Projetos e mais projetos

SILVANA AUGUSTO¹


GRANDE PARTE DO TRABALHO DA EQUIPE DE GESTÃO NÃO ENVOLVE APENAS O FAZER, MAS SIM O PENSAR, EXERCÍCIO PRINCIPAL DO PLANEJAMENTO. É NA HORA DE PLANEJAR QUE AS DÚVIDAS OCORREM: QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS ENTRE OS PROJETOS EDUCATIVO, PEDAGÓGICO, INSTITUCIONAL, DE FORMAÇÃO E DIDÁTICO?


A gestão da escola pública é mediada, entre tantas outras coisas, por muitos papéis e inúmeros documentos que são solicitados por diversos órgãos superiores, que demandam, eles mesmos, novos procedimentos e protocolos. Sabemos que alguns desses documentos têm sentido no âmbito jurídico e estão a serviço do funcionamento do sistema público de ensino. Nesse caso, foram elaborados para preservar o direito dos sujeitos que fazem parte desse sistema: os professores, os alunos, as famílias. Sabemos também que outros tantos documentos já perderam a razão de existir e caem no vazio da burocracia desatualizada.

Para além de documentos e de formulários burocráticos, alguns “papéis” têm sentido diferente e, por isso, deveriam sair das gavetas e serem vistos com outros olhos, pois, quando bem usa dos, ajudam no desenvolvimento da escola e no crescimento das pessoas que ali convivem. É o caso de projetos pedagógicos ou educativos, projetos institucionais, projetos de formação e projetos didáticos.


1 Professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz (ISE) e coordenadora pedagógica dos cursos a distância do Instituto Avisa Lá.

O propósito desse artigo é colaborar para uma leitura mais significativa desses projetos, buscando diferenciá-los e propondo uma reflexão sobre seus usos como instrumentos de desenvolvimento de pessoas e da própria instituição. Interessa-nos discutir sobre a atuação dos profissionais com respeito
à mediação desses instrumentos, de modo a atribuir-lhes sentido, construindo usos e funções mais adequados aos propósitos da escola.

Projetos pedagógicos ou educativos

O que uma escola precisa para ser de fato uma escola? A essa pergunta, alguns poderiam responder: espaço físico, recursos materiais e financeiros, professores. Ou, ainda, que precisa de demanda, de pais e de alunos. Tudo isso é verdade. Mas, antes, ela precisa ser desejada como escola e precisa também gerar novos desejos. Inclusive o desejo de assegurar direitos. Tudo o mais se ergue em torno disso.

Antes de ser construída, a escola pública é imaginada por muitos atores sociais, a partir de necessidades
imediatas de uma dada comunidade e de determinações políticas mais amplas. É projetivamente que a escola se mostra ao mundo, explicita seu entendimento sobre as necessidades do entorno e seu papel social, como se insere em certa comunidade e de que maneira pretende cumprir o direito de todos a uma educação de qualidade. Esse plano de ideias define identidade, ideais e metas, dando sentido e razão de ser de uma escola, espaço singular de desenvolvimento humano. É também o que a torna diferente. Tudo isso são apontamentos constitutivos do plano político das ideias sobre a escola e, principalmente, do plano dos desejos e dos compromissos de educadores e da comunidade. A este conjunto de ideais e intenções dá-se o nome de projeto pedagógico ou projeto educativo.²


2 Segundo Paulo Freire, todo projeto pedagógico é necessariamente político, ainda que não tenhamos plena consciência disso. É impossível pensar em um modelo educativo que não envolva posicionamentos sociopolíticos, uma visão de homem e de mundo. O projeto político se refere ao campo dos valores que sustentam o projeto pedagógico em determinado tempo histórico.

Esse é o primeiro plano de realização de tudo o que se deseja para uma escola, tradução escrita e intencional do projeto da escola, aquele com o qual sonhamos e que tanto desejamos. Algumas instituições atribuem a ele outros nomes. Mas o que importa saber é que ele visa explicitar a maneira como a escola se define, como quer ser vista e como vai funcionar.

