Está no almanaque?

Crianças de Osasco-SP avançam na leitura e na escrita ao participar do Projeto Almanaque. Tão rica e colorida quanto o produto final foi a aventura de produzi-lo: juntas, as crianças puderam pesquisar, ditar, escrever, revisar, ilustrar e editar a publicação

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Este é o registro do Projeto Almanaque1, um projeto sobre leitura e escrita de textos de gêneros diversos por meio da confecção de um almanaque, realizado com crianças de 6 anos, em 2004. Idealizar este projeto, planejá-lo em detalhes, participar de formações que foram fonte de subsídios e avaliá-lo constantemente foi um prazer, mas nada comparado à alegria dos resultados com as crianças. Com ele, venci dois desafios que há anos vinha tentando superar: o de compreender como um propósito social pode se articular aos propósitos didáticos e o de trabalhar leitura e escrita de forma significativa em pequenos grupos, aproveitando os conhecimentos prévios das crianças.

Escrevi originalmente o projeto com a ajuda da minha parceira Ana Paula. Depois da orientação da coordenadora da escola, de alguns estudos sobre o tema e de muitas dicas que foram surgindo durante as formações das quais participei, ele foi modificado muitas vezes de acordo com as necessidades das crianças e do conteúdo.

Para quê?
A ânsia das crianças em dominar o sistema alfabético de escrita, tão característica da última etapa da Educação Infantil, pode ser um combustível precioso para que elas mantenham o interesse no aprendizado da língua. Além de aprender a escrever, compreendendo como o sistema alfabético se organiza, é preciso que a criança seja uma usuária da língua escrita. Portanto, que tenha uma alfabetização ampla.

Para chegar a este projeto, troquei muitas idéias com minhas parceiras de trabalho, dividindo impressões, sucessos e fracassos. Participei de formações. Lembrei-me de experiências anteriores, li e pensei muito sobre o assunto. Havia a necessidade de descobrir, primeiramente, o que seria interessante o meu grupo aprender sobre leitura e escrita. E, a partir disso, como iria ensiná-los de maneira significativa. Retomei a avaliação do último projeto que tinha feito, no qual, apesar das conquistas, reparei que faltavam ainda passos importantes. Eu tinha alunos que já produziam uma escrita alfabética, e outros que estavam avançando nesse caminho, assim como aqueles que estavam tentando apreender o que são letras e para que servem. Mas, em todos eles, eu via dois problemas comuns: a dificuldade de criar um texto, ainda que fosse coletivamente, e a quase ausência de referências sobre textos informativos.

Tomada de decisões

A razão pela qual fizemos um projeto e não qualquer outra modalidade organizativa é que, nesse tipo de atividade, os alunos aprendem a estudar, uma vez que precisam realizar um produto que é compartilhado com eles desde o início. E estudar implica tomar decisões, perguntar, decidir caminhos, ler e pesquisar muito, e depois registrar os conhecimentos construídos. No projeto, depois de ter um contato intenso com almanaques durante as rodas de leitura e outras atividades para conhecer bem as características deste tipo de portador de texto, as crianças tiveram que decidir muitas coisas: como e onde poderíamos recolher materiais de leitura e pesquisa? Qual o tema do almanaque? Que seções ele teria? Como seria impresso? Que textos seriam digitados? Quais seriam escritos à mão? Quais textos lidos seriam incluídos? Como seria feita a capa? Como faríamos o lançamento?

Recolhendo as idéias e afirmando-as ou descartando-as por meio de votação, fomos decidindo juntos os jeitos do nosso almanaque. A partir das decisões deles, fui formulando atividades e encaixando meus propósitos didáticos nas coisas que escolheram realizar. Muitas vezes, fiz o papel do adulto que conhece a realidade, dando a eles parâmetros temporais e financeiros (por exemplo, esclareci que seria inviável fazer um almanaque do ano inteiro, ou com mais de 30 páginas). Apoiada pelas decisões do grupo, negociei com os pais e com a direção da escola detalhes para que tudo saísse o mais próximo possível do jeito que eles imaginaram o livro. O resultado é que as crianças se sentiram donas do almanaque e cada atividade teve um alto grau de participação.
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Investigando o almanaque
Aprender a pesquisar é um dos principais objetivos de um projeto didático. No caso do almanaque, tínhamos dois estimulantes problemas. O primeiro é que não se fazem mais almanaques como se fazia antigamente, portanto, é um tipo de livro de difícil circulação. E o segundo, que as crianças não tinham a menor idéia do que era um almanaque, e para que ele servia. Fizemos vários tipos de pesquisas, as quais nos ajudaram a reunir material de leitura relativo ao portador de texto que queríamos construir. Elaboramos uma entrevista de reconhecimento, na qual perguntávamos o que era almanaque, para que ele servia e qual a relação do entrevistado com este portador.

