O circo, do mais mambembe ao mais sofisticado, continua encantando adultos e crianças. É o que constatou uma professora que levou cenas e personagens circenses para sua sala. Palhaços, trapezistas, domadores e bailarinas, tudo para alimentar o gosto pelo desenho numa interessante seqüência de atividades
Desenhar nem sempre é uma atividade prazerosa para todos. Na escola Vera Cruz, onde sou professora de crianças de 5 anos, observei que para uma parte da turma a atividade de desenho se resumia a um rabiscar rápido, sem pensar e sem apreciar, para logo se verem livres. Para essas crianças, precisávamos criar desafios reais que valorizassem o desenho como linguagem de comunicação, expressão e conhecimento. Pensamos, então, num conjunto de medidas para redirecionar o trabalho com a produção gráfica do grupo.
A primeira medida adotada no nosso planejamento foi uma atenção maior para a diversidade de materiais gráficos, suportes e propostas – colagem, pintura, técnica mista, modelagem em argila – para que as crianças pudessem explorar e desenvolver suas pesquisas gráficas, enriquecendo suas possibilidades de criação. Lembramos de deixar todo o material disponível na sala, ao alcance das crianças, facilitando o acesso e convidando-as a desenhar e explorar livremente. Nós olhávamos todos os desenhos, conversávamos sobre eles, fazíamos rodas de apreciação dessas produções e bonitas exposições nos murais da sala. Também asseguramos algumas propostas seqüenciadas para tematizar a representação da figura humana, intercalando momentos de observar e apreciar belas imagens, conhecer mais sobre elas e refletir sobre suas características e produção.
A magia do circo no traço infantil
Os personagens do circo foram os eleitos para alimentar a produção das crianças na nossa sala. Depois de observá-los nos livros e no vídeo, cada criança pode criar seus próprios personagens. Combinamos então montar um minicirco, batizado pelas crianças como Circo Sol. Todos puderam desenhar com canetinha colorida os personagens e a platéia, usando os conhecimentos adquiridos nas atividades anteriores. As belíssimas produções viraram um brinquedo bastante apreciado pelo grupo.
(Helô Pacheco, Professora da escola Vera Cruz e fundação Gol de Letra, formadora do Instituto Avisa lá)
Gente de Circo: viajantes de sonhos
Você sabia que o primeiro circo do mundo surgiu completamente por acaso? Tudo começou em 1768, quando um cavaleiro inglês, chamado Philip Astley, comprou um pequeno terreno na Inglaterra e o cercou com cordas. No meio desse círculo, Philip praticava equitação. Acontece que ele era excelente cavaleiro e montava magníficos animais. Crianças começaram a aparecer para assistir aos seus exercícios.
Animado com o entusiasmo da platéia que sempre o aplaudia, Philip começou a inventar proezas: andar a cavalo de pé, fazer exibição de saltos de obstáculos, entre outras coisas. Resultado: a platéia foi aumentando, muitos adultos foram chegando.
Divertindo-se à beça com sua nova situação de estrela, Philip treinou seu cavalo para fingir-se de morto. Inventou cenas cômicas, e todos os dias mais pessoas vinham vê-lo. Sua fama rapidamente se espalhou. Como os fãs eram muitos, Philip teve a idéia de colocar as pessoas todas de pé, formando um círculo à sua volta. Nesse exato momento, ele criava o picadeiro, reinventando a antiga tradição do circo romano, quase esquecida com o passar dos tempos. Será que isso aconteceu realmente por acaso?
Os ciganos, que sempre amaram e acompanharam os circos, diriam que não. Segundo suas tradições mágicas, o círculo é o centro da vida, o espaço dos sonhos, o lugar em que o tempo pára e os adultos podem voltar a ser crianças. Um espaço poderoso que invadiu as brincadeiras de Philip Astley, o primeiro dono de um circo de cavalinhos.