O momento da escrita deste projeto pode ser vivido como tempo de reflexão para o gestor e sua equipe, na medida em que a escrita em si cria um distanciamento profícuo e necessário ao pensamento reflexivo. Nesse sentido, podemos afirmar que escrever o projeto pedagógico da escola é um modo de pensar sobre ela. Pensar com clareza sobre a sua missão, atualizando a sua função social para a comunidade. Pensar sobre a definição da clientela, sobre as características mais marcantes dessa comunidade e as mudanças que ela vem sofrendo ao longo dos anos e, consequentemente, modificando as demandas da escola. Pensar sobre a aprendizagem dos alunos, especialmente com relação ao que eles devem aprender e o que isso pode significar para cada um deles e para as famílias. Pensar sobre como é possível se relacionar com as famílias de modo a aproximar e fortalecer a parceria das duas instituições – escola e família –, para que possam cuidar da educação integral e da formação de uma criança. Relacionar todos os recursos disponíveis na escola e pensar como disponibilizá-los para potencializar o trabalho dos professores. Pensar sobre as diretrizes pedagógicas e o plano de ação necessário para que a escola caminhe de acordo com o desejo e a expectativa de alunos, professores, pais e funcionários.

Depois de pronto, e contempladas todas essas questões, o projeto pedagógico continua sendo importante na gestão da escola, permitindo à equipe gestora inferir, a partir dele, o foco para as avaliações institucionais, os momentos de encontros com os professores e funcionários, além das reuniões de pais. Quando utilizado como instrumento, o projeto pedagógico é constantemente lido, relido e atualizado, tornando-se um documento dinâmico, espelho de uma escola que insiste em se renovar.

Isso nos leva a considerá-lo como um nível de concretização da escola e ponto de partida de todos
os demais projetos que organizam a ação gestora.

O projeto educativo de escola constitui o instrumento essencial de uma gestão estratégica do estabelecimento de ensino, cuja construção e avaliação, nas suas diferentes facetas, se configura como o eixo fundamental de um processo de formação contínua dos professores. É, portanto, num quadro mais global, balizado pelo projeto educativo de escola, que deve ser pensado e concretizado o plano de formação.³

Mas como o projeto pedagógico pode ser constantemente atualizado? Isso é feito por meio da articulação de outros planos de ação da escola.


3 Gestão da escola: como elaborar o plano de formação?, de Rui Canário. In: Cadernos de Organização e Gestão Curricular. Lisboa: Instituto
de Inovação Educacional, 1998.

Articulação dos projetos

O desenvolvimento institucional e a formação de professores são desafios que compõem o trabalho
cotidiano da equipe gestora da escola (diretor, coordenador pedagógico, supervisor escolar). Cada
profissional deve se engajar em diferentes planos de ação e desenvolver planejamentos específicos, de forma encadeada.

♦ Projeto pedagógico ou educativo – (Locus: comunidade educativa. Sujeitos envolvidos: supervisor escolar, todos os técnicos da escola, professores e educadores,
♦ Conselho de Escola. Foco: proposta pedagógica e currículo escolar)
♦ Projetos institucionais – (Locus: escola. Sujeitos envolvidos: todos. Foco: desenvolvimento prático de diferentes ações que dão concretude aos ideais do projeto pedagógico)
♦ Projeto de formação de professores (ou demais educadores) – (Locus: escola. Sujeitos envolvidos:
formadores – coordenadores pedagógicos, diretor ou outros técnicos da escola – e grupo de referência como professores, demais educadores da escola. Foco: desenvolvimento profissional e pessoal de educadores)
♦ Planejamento didático – (Locus: sala de aula. Sujeitos envolvidos: professores e alunos. Foco: desenvolvimento e aprendizagem de todos os alunos)