Entrevistamos os adultos da escola e os pais, lemos todas as pesquisas recolhidas. Pedimos também às famílias e funcionários da escola que enviassem almanaques que tivessem em mãos. De posse de alguns exemplares, começamos a ler, folhear, reconhecer o portador e reparar que tipo de textos e ilustrações eles continham. Juntamos, minha parceira e eu, vários tipos de livros – dicionários, manuais, catálogos, enciclopédias, revistas – e misturamos a alguns almanaques, para que as crianças, usando das estratégias de leitura que dominavam, conseguissem destacar os almanaques dos outros tipos de publicação. Em vários momentos da confecção do almanaque, pedimos auxílio às famílias para que nos enviassem material sobre um tema específico ou colaborassem nas entrevistas.

Produção de textos coletivos
Sabemos que, para escrever, a criança precisa concentrar-se em dois aspectos da língua – o discursivo (o que vai escrever) e o notacional (como vai escrever). Crianças em fase de construção do sistema alfabético da escrita, muitas vezes, não conseguem dar conta de pensar nos dois aspectos ao mesmo tempo. Como uma das preocupações durante o projeto era oferece oportunidades para que as crianças pudessem refletir sobre as duas questões, elaboramos vários textos coletivos, recurso excelente para esse objetivo. A atividade de ditar um texto para um escriba (no caso, eu ou um colega que já escreve alfabeticamente) livra a criança de se preocupar com que letras ela vai escrever e faz com que ela pense nas características de um bom texto. Quais informações precisamos colocar? O que vamos escrever primeiro? Estamos sendo claros? Estamos repetindo palavras? O texto está comprido ou curto demais? Estamos contando uma história ou dando uma informação?

Aproveitamos um texto do semestre anterior, que preparamos para o nosso sarau poético, sobre a pintora Tarsila do Amaral2, que se tornou querida das crianças. Adaptamos o texto para o almanaque, escrevendo-o na lousa e o revisando-o coletivamente. Redigimos um texto falando sobre direitos das crianças, outro falando sobre trabalho infantil, outro sobre o cata-vento (que foi retirado de uma vivência com construção de brinquedos), todos escritos coletivamente, com as crianças ditando e eu escrevendo. Eu registrava a fala literal das crianças na lousa e depois revisávamos juntos, completando o texto ou modificando-o.

Um momento interessante foi a produção das fichas de personagens da mitologia grega, que virou uma paixão das crianças depois da leitura da Odisséia3 em capítulos. Nesse caso, usamos dicionários de mitologia, livros e sites na Internet para recolher informações. Depois, cada criança escolheu um personagem e me ditou um pequeno texto sobre ele, individualmente. O último texto feito para o almanaque foi o texto introdutório. As crianças me ditaram e praticamente não foi preciso fazer muitas alterações na sua escrita, o que provou que elas se habituaram a esse tipo de atividade, tinham entendido as características do texto informativo e conheciam bem o almanaque que tinham produzido.
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Poemas memorizados
Se as crianças já conhecem um texto de memória, isto garante que na hora de escrever elas só se preocuparão com as letras necessárias – o que permite que confrontem suas hipóteses sobre como se escreve e avancem em seus conhecimentos. Como fazia parte das minhas preocupações garantir que as crianças tivessem muitas oportunidades de pensar sobre como o sistema alfabético se organiza, trabalhei também com textos memorizados. No semestre anterior, elas tinham feito um trabalho intenso com poemas e sabiam vários de cor. O mesmo acontecia com algumas letras de música, adivinhas e ladainhas para pular corda, que foi a brincadeira escolhida para compor o almanaque.

