas e, assim, criar indagações nas pessoas. Para conseguir isso, utiliza várias estratégias estéticas e/ou comportamentais de modo experimental, mesmo que isso cause  estranhamento às pessoas.

5A Bienal de Arte de São Paulo é uma iniciativa da Fundação Bienal de São Paulo com o apoio do Ministério da Cultura e da Prefeitura de São Paulo. A 29ª edição firmou parceria com a Secretaria de Educação do Estado e a do Município de São Paulo e de outras cidades vizinhas, com diversas instituições privadas de ensino e ONGs para a capacitação de mais de 35 mil educadores. Foi aberta ao público no período de 25 de setembro a 12 de dezembro de 2010, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, localizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo – SP. Site: www.fbsp.org.br

6Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 1937–1980) foi pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas. É considerado um dos artistas mais revolucionários de seu tempo, cuja obra experimental e inovadora é reconhecida internacionalmente.

7Mira Schendel (Zurique,1919–1988) estudou as potencialidades gráficas das letras em diversas explorações de suas formas, como se cada letra tivesse um mistério contido em seu próprio desenho. Foi a única artista desse time que não nasceu no Brasil, mas foi escolhida por ter vivido no País.

8Rosângela Rennó (Belo Horizonte, 1962) propõe a ressignificação de imagens preexistentes. Negando-se a produzir novas fotografias, a artista passa a se interessar por imagens recolhidas em álbuns e arquivos fotográficos de sua família.

9Cildo Meireles, produzido pelo Instituto Cultural Inhotim, Brumadinho – MG. 2008. Apresenta os trabalhos em exposição permanente em Inhotim Arte Contemporânea: Desvio para o vermelho, 1967–1984, Através, 1983–1989, Glober Trother, 1991 e Inmensa, 1982-2002.

Ficha Técnica

  • Escola ALFA Endereço: Rua dos Macunis, 333 – Alto de Pinheiros. CEP: 05444-000 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3031-8656/3819-4567 E-mail:alfa@escolaalfa.com Site: www.escolaalfa.com

Diretora pedagógica: Cecília Pereira de Almeida Assumpção E-mail: cecilia@escolaalfa.com
Assessora institucional: Vera Trevisan de Souza
Coordenadora: Carla Gorga Guimarães
Assessora de Arte: Fernanda Assumpção E-mail: paraafe@hotmail.com

  • Inhotim Arte Contemporânea Endereço: Rua B, 20, Inhotim. CEP: 35460-000 – Brumadinho – MG Tel.: (31) 3227-0001 E-mail: info@inhotim.org.br Site: www.inhotim.org.br
Ações e interações proporcionadas pela Arte Contemporânea (foto: Fernanda Assumpção)

Ações e interações proporcionadas pela Arte Contemporânea (foto: Fernanda Assumpção)

Projeto Educativo da Bienal

A 29ª Bienal de Arte de São Paulo elaborou extenso Projeto Educativo, com atividades e materiais de formação variados para públicos diferentes. Tendo como foco a experiência com a Arte, as ações não constituíram um guia para a compreensão dos trabalhos, mas uma coleção de convites para quem quisesse se aproximar dos conceitos e das poéticas que integraram a mostra. A ideia foi encorajar o público a acreditar nas próprias percepções sobre os trabalhos expostos, lançando mão de seus repertórios e experiências, e, ao mesmo tempo, oferecer informações que ampliassem seu universo de compreensão da Arte.

Sob a curadoria de Stela Barbieri10, o programa teve início antes da exposição, com a organização de ações de formação para educadores de escolas públicas e particulares, organizações não governamentais, comunidades e associações culturais. A equipe de 320 educadores foi especialmente preparada para receber o público ao longo da mostra por meio de formação organizada em parceria com 22 instituições culturais de São Paulo, dentre elas: Pinacoteca do Estado de São Paulo11, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP)12, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC)13, Centro Cultural São Paulo (CCSP)14 e Instituto Itaú Cultural15 – de modo a propiciar um contato com diferentes experiências em mediação cultural. Cursos para crianças, adolescentes, jovens e adultos, encontros com críticos, curadores e artistas, e um seminário internacional sobre Educação, arte e política complementaram as atividades.

(Fonte: 29ª Bienal – Educativo. Site: www.bienal.org.br/FBSP pt/Educativo)

10Artista plástica, educadora e contadora de histórias; curadora do projeto educativo da 29a Bienal de Arte de São Paulo e diretora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo – SP

11É o museu de arte mais antigo da cidade de São Paulo, com ênfase na produção brasileira até a contemporaneidade. Praça da Luz, 2 – São Paulo – SP. Tel.: (11) 3324-1000. Site: www.pinacoteca.org.br

12É considerado o mais importante museu de arte ocidental do Hemisfério Sul. Em seu acervo destacam-se pinturas ocidentais, principalmente italianas e francesas, do século XIII aos nossos dias. Avenida Paulista, 1578 – São Paulo – SP. Tel.: (11) 3251-5644. Site: www.masp.art.br

13É um dos mais importantes museus de arte moderna e contemporânea da América Latina. Atualmente conta com 2 unidades: MAC USP Cidade Universitária, Rua da Praça do Relógio, 160 (antiga Rua da Reitoria) – Cidade Universitária – São Paulo – SP. Tel.: (11)3091-3039 e MAC USP Ibirapuera, Pavilhão Ciccillo Matarazzo, 3º piso, Parque Ibirapuera – São Paulo – SP. Tel.: (11) 5573-9932. Site: www.mac.usp.br