Projeto institucional como instrumento da equipe gestora

O projeto institucional não é tão geral quanto o projeto pedagógico, e seu compromisso é cuidar do
desenvolvimento de ações institucionais nas quais vários setores se envolvem para que a escola cresça
e possa cumprir os objetivos primeiros. Trata-se, em certo prazo, de várias ações de mudança e de
continuidade que contribuem para determinado resultado. Por exemplo, o projeto institucional que
visa à constituição e ao fomento de uma comunidade leitora na escola pode envolver diversas ações:
o inventário e a organização do acervo da escola; a aquisição de acervo para as salas de aula e para a
biblioteca; a implementação de um sistema de empréstimo de uma biblioteca circulante na escola
para a comunidade; a organização de uma feira anual de livros para convidar autores da comunidade
ou divulgar livros novos e, principalmente, ações pedagógicas que visem implementar a leitura.

Ações como essas, se articuladas a um projeto institucional, garantem as condições para a formação
de leitores na escola.

Como todas as escolas devem fazer uma gestão baseada em projetos institucionais, o Instituto Avisa
Lá aproveita o contexto já existente para realizar sua ação formativa em muitos de seus programas.
Nessa linha, o projeto institucional tem sido usado estrategicamente na formação de equipes técnicas
e gestoras. É ele que dá a sustentação aos projetos de formação de professores.

Os projetos institucionais envolvem mudanças organizacionais, diferentes atores nos Centros de Educação Infantil (CEIs) e na comunidade, além de possibilitar alterações no espaço físico, na rotina ligada aos cuidados e na relação com as famílias e com a alimentação. Eles também apoiam a ação pedagógica quando promovem a reorganização dos espaços físicos, dos materiais, dos livros e dos brinquedos, contribuindo, por exemplo, para efetivar o brincar em diferentes espaços e momentos.

Eles têm por objetivo a circulação de informações entre os participantes e o desenvolvimento de
procedimentos mais adequados e cientificamente informados referentes aos temas em questão.4


4 Bem-vindo, mundo! Criança, cultura e formação de professores, de Silvia Pereira de Carvalho, Adriana Klisys e Silvana Augusto. São
Paulo: Peirópolis, p.103.

Na medida em que esse instrumento promove algumas projeções, ele pode, em contrapartida, ser usado na supervisão da escola. Como ele prevê metas e resultados, traçando ações para isso, ele pode sinalizar pautas para observar e acompanhar o que foi feito, avaliar os primeiros resultados, verificar novas demandas, ajudar a planejar os próximos passos etc. Ou seja, o projeto pauta o trabalho de supervisão do diretor de escola que pode, por meio dele, regular o trabalho prático. Ao orientar as ações, ele também define parâmetros para a supervisão, além de metas para a formação. É por isso que não pode ser burocrático, mas simples, factível, na justa medida de sua necessidade para servir como um instrumento de trabalho que orienta as ações em todos os planos.

Exemplos de projetos institucionais

Ao longo dos anos, a experiência comprovou a eficácia de alguns projetos institucionais como, por exemplo:

♦ Brincar, destinado a melhorar materiais, ambientes, cenários e propostas de brincadeiras no CEI, desde o faz de conta até os jogos ensinados pelos adultos.
♦ Beleza põe-se à mesa, dedicado a melhorar a qualidade dos alimentos e a forma de apresentá-los às crianças.
♦ Ambientes Educativos, voltado à criação de referências para a organização e a limpeza de ambientes
coletivos de crianças de todas as idades, passando pelo parque, cozinha, despensa, banheiros etc.
♦ Saúde e qualidade de vida, destinado a acompanhar o desenvolvimento infantil, reconceitualizando
a doença e a saúde em ambientes coletivos e criando referências para a organização e a manutenção
de registros de saúde das crianças.

Projeto de formação como instrumento do coordenador pedagógico

O projeto de formação é muito utilizado pelo coordenador pedagógico para definir estrategicamente
a sequência de trabalho a ser proposta aos professores nos momentos de formação. Nesse sentido, ele pode ser entendido como instrumento de trabalho, devendo acompanhá-lo sempre em seus momentos de planejamento das reuniões pedagógicas e demais situações formativas da escola.