Propus então que escrevessem esses textos, pois assim poderiam refletir sobre quantas e quais letras usar para escrever. Neste tipo de atividade, o trabalho em grupo mostrou-se mais eficiente. As crianças trocaram muitas idéias e aprenderam muito umas com as outras. Existiam confrontos que, vindos de mim, não faziam sentido para elas, mas se vinham de um amigo pareciam surtir um efeito mágico. Algumas vezes propus a escrita dos poemas em trios, nos quais crianças com hipóteses de escrita próximas pudessem trabalhar juntas. Em outro momento fazíamos a revisão e uma criança alfabética passava o texto a limpo. A letra da música Criança Não Trabalha4 foi uma atividade de leitura, mas a escrita final foi feita por um grupo de crianças alfabéticas, que confrontaram entre si preocupações ortográficas e de correção das palavras. Foi também uma atividade muito interessante.

As adivinhas foram escritas por duplas e, ao longo do projeto, as crianças retomaram várias vezes os textos escritos para corrigi-los ou modificá-los. As ladainhas de corda, por sua vez, foram escritas mais no final do projeto. Muitas crianças já tinham avançado em suas hipóteses, por isso deixei que uma delas copiasse o texto coletivo da lousa e outras o ilustrassem.

Outros recursos
Àquelas crianças que pareciam ter parado na hipótese silábica, eu recorria ao alfabeto móvel para provocar reflexão e fazer com que avançassem um pouco mais em suas idéias. O alfabeto móvel é outro recurso que permite à criança pensar exclusivamente nas letras que precisa escolher para escrever. Ele possibilita que se façam tentativas ao adicionar, trocar ou retirar letras. Sempre em grupo, eu propunha que escrevessem e discutissem sobre suas hipóteses de escrita.

Como nunca havia trabalhado com o alfabeto móvel dessa forma, me surpreendi com as possibilidades do material. Com ele, escrevemos listas de caça-palavras, de coisas que as crianças gostam de comer, palavras para montar cruzadinhas, muitos títulos, correção de palavras, nomes de ingredientes das receitas, instruções para os passatempos, entre outros. O recurso da cópia – muitas vezes visto como símbolo de atividade descontextualizada e pouco criativa – também foi bastante útil para algumas produções. Foi usado, por exemplo, para fazermos o calendário, uma vez que já tínhamos discutido e decidido que os temas dos textos do almanaque seriam relacionados às datas do mês de outubro. Também usamos a cópia para retirar o conteúdo da lousa e passar para o papel os textos coletivos, assim como para escrever títulos revisados, enunciados de propostas (como foi feito com os direitos que foram criados para as crianças), legendas e numeração das páginas.
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Escrever e revisar
Quando valorizamos a escrita da criança, ela mostra-se motivada a escrever mais e mais, sentindo-se segura para arriscar e até duvidar de suas hipóteses – percebi isso claramente com essas atividades, nas quais as crianças que não gostavam de demonstrar seus saberes, não se preocuparam com isso e deixaram a escrita fluir. Após a escrita, passamos à revisão dos textos produzidos. Se, ao confrontar suas hipóteses, a criança avança na compreensão de como a língua escrita se organiza, o trabalho de revisão tem outros ganhos muito importantes.

O primeiro é entender como se comporta um escritor que escreve, e depois lê o que escreveu pensando se atingiu o propósito de comunicar suas idéias, revendo erros e estilo, deixando o texto mais bonito, mais claro e mais próximos às intenções iniciais. O segundo é compreender mais a fundo os aspectos notacionais e discursivos da língua. Confesso que não sabia bem como encaminhar uma revisão no início do projeto, por isso escolhi apenas algumas atividades para atingir esse objetivo. Uma delas foi a revisão das adivinhas.

As crianças, semanalmente, voltavam ao texto que tinham escrito, nas mesmas duplas, e com a minha ajuda podiam repensar o que haviam colocado no papel. Todos os textos coletivos foram revisados na lousa. Alguns títulos e instruções foram revisados, pois concordamos que eram textos importantes para a compreensão do que é um almanaque. Com as crianças alfabéticas, fiz várias revisões ortográficas, principalmente na atividade da escrita da música Criança Não Trabalha. A atividade na qual o trabalho de correção foi mais intenso foi na produção das dicas de livros infantis. As crianças tiveram que passar por um processo de escrita, em que, primeiro, bolaram o texto oralmente em duplas de alfabéticos com silábico-alfabéticos. Depois, registraram o texto. Trabalhei com cada dupla na revisão e correção. Depois, eles passaram a limpo, deixando as dicas bem escritas.