14Oferece espetáculos de teatro, de dança e de música; mostras de artes visuais; projeções de cinema e de vídeo; oficinas, debates e cursos, além de manter sob sua guarda expressivos acervos da cidade de São Paulo. Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso – São Paulo – SP. Tel.: (11) 3397-4002. Site: www.centrocultural.sp.gov.br

15Instituto privado, voltado à pesquisa e à produção de conteúdo, ao mapeamento, ao fomento e ao estímulo à produção e difusão de manifestações artísticas. Avenida Paulista, 149 – São Paulo – SP. Tel.: (11) 2168-1777. Site: www.itaucultural.org.br

Um pouco de Cildo Meireles

Aos 10 anos, Cildo Meireles mudou-se para Brasília, e foi nesse período que travou contato com a Arte Moderna e Contemporânea. Em 1967, foi para o Rio de Janeiro e passou a dar mais atenção para obras tridimensionais. Sua primeira instalação foi Desvio para o vermelho, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), em 1967. Nesse mesmo ano, criou Espaços Virtuais: Canto, ambientes assemelhados a interiores de casa, organizados segundo especulações geométricas.

Em 1970, participou da exposição coletiva Information, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque – EUA (Museum of Modern Art – MoMA). A mostra reuniu boa parte da produção de matriz conceitual da década de 1960. Cildo participou com Inserções em circuitos ideológicos, trabalhos em que imprime frases subversivas em cédulas de dinheiro e em garrafas de refrigerante. A intervenção política em objetos banais é constante em sua produção entre 1970 e 1975.

Morou também nos Estados Unidos da América, de 1971 até 1973. Ao retornar ao Brasil, concentrou seu trabalho nas linguagens conceituais e na apropriação de objetos não artísticos. Realizou, em 1975, a instalação Eureka/Blindhotland, na qual investigou propriedades sensoriais não visuais dos objetos utilizados. Na segunda metade da década de 1970, ampliou essa discussão em esculturas. No início da década de 1980, alguns elementos pictóricos foram incorporados às suas instalações e esculturas. A obra deu escala monumental à temática política de Cildo Meireles. A partir de 1989, passou a expor fora do Brasil com mais frequência.

Entrevista com Stela Barbieri

Revista Avisa lá – Qual é a importância de se visitar museus e exposições?
Stela Barbieri – É importante criar possibilidades de acesso para que os alunos conheçam outras culturas e vivenciem o encontro com a Arte desde sempre. Uma criança que se relaciona com a Arte pode ter uma visão mais abrangente do mundo, com respeito às diferenças em sua maneira de se relacionar consigo e com os outros.

Revista Avisa lá – E as escolas que não possuem essa oportunidade de visita na cidade, o que devem fazer?
Stela Barbieri – O mais importante na Educação por meio da Arte é a formação estética, que pode se dar com base na observação do entorno e na percepção do lugar onde se vive – a temperatura, a arquitetura e a natureza. Os professores podem usar também a internet, pesquisar artistas que vivam na região e, assim, criar um território de experiências estéticas vivo e significativo.

Revista Avisa lá – Como o professor pode ajudar a turma a se preparar para visitas a museus e a exposições?
Stela Barbieri – O professor pode participar de formações e de cursos a distância, mas pode também trabalhar com os alunos as percepções do corpo e a observação de tudo que o cerca. É possível também criar ateliês para práticas artísticas em que os alunos, além de refletir sobre Arte, possam experimentar seu processo criador. A Arte Contemporânea propõe o questionamento do mundo atual e isso diz respeito a todos nós.

Revista Avisa lá – Sobre a Bienal, qual é a importância de um evento desse porte para as escolas?
Stela Barbieri – A Bienal é uma das maiores exposições de Arte do mundo, um evento que conta com a presença de grandes artistas, que estão produzindo a Arte de nosso tempo, que refletem sobre nossos comportamentos, problemas sociais e econômicos atuais e diferentes temas que nos cercam. As percepções de cada pessoa são únicas e é importante que a escola reconheça a singularidade de cada aluno em suas leituras de Arte.

Revista Avisa lá – Ainda sobre a Bienal, como é possível que os professores e, consequentemente, os alunos, aproveitem um evento como esse?
Stela Barbieri – Nossa proposta é que as pessoas reflitam sobre Arte, mas também sobre a vida, sobre o mundo. Para que os professores e os alunos possam aproveitar a Bienal como um todo, acreditamos que o mais importante é estar aberto para sentir. A escola leva como aprendizado a possibilidade de olhar para coisas cotidianas de maneira diferente e perceber que a Arte faz parte da vida.

Para Saber Mais

Livros

  • Catálogo da 29a Bienal de São Paulo: Há sempre um copo de mar para um homem navegar, organizado por Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos: Fundação Bienal de São Paulo: São Paulo. Tel.: (11) 5576-7611. E-mail: educativo@fbsp.org.br
  • CILDO MEIRELES, de Paulo Herkenhoff, Geraldo Mosquera e Dan Cameron. Cosac & Naify: São Paulo. Tel.: (11) 3218-1472. Site: http://editora.cosacnaify.com.br /AtendProfessorGeral.aspx
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