Um bom projeto de formação não contém apenas boas ideias e ótimas intenções. Em primeiro lugar, comporta um bom diagnóstico das necessidades formativas dos professores. Se o projeto institucional prevê a criação de uma comunidade de leitores, como no exemplo citado anteriormente, é importante conhecer as condições leitoras dos professores. A partir daí é importante detalhar todas as ações formativas necessárias para o cumprimento dos objetivos, sempre comprometidos com o avanço do trabalho pedagógico na escola. Ele deve explicitar os encadeamentos das ações e a lógica do que se está propondo.

Não há um padrão ou uma norma obrigatória para essa escrita, nem mesmo uma forma rígida e fechada, mas sim modelos que podem ser adotados e transformados pelo uso contextualizado. É possível usar um roteiro para escrevê-lo. Criar uma mediação, uma instância a mais para organizar as hipóteses e as ideias que surgem na hora de planejar o trabalho é o que justifica sua adoção. É nessa hora que o coordenador procura deixar claro para ele mesmo as seguintes questões: O que propor? Por quê? Para quê? Para quem? Onde? Como? Nessas condições, portanto, o roteiro é entendido como um instrumento de trabalho.

Roteiro para a elaboração de um projeto de formação

Título:
Responsáveis:

1. O que propor?
Foco principal de formação
♦ Escreva aqui o que você pretende fazer para aprofundar aspectos diagnosticados, ou seja, a descrição
do problema levantado por você na primeira fase de seu trabalho.

2. Por quê?
Justificativa
♦ Por que você escolheu esse plano? Como ele pode ajudar seu grupo de professores nesse processo de
formação? Esse texto também deve ter sido escrito na primeira etapa de trabalho.

3. Para quê?
Objetivos da formação
♦ Escreva aqui o que você pretende alcançar a partir desse foco, quais são seus objetivos de trabalho com
os professores.

Expectativas
♦ Relacione o que você espera que os professores aprendam. Utilize isso para nortear o plano das etapas
seguintes, de modo que cada etapa contribua para a realização de suas intenções formativas. No caso de incluir outros educadores, além dos professores, é necessário também especificar o que se espera
dessa formação: Seria o mesmo que se espera dos professores? Há conhecimentos específicos que
precisam ser construídos?

4. Para quem?
Sujeitos envolvidos nesse trabalho
♦ Você pode incluir no seu plano todo o grupo de professores ou apenas alguns grupos, se este for um
trabalho mais específico.

5. Onde? Quando?
Momento de formação
♦ Pode ser, por exemplo, o HTPC e momentos de supervisão pedagógica.

6. Como?
Etapas prováveis de trabalho e cronograma
♦ Todas as ações formativas ocorrerão em um determinado tempo, nos momentos de encontros pedagógicos, em reuniões, supervisões, cursos, oficinas. Por isso, ao planejar as etapas de trabalho, procure organizar a sequência das reuniões considerando o melhor encadeamento entre elas, visando acolher o tempo da reflexão individual, do estudo de textos e da reflexão compartilhada a partir de boas estratégias. É importante explicitar as estratégias que serão usadas e, principalmente, a ordem em que elas serão dispostas.

Avaliação e sistematização
♦ Pense também no modo como você pretende avaliar. Para pensar a avaliação, é preciso retomar os objetivos iniciais e, a partir deles, refletir sobre o que poderá indicar que os objetivos foram cumpridos e que o projeto foi bem desenvolvido. A vantagem de se pensar esses indicadores desde o começo é que, dessa forma, ele já serve como um instrumento regulador de todo o processo, sinalizando aos poucos aquilo que já está apropriado pelo grupo e o que ainda necessita intervenções. Além disso, é nessa etapa final que também se deve sistematizar os conhecimentos construídos durante esse processo de formação, de modo que o grupo possa fazer uso desse conhecimento em situações semelhantes.

Bibliografia
♦ Relacione todos os textos que serão utilizados.