Leitura sempre presente
Além das rodas de leitura diárias e das outras atividades da rotina, as crianças tiveram oportunidade de ler por meio de atividades dirigidas. O intuito era desafiá-las a usarem suas estratégias de leitura. Em alguns momentos, a leitura foi feita por mim, a professora. Li para eles, por exemplo, a Odisséia, em capítulos na roda e depois escrevi o resumo de uma das partes para que eles ilustrassem. Li as pesquisas e informações que chegavam sobre os diversos temas que trabalhamos e também materiais de pesquisa sobre as datas comemorativas, sobre mitologia e reportagens sobre trabalho infantil. Todos os dias, lia para eles uma piada e uma curiosidade sobre um animal. Uma criança se encarregou de anotar numa lista as curiosidades que mais gostamos, para ilustrá-las depois.

Houve também momentos de leitura coletiva, quando todos tiveram nas mãos as letras das músicas que trabalhamos e tentaram acompanhar cantando:

Ó menina vai ver nesse almanaque
Como é que tudo isso começou
Diz quem é que marcava o tic-tac
Que a ampulheta do tempo disparou
Se mamava de sabe lá que a teta
O primeiro bezerro que berrou me diz, me diz
Me responde por favor
Prá onde vai o meu amor
Quando o amor acaba
Quem penava no sol a vida inteira
Como é que a moleira não rachou
me diz, me diz
Quem tapava esse sol com a peneira
E foi que a peneira esfuracou
Me diz, me diz, me diz por favor
Quem pintou a bandeira brasileira
Que tinha tanto lápis de cor me diz, me diz
Me responde por favor
Prá onde vai o meu amor
Quando o amor acaba
Diz quem foi que fez o primeiro teto
Que o projeto não desmoronou
Quem foi esse pedreiro esse arquiteto
E o valente primeiro morador, me diz, me diz
Me diz um morador
Diz quem foi o inventor do analfabeto
E ensinou o alfabeto ao professor
me diz, me diz
Me responde por favor
Prá onde vai o meu amor
Quando o amor acaba
Quem é que sabe o signo do capeta
E o ascendente de deus nosso senhor
Nosso senhor
Quem não fez a patente da espoleta
Explodir na gaveta do inventor me diz, me diz
Me diz por favor
Quem tava no volante do planeta
Que o meu continente capotou
Me responde por favor
Prá onde vai o meu amor
Quando o amor acaba
Vê se vê no almanaque, essa menina
Como é que termina um grande amor
Me diz, me diz
Se adianta tomar uma aspirina
Ou se bate na quina aquela dor
Me diz, me diz
Me diz daquela dor
Se é chover o ano inteiro chuva fina
Ou se é como cair do elevador
Me responde por favor
Prá que que tudo começou
Quando tudo acaba… 5

Desenvolvemos paralelamente a atividade “Hoje eu sou o contador”, na qual as crianças levavam um livro para a casa, e depois contavam ou liam para os amigos.
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Mundo de ilustrações
As ilustrações do almanaque foram feitas das mais diversas formas. Partimos da idéia de que ilustrar não é só enfeitar um texto com imagens. É também comunicar, por meio da linguagem visual. No início do projeto, dei a cada um deles uma folha com vários quadradinhos, que ficou numa caixa. Durante o horário dos cantos de atividades diversificadas, eles podiam pegar essa folha e ir fazendo desenhos pequenos, que depois aproveitaríamos.

No final, decidimos usar os minidesenhos na capa e nas bordas das folhas do almanaque. Assim, todas as crianças puderam ter sua produção no livro. Para fazer a ilustração da história Odisséia, por exemplo, pedi que as crianças que quisessem poderiam fazer um desenho em casa e trazer para a escola. O resultado foi ótimo. As crianças trouxeram desenhos lindos, que em alguns casos foram até feitos em colaboração com outras pessoas da família. Votamos e escolhemos alguns para compor o almanaque.

As ilustrações para colorir foram feitas pelas crianças apenas com lápis, assim como as ilustrações que viraram ligue-pontos para o passatempo. Para ilustrar o texto instrucional do cata-vento, as crianças tiveram que pensar em como fazer o desenho do passo-a-passo que iria elucidar o texto. Foi muito interessante ver sua preocupação com o leitor. Os desenhos dos personagens de mitologia grega e dos direitos das crianças também ficaram com muitas cores e detalhes.

