A formação continuada em uma instituição de educação envolve todos os profissionais que nela trabalham, e não apenas os professores. Neste artigo, o acesso democrático à cultura foi o mote para um projeto que envolveu as equipes de apoio de dois centros de educação infantil da capital paulista
Dirigir uma instituição de Educação Infantil significa gerenciar diferentes projetos de formação que, embora tenham todos um objetivo comum – o de proporcionar uma Educação de qualidade para as crianças – trabalham de forma específica com os diferentes atores. A parceria entre gerentes e/ou diretores e coordenadores pedagógicos que planejam juntos as ações de formação garante harmonia e coerência da proposta educativa como um todo. Exemplificando essa atuação conjunta apresentamos o Projeto de Ampliação Cultural para as equipes de apoio (auxiliares de limpeza e de cozinha) e educadores dos Centros de Educação Infantil (CEIs) Dom José Gaspar e Isabel Ribeiro, na capital Paulista, que teve como objetivos, o acesso aos equipamentos culturais da cidade, e propiciar maior habilidade com a leitura e a escrita, visando uma melhor integração com a atuação da área pedagógica.
Trabalho para as equipes de apoio
Aproveitando o aniversário de 450 anos de São Paulo, em 25 de janeiro 2004, nós, as gerentes Maristela e Elizabeth, elaboramos uma série de visitas a marcos culturais da cidade. Ao Pátio do Colégio e as suas imediações: Catedral da Sé, Solar da Marquesa e Mosteiro São Bento, etc. As exposições Picasso, na Oca, no Parque do Ibirapuera; (Re)conhecendo o Centro e O Acervo do Solar Crespi Prado, ambas no Museu da Casa Brasileira; A Escrita da Memória, no Espaço Cultural Banco Santos.
Além de visitar os locais, as equipes informavam-se previamente sobre o assunto a ser conhecido, realizando pesquisas sobre textos e informes relativos ao tema enfocado. As visitas aos locais históricos e à exposição O Acervo do Solar Crespi Prado, no Museu da Casa Brasileira, ofereceram a possibilidade das profissionais conhecerem os hábitos, utensílios, móveis e o cotidiano da vida brasileira de outros tempos, confrontando-o com a organização e o modo de vida atual. Em seus relatos, vemos como chamou-lhes a atenção a beleza dos móveis antigos, das pratarias e os modos de decoração de outrora.
Todos os locais visitados eram desconhecidos das profissionais das equipes de apoio, embora fossem moradoras da cidade de São Paulo. Muitas delas afirmaram não ter coragem de sair de casa para visitar esses lugares, vistos como muito distantes e diferentes daqueles que estavam acostumadas a ir. Esta etapa do projeto também as colocou em contato com novos horizontes, abrindo-lhes a possibilidade de vir a freqüentá-los por conta própria, acompanhadas de familiares e amigos. Embora esta etapa fosse bem interessante, o projeto não se esgotava aí, pois era necessário que todo esse conhecimento fosse transmitido aos educadores da creche, às crianças e aos pais.
Colocando-se no lugar de educadoras
O trabalho com a leitura e a escrita para além do específico da função é uma inovação, já que normalmente os profissionais de apoio lêem e escrevem só o relacionado a sua atuação nos Centros Educacionais. Promovemos, então, situações em que a escrita fosse essencial para que as equipes de apoio socializassem com os colegas e a comunidade o que haviam visto e aprendido. A cada saída ou visita a um museu, um relatório escrito era elaborado e compartilhado entre todas as pessoas das instituições. Além das informações obtidas a partir das visitas, as equipes de apoio também liam informes explicativos sobre o local a ser visitado.
Após a escrita desses relatórios individuais, o grupo se reunia e preparava uma versão final, coletiva, discutida e revisada por todos. Um outro aspecto importante nesse contexto de socialização do que havia sido visto pelas equipes de apoio relacionou-se a confecção de cartazes para a exposição final do projeto para a comunidade dos CEIs. Houve uma pesquisa a respeito das características desse tipo de suporte: o cartaz, passando pela especificidade do texto, mas também pela sua concepção gráfica. Toda a equipe mostrou-se muito envolvida na produção dos cartazes.
O resultado foi muito bom, com belas imagens criadas pelas profissionais e textos muito coerentes com o assunto abordado e com as características desse portador. A apresentação do projeto à comunidade dos CEIs colocou o pessoal das equipes de apoio num lugar especial: elas puderam experimentar o papel de educadoras, socializando para as colegas, crianças e pais o que haviam aprendido. Certamente isto também colaborou para que houvesse uma melhora da auto-estima dessas profissionais. Sentimos que houve ainda um maior envolvimento das equipes de apoio em seu trabalho a partir desse projeto. Procuraram ler e saber mais a respeito dos assuntos relacionados ao seu cotidiano nos Centros de Educação Infantil.