Do ponto de vista psicológico, o uso de instrumentos são fundamentais para a organização do pensamento e, uma vez apropriados, eles são internalizados e passam a constituir o próprio modo de
pensar do sujeito. É por isso que se diz que a ação de planejar a formação de professores é altamente
formativa para quem vai realizar esse trabalho.

Os projetos de formação precisam estar em constante diálogo com os demais planos – porque sabemos que a interação é fator determinante do desenvolvimento humano –, com outros parceiros como supervisores, técnicos, coordenadores de outras escolas de sua rede e auxiliares de coordenação em formação. E, nesse novo contexto, a escrita dos projetos de formação continua sendo uma necessidade
porque ela permite a produção e divulgação de conhecimentos sobre a área e pode ser utilizada na mediação com outros profissionais. Além, é claro, de se tratar de um documento sobre o processo vivido por uma escola, que pode ser revisitado e ressignificado.

Características de um bom projeto5

Depois, com tudo posto no papel, é possível distanciar-se do projeto e avaliá-lo criticamente. Algumas questões podem ser úteis ao processo da reflexão e das escolhas sobre os caminhos, sobre o que ainda se pode avançar no trabalho a ser realizado. Organizamos essas questões em cinco grandes blocos:

1. O enfoque e a justificativa do plano
♦ Seu plano tem um enfoque claro, permite explicitar o que você pretende trabalhar?
♦ Seu enfoque incide sobre o trabalho com as crianças?
♦ Ele cria espaços para se pensar sobre a prática educativa da escola?
♦ As ações desse plano foram pensadas tendo em vista as mudanças que você considera importantes?
♦ As ações planejadas interferem diretamente nas práticas das crianças e dos adultos?
♦ As mudanças que se deseja implementar na escola permitem que se vivenciem práticas culturalmente
significativas e promotoras da construção de conhecimentos (sejam ideias, valores, atitudes) das crianças? Você sabe com clareza quais são as práticas culturais que você pretende dar mais visibilidade
por meio desse plano?

2. Como compartilhar o plano na Unidade Escolar
♦ Foi pensado um modo de compartilhar suas reflexões na escola?
♦ Você formulou boas perguntas para os professores, elaborou questões que os ajudassem a observar
determinadas práticas na escola?
♦ Esta iniciativa – compartilhar o diagnóstico inicial que justifica o plano – está prevista para o início
do ano? Haverá momentos para retomar este diagnóstico com o grupo a fim de se avaliar o processo de formação ao longo do ano?


5 Elaborado a partir da publicação A Rede em rede: a formação continuada na Educação Infantil. Secretaria de Educação de
São Paulo. São Paulo / SME: DOT Educação Infantil, 2007.

3. O tempo da formação
♦ Você pensou um plano que se concentra apenas em alguns momentos de reunião ou criou novos
encontros?
♦ Esses encontros, individuais ou coletivos, permitem que se discutam as relações entre as práticas
educativas, as ideias dos professores e as teorias que iluminam essas práticas?

4. As estratégias de formação e os instrumentos metodológicos
♦ O planejamento das ações incide sobre as práticas que envolvem seu foco de atuação, evitando centrar-se apenas nas questões conceituais sobre o tema?
♦ Em seu plano, há uma ideia clara e estratégica do uso de observação, de registros e devolutivas?
Você sistematizou um modo de utilizar esses instrumentos?

Já o projeto institucional, além desses blocos, deve considerar também os seguintes aspectos:

5. Articulação de objetivos e metas
♦ O projeto deixa claro quais são seus objetivos e detalha adequadamente as metas?
♦ As metas são possíveis de ser alcançadas no tempo previsto de duração do projeto ou ele demandará mais tempo e, possivelmente, novas ações?
♦ As ações colaboram para a construção das metas?
♦ Elas são coerentes e focadas em resultados? Suas metas são quantitativas e qualitativas, de modo equilibrado?

6. O financiamento do projeto
Foi feito um planejamento orçamentário (caso seja necessário) considerando o caixa da escola e o valor do investimento?
Há um plano para a captação do recurso de alguma forma?