Para fazer os desenhos das curiosidades, as crianças levaram como lição de casa uma curiosidade que teriam que ler, e depois ilustrar usando recortes e desenho. Já no final do projeto, uma das crianças sugeriu que fizéssemos figurinhas para as pessoas recortarem. Eles fizeram figurinhas muito bonitas, cheias de detalhes, dos personagens que mais gostavam.

Hora de editar
A fase de edição do material todo foi a mais complicada, mas também a mais prazerosa. Foi a hora de retomarmos tudo o que tínhamos feito e arrumar para publicar. As crianças e eu estávamos ansiosas, e cheias de idéias. Foi muito difícil descartar materiais. Corremos contra o relógio, mas no fim tudo acabou dando certo. Nessa fase, produzimos a capa do almanaque, colando os minidesenhos das crianças. Da mesma forma, nas folhas do almanaque as bordas também foram ilustradas com os pequenos desenhos. Na página dos autores ficaram o nome e a foto de cada um e as legendas de algumas fotos. Pedimos para escanear e diminuir alguns textos e desenhos, e depois recortamos, colamos e passamos canetinha preta nos traços e nas letras que haviam ficado ilegíveis. Eu fiz o índice, por questões de tempo. Numeramos as páginas, imprimimos, separamos e encadernamos as folhas.

As crianças quiseram fazer uma grande festa de final de ano para entregar o almanaque. Usamos o teatro da escola e, para isso, convidamos as famílias e amigos. Curtimos muito ver um trabalho tão longo e que demandou tanto esforço, ali, pronto para ser lido. Foi uma festa bem animada.

(Karina Cabral, psicóloga e professora de Educação Infantil no Serviço Social da Indústria (SESI), Unidade de Osasco, e na EMEI Jardim Monte Belo, em São Paulo)

1O Projeto Almanaque ficou entre os 50 classificados na primeira etapa do Prêmio Victor Civita 2005 – Professor Nota 10. www.revistaescola.abril.com.br.
2Pintora brasileira, 1886 – 1973.
3Ruth Rocha conta a Odisséia, Ruth Rocha. Ed. Cia. Das Letrinhas.
4CD Pé com Pé, de Sandra Peres e Paulo Tatit. Produção: Ricardo Mosca. Gravadora: Palavra Cantada.
5Almanaque, Chico Buarque de Holanda, Álbum Almanaque, 1993. Gravadora Universal
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Sentido da leitura na escola

Na escola, a leitura é antes de mais nada um objeto de ensino. Para que também se transforme em objeto de aprendizagem, é necessário que tenha sentido do ponto de vista do aluno, o que significa – entre outras coisas – que deve cumprir uma função para a realização do propósito que ele conhece e valoriza. Para que a leitura como objeto de ensino não se afaste demais da prática social que se quer comunicar, é imprescindível “representar” – ou re-apresentar –, na escola, os diversos usos que ela tem na vida social.

Em conseqüência, cada situação de leitura responderá a um duplo propósito. Por um lado, um propósito didático: ensinar certos conteúdos constitutivos da prática social da leitura, com o objetivo de que o aluno possa reutilizá-los no futuro, em situações não didáticas. Por outro lado, um propósito comunicativo relevante desde a perspectiva atual do aluno. Trata-se então de pôr em cena esse tipo particular de situação didática que Brousseau6 (1986) chamou de a-didáticas” porque propiciam o encontro dos alunos com um problema que devem resolver por si mesmos; porque funcionam de tal modo que o professor – embora intervenha de diversas maneiras para orientar a aprendizagem – não explicita o que sabe (não torna público o saber que permite resolver o problema) e porque tornam possível criar no aluno um projeto próprio, permitem mobilizar o desejo de aprender de forma independente do desejo do professor.

No caso da leitura (e da escrita), os projetos de interpretação-produção organizados para cumprir uma finalidade específica – vinculada em geral à elaboração de um produto tangível –, projetos que já são clássicos na didática da língua escrita, parecem cumprir as condições necessárias para dar sentido à leitura. Agora, os projetos devem ser dirigidos para a realização de alguns (ou vários) dos propósitos sociais da leitura: ler para resolver um problema prático (fazer uma comida, utilizar um aparelho, construir um móvel); ler para se informar sobre um tema de interesse (pertencente à atualidade política, cultural, etc., ou ao saber cientifico); ler para escrever, quer dizer, para produzir o conhecimento que se tem sobre o tema do artigo que a pessoa está escrevendo ou a monografia que se deve entregar; ler para buscar informações especificas que se necessitam por algum motivo – o endereço de alguém ou o significado de uma palavra por exemplo.