(Elizabeth P. W. Elias e Maristela de Fátima Bueno, gerentes administrativas dos CEIs Dom José Gaspar e Isabel Ribeiro, respectivamente, ambos na cidade de São Paulo)
Ampliação Cultural das Equipes de Apoio
Justificativa
Os núcleos de Vila Morse e Monte Kemel percebendo a necessidade de integração de todos os seus profissionais no trabalho de formação e no projeto pedagógico de seus Centros Educacionais, iniciaram um programa de ampliação cultural para os funcionários de suas equipes de apoio envolvendo o pessoal da cozinha, limpeza, secretaria e saúde. O trabalho – iniciado em 2003 e intensificado em 2004 – contou com uma série de visitas a locais históricos da cidade de São Paulo, museus e exposições. Além da ampliação cultural, agregou-se a este projeto um trabalho com a leitura e escrita atrelado à obtenção de informações a respeito dos lugares visitados e à transmissão do conhecimento adquirido para toda a comunidade dos dois Centros Educacionais.
O projeto institucional mostrou-se muito importante também no resgate da auto-estima dos funcionários das equipes de apoio. Sentiram-se valorizados obtendo e repassando conhecimentos, atraindo os olhares de toda a instituição.
Objetivo geral
A proposta da coordenação dos núcleos de Vila Morse e Monte Kemel é ampliar o universo cultural dos funcionários, contribuindo para maior integração social e educacional, e despertar para a importância da leitura e da escrita.
Objetivos específicos
- Conhecer museus e/ou fundações que promovam eventos culturais
- Estimular as equipes para a leitura de textos informativos sobre os locais que serão visitados
- Ajudar a equipe a registrar o que foi interessante na visita através de atividades individuais ou grupais
- Sensibilizar as equipes sobre a importância de cada um no processo de ampliação cultural
- Planejar em conjunto uma exposição sobre os trabalhos a serem feitos sobre as visitas
- Ajudar na autonomia da equipe, para não somente esperar pela coordenação para ampliarem o seu universo cultural. Despertar para esta necessidade e para que busquem particularmente ou no grupo familiar formas de dar prosseguimento a esta proposta
Procedimentos dos gerentes e coordenadores:
- Leitura de textos sobre os locais
- Sugerir textos para as demais equipes relacionadas ou não ao projeto de ampliação cultural
- Contactar locais para visitas gratuitas ou com preço mais acessível
- Programar registros fotográficos e escritos para cada encontro
- Colher opiniões da equipe de apoio após as visitas através de registros escritos ou artísticos
Programar os encontros de formação:
- Equipe setor saúde/administrativa
- Leitura de textos
- Registro por escrito ou em outro formato com a coordenação e equipe de apoio
Equipe de apoio:
- Leitura de textos
- Registro dos dados por escrito ou de outro formato após cada visita
- Participação nos encontros de integração (formação) com a coordenação e equipe de saúde/ administrativa
Ficha técnica
Programa Capacitar Educadores – Iniciativa: Instituto C&A
Responsabilidade Técnica: Instituto Avisa Lá
Realização:
CEI Isabel Ribeiro
Rua Eusébio da Costa Braga, 66 – Monte Kemel
São Paulo – SP. CEP: 05632-060
Tel.: (11) 3746-8321. E-mail: irmontekemel@terra.com.br
Equipe Gerente: Maristela de Fátima Bueno
Coordenadora pedagógica: Antonia Ferreira dos Santos
Creche D. José Gaspar
Rua: Áurea Batista dos Santos, 703 – Vila Morse
São Paulo – SP. CEP: 05623-000
Tel.: (11) 3742-7625. Email: vilamorse@terra.com.br
Equipe Gerente: Elizabeth P. W. Elias
Coordenadora pedagógica: Rosimeire Rodrigues
Para saber mais
- Museu da Casa Brasileira – Av. Brigadeiro Faria Lima, 2.705 – São Paulo – SP. CEP: 01451-000 – Tel.: (11) 3032-3727 / 3032-2564 / 3032-2499. E-mail: difusao@mcb.sp.gov.br
- Pátio do Colégio – Praça Pátio do Colégio, 2 – São Paulo – SP. CEP: 03192-220 – Tel.: (11) 3105-6898 / 3105-6899. Site: www.pateodocollegio.com.br
- Parque do Ibirapuera – Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega – Avenida Pedro Álvares Cabral, acesso pelo portão 10. Tel.: (11) 5579-0593.
Sites
- www.socultura.com.br
- www.prefeitura.sp.gov.br
- www.mcb.sp.gov.br
- www.bb.com.br/appbb/portal/bb/ctr/index.jsp
- www.itaucultural.org.br