7. Articulação com os demais parceiros
♦ O projeto conta com a leitura crítica de outros parceiros, como Conselho de Escola, Associação de Pais etc.? Ele assimila sugestões dos parceiros mais próximos da escola como, por exemplo, as
famílias?
♦ Além das ações formativas com os professores, pensou-se também em ações que envolvam um trabalho junto com o diretor em relação aos demais funcionários da escola?
♦ Existe alguma participação da família ou de outros agentes de sua comunidade nesse plano? É uma participação que permite uma parceria, uma troca real?

Como ficam os projetos didáticos ou planos didáticos?

No plano didático da realização de uma escola, o locus é a sala de aula, e o professor é o autor do
trabalho. O projeto didático é instrumento do seu pensamento na hora de planejar o trabalho e, ao
mesmo tempo, uma ideia compartilhada em um grupo de crianças.

O âmbito da sala de aula, por sua vez, espelha o que acontece na instituição como um todo. No contexto do projeto institucional de formação de uma comunidade leitora, exemplo tratado anteriormente, o professor pode ter a iniciativa de pensar um projeto didático, por exemplo, de reescrita das histórias favoritas de um grupo. Esse projeto se articula ao propósito maior de assegurar o direito de todos aprenderem a ler e a desfrutar dessa experiência. Nesse caso, ele planeja de modo a considerar os objetivos compartilhados com as crianças, além de seus próprios objetivos didáticos, os que ele espera que as crianças aprendam. As crianças podem se envolver na produção de livros para doar ao acervo da escola ou para promover uma troca entre as salas, para compartilhar os livros favoritos de cada turma.

Mas essa não é a única possibilidade didática. Ele também pode ter a iniciativa de planejar atividades permanentes6 como, por exemplo, ler todos os dias para as crianças na roda. Nesse caso, ele planeja uma ação regular tendo em vista a necessidade de criar familiaridade das crianças com determinadas práticas e desenvolver o hábito da leitura. Pode, ainda, por exemplo, favorecer às crianças a apropriação de um conhecimento mais pontual, por exemplo, uma sequência didática sobre determinado autor de histórias ou tipos de personagens que ele cria, conhecimentos úteis a um escritor iniciante.

Um funcionamento sistêmico

A articulação de instrumentos que incidem em diferentes planos de realização de uma escola deve favorecer uma visão sistêmica.7 Essa abordagem revela a ideia de que, para se compreender um
problema, são necessários vários conhecimentos para além da área especifica, a partir de diferentes perspectivas. Por exemplo, para compreender os problemas de aprendizagem dos alunos – que é uma das maiores demandas da escola – não se pode olhar apenas para o que acontece no momento em que o aluno recebe a comanda didática do professor. É preciso conhecer todo o seu entorno: as questões do funcionamento da escola em que ele está e nas condições que ela criou para que os professores pudessem trabalhar de modo mais eficiente. Para enfrentar esse problema é preciso, então, compreender todas as suas facetas: o aspecto pedagógico da sala de aula, a coordenação pedagógica e formação de professores e a gestão da escola com todos os seus espaços e dinâmicas educativas que extrapolam a sala de aula. Uma mudança exige mexer em todo o sistema e não apenas em um ponto isolado.


6 As modalidades de organização do tempo didático – projetos, atividades permanentes e sequências de atividades – são claramente explicadas por Delia Lerner no livro É possível ler na escola: o real, o possível e o necessário para a alfabetização. Porto Alegre: Artmed, 2002
7 Para conhecer mais experiências dessa natureza, consulte os projetos desenvolvidos pelo Instituto Avisa Lá, divulgados em sua revista: o Programa Rede em Rede, da Secretaria Municipal de Educação (SME) de São Paulo, e o Programa de formação da SME de Jundiaí, ambos coordenados pela professora Zilma de Oliveira.