Os projetos vinculados à leitura literária se orientam para propósitos mais pessoais: lêem-se muitos contos ou poemas, para escolher aqueles que se deseja compartilhar com outros leitores, lêem-se romances, para se internar no mundo de um autor, para se identificar com o personagem predileto – antecipando, por exemplo, o raciocínio que permitirá ao detetive resolver um novo “caso” – ou para viver excitantes aventuras que permitem transcender os limites da realidade cotidiana.

(Fonte: “É possível ler na escola?” in Ler e escrever na escola – o real, o possível e o necessário, de Delia Lerner – Artmed. pp. 79 e 80.)

6O professor Guy Brousseau é um dos principais pesquisadores em didática e conhecimento matemático da atualidade.
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O que é um almanaque?

O vocábulo almanaque é de origem incerta. De acordo com a descrição de Antenor Nascentes7, a palavra deriva do árabe almanakh, lugar onde se manda ajoelhar os camelos. No baixo latim, aparece almanachus, e no baixo grego alamanakon, nome dado aos calendários egípcios. Como designação, almanaque impôs-se, com o tempo, a outras que lhe eram equivalentes (mas que isoladamente sobreviveram até ao nosso século), tais como folhinha, calendário, lunário, prognóstico ou mesmo diário.

Em algumas cortes orientais, era hábito os astrólogos presentearem os soberanos, no início de cada ano, com um almanaque. A preocupação dominante seria o fornecimento de quadros cronológicos, com a indicação do movimento dos astros, sobretudo do Sol e da Lua. O primeiro almanaque redigido em português foi o Almanaque Perdurável, que, de acordo com a Biblioteca Nacional de Madrid, data da primeira metade do século XIV. Com periodicidade (quase sempre) anual e variável número de páginas, podemos considerar o almanaque como uma publicação que se caracteriza por: Quanto aos seus objetivos: ser obra prática de fácil e permanente consulta. Quanto à sua estrutura: apresentar-se muito variada, embora as diferentes matérias se organizem segundo uma tábua cronológica ou calendário, em que se fazem anotações religiosas (festas, santos), se indicam as principais feiras e arraiais, se registram as fases da Lua. Quanto à natureza dos conhecimentos que veicula: abranger desde os dados astronômicos e meteorológicos, efemérides, ou ainda curiosidades, conselhos práticos, pequenas notas sobre acontecimentos, fenômenos ou personagens, até notas astrológicas (sobretudo o “juízo do ano”, horóscopos), anedotas, adivinhas, provérbios, quadras e mesmo algumas poesias.

(Fontes de pesquisa: www.institutocamoes.pt e www.revistaentrelivros.uol.com.br)

7Antenor de Veras Nascentes, filólogo e lingüista brasileiro, que muito contribuiu para os estudos da língua portuguesa (1886-1972).
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Poder do ditado

Ana Teberosky8 nos fala que muitos são os contextos de aprendizagem iniciais de alfabetização em que alguns fatores como a presença de materiais escritos, a interação com leitores/escritores adultos ou participação em atividades de uso da linguagem escrita são condição para a qualidade das aprendizagens das crianças. Um destes contextos é o de “escrever em ‘voz alta’, ditando a um escriba”:

“Mesmo antes de o menino e a menina serem capazes de escrever por si mesmos, podem ditar para um adulto, que fará às vezes de ‘escriba’. O propósito do ditado ao adulto é o de ajudar a produzir um estilo formal da linguagem. (…) Para isso, é necessário levar em conta a diferença entre a escrita da linguagem e a linguagem escrita. Por exemplo, os meninos e as meninas distinguem entre registros formais e cotidianos, entre diferentes gêneros, e são capazes de relacionar essas diferenças com as modalidades oral e escrita. Reconhecem e produzem as formas discursivas associadas à linguagem escrita mesmo antes de serem capazes de ler ou de escrever por si próprios. Essa capacidade de variação e contextualização da linguagem pode ser aproveitada pedagogicamente. Dependendo do texto e dos conhecimentos dos alunos, o professor poderá fazê-los participar, em menor ou maior medida, nos diversos conteúdos e aspectos do processo de escrever.”

(Fonte: “Contextos de alfabetização na aula” in Contextos de alfabetização inicial, de Ana Teberosky e Marta Soler Gallart – Artmed, p. 63.)

8Educadora argentina e pesquisadora em alfabetização.

Para que revisar?

Um espaço privilegiado de articulação das práticas de leitura, produção escrita e reflexão sobre a língua (e mesmo a comparação entre a linguagem oral e a escrita) é o das atividades de revisão de texto. Chama-se revisão de texto o conjunto de procedimentos por meio dos quais um texto é trabalhado até o ponto em que se decide que está, para o momento, suficientemente bem escrito. Pressupõe a existência de rascunhos sobre os quais se trabalha, produzindo alterações que afetam tanto o conteúdo como a forma do texto.

Durante a atividade de revisão, os alunos e professores debruçam-se sobre o texto buscando melhorá-lo. Para tanto, precisam aprender a detectar os pontos onde o que está dito não é o que se pretendia, isto é, identificar os problemas do texto e aplicar os conhecimentos sobre a língua para resolvê-los: acrescentando, retirando, deslocando ou transformando porções do texto, com o objetivo de torná-lo mais legível para o leitor. O que pode significar tanto torná-lo mais claro e compreensível quanto mais bonito e agradável de ler.

(Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa, p. 80)

Ficha técnica

Centro de Educação Infantil no 4 – SESI – Osasco – Av. Getúlio Vargas, s/no – Jd. Piratininga – Osasco – SP. CEP: 06233-020 – Tel: (11) 3686-3140. E-mail: cei04@sesisp.org.br

Contato
Karina dos Santos Cabral – E-mail: karicabral@hotmail.com
Sites: www.mafaldacrescida.com.br e www.karicabral.blog.uol.com.br

Para saber mais

Livros

  • Almanaque Abril, Ed. Abril. À venda pelo site www.abril.com.br.
  • Almanaque Ruth Rocha, Ruth Rocha. Ed. Ática. Tel.: (11) 3990-1775.
  • Contextos de Alfabetização Inicial, Ana Teberosky e Marta Soler Gallart (orgs.). Ed. Artmed. Tel.: (51) 3027-7000.
  • Escrever na Escola – O Real, o Possível e o Necessário, de Delia Lerner. Ed. Artmed. Tel.: (51) 3027-7000.
  • Estratégias de Leitura, de Isabel Sole. Ed. Artmed. Tel.: (51) 3027-7000.
  • Guia dos Curiosos. Marcelo Duarte. Ed. Panda Books. Tel.: (11) 3088-8444.
  • Os Direitos da Criança Segundo Ruth Rocha, Ruth Rocha. Ed. Cia das Letras. Tel.: (11) 3707 3500.
  • Ruth Rocha Conta a Odisséia, Ruth Rocha. Ed. Cia. Das Letrinhas. Tel.: (11) 3707-3500

Sites

  • Almanaque Brasil de Cultura Popular – www.almanaquebrasil.com.br. Revista distribuída gratuitamente nos vôos nacionais e internacionais da TAM Linhas Aéreas. Parte do conteúdo está disponível no site.
  • Almanaque da Folha – www.almanaque.folha.uol.com.br .O site faz parte do banco de dados do jornal A Folha de S. Paulo.
  • Almanaques ou a Sabedoria e as Tarefas do Tempo – www.institutocamoes.pt/CVC/bvc/revistaicalp/almanaques.pdf – arquivo disponibilizado em site de origem portuguesa.
  • Blog Almanaque – www.almanaque.blog-se.com.br. Várias versões on-line almanaque.
  • Estatuto da Criança e do Adolescente – www.fundabrinq.org.br/redeprefeitocrianca/legis/legisla_index.htm – Estatuto na íntegra tanto para leitura como para download.
  • Mônica e o Estatuto da Criança e do Adolescente – www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm – O gibi on-line trata do estatuto da Criança e do Adolescente.
  • Palavra Cantada – www.palavracantada.com.br – O grupo produz uma música infantil moderna e ao mesmo tempo lúdica e poética.
  • Ruth Rocha – www.uol.com.br/ruthrocha – Além de brincadeiras e concursos, o site da autora de livros infantis traz histórias inéditas, escritas especialmente para a Internet
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