E é nesse contexto de uma visão sistêmica do trabalho que algumas questões têm sido colocadas:
O projeto institucional pode integrar projetos didáticos? Os projetos didáticos podem gerar projetos institucionais?8

O projeto institucional, por sua própria natureza, como proposta de intervenção no espaço educativo, necessariamente envolve os alunos. Aliás, essa é uma das suas mais importantes características: ainda que as ações sejam de macroestrutura, sua razão de ser é sempre a qualidade das aprendizagens das crianças. De um jeito ou de outro, o projeto chega às crianças. E de um jeito ou de outro, ele também chega aos diferentes educadores, do porteiro aos professores, que precisam se engajar e compreender as mudanças. Os professores, muitas vezes, aproveitam o contexto de reflexão e de mudanças provocadas pelos projetos institucionais para contextualizar seus projetos didáticos.

Mas isso não é uma regra, pois nem sempre as ações do projeto institucional chegam às crianças por meio do projeto didático. Por exemplo, uma diretora pode levar à frente o projeto institucional que visa melhorar a hora do almoço na creche e assegurar condições de autonomia para que as próprias crianças possam se servir e escolher com quem desejam se sentar na hora da alimentação. Em algum momento isso terá que ser discutido com as crianças: o modo como devem se organizar no novo ambiente, a importância de provar todos os tipos de alimentos; procedimentos que evitem o desperdício etc. Tudo isso é conteúdo educativo, embora não resulte em projeto didático. Uma conversa com as cozinheiras e o acompanhamento das professoras no horário do almoço são ações suficientes para esse propósito.

Alguns encaminhamentos didáticos – não necessariamente projetos, mas também outros tipos de atividades sequenciadas ou permanentes – muitas vezes demandam de seus gestores projetos institucionais. Uma instituição que sabe usar bem seus instrumentos de trabalho pode, inclusive, antecipar as demandas pedagógicas para o plano institucional. Por exemplo, se uma turma está envolvida em organizar rodas de leitura para favorecer a prática de ler histórias e, dessa forma, constituir o hábito e os comportamentos leitores, é de se esperar que os livros circulem entre elas. E se a escola não tem esses livros? E se os livros não são adequados ou não estão acessíveis? E se, na própria escola, não houver um só espaço que seja valorizado para a prática de ler por prazer, nem entre crianças, nem entre funcionários? Se nada disso existe no entorno da criança, como será possível formar leitores? Nesse caso, será preciso empreender um projeto institucional que tenha como objetivo não apenas criar espaços para os livros, mas, principalmente, fomentar a prática da leitura, constituindo uma comunidade referencial de leitores para as crianças que ingressam nesse mundo.


8 Perguntas enviadas pela coordenadora Karla Regina Pereira Oliveira, da SME de Cajamar, assídua participante de nossos cursos online.

♦ Projeto educativo da escola – garantir o direito, entre outros, de aprender a ler e gostar de fazê-lo nas diferentes situações.
♦ Projeto institucional que visa à formação da comunidade leitora dentro e fora da escola.
♦ Projeto de formação que visa aprofundar o olhar para o planejamento da atividade de leitura pelo professor e o reconto das crianças e o que elas podem aprender com isso.
♦ Atividade permanente de roda de leitura pelo professor e trabalho de reconto com as crianças.

Em unidades muito pequenas, geralmente se desenvolve um só projeto institucional e de formação
no decorrer de um período. Nas escolas grandes, como a maioria das unidades de Ensino Fundamental de São Paulo, por exemplo, em que muitas vezes pode-se contar com mais de um coordenador pedagógico e muitos grupos de professores, é possível pensar na articulação de mais de um projeto ao mesmo tempo. A medida dos projetos, sua quantidade e duração são definidas em função das necessidades da escola e de suas metas.

Como se pode ver, articular tudo isso e colocar a escola para funcionar de modo organizado e em
favor do avanço da aprendizagem e do desenvolvimento de todos, não é simples! E colocar tudo isso
em prática constitui o trabalho de um bom gestor, aquele que destina a maior parte de seu tempo e os
esforços de sua equipe na gestão dos projetos que fazem uma instituição ser realmente uma escola.

Posted in Revista Avisa lá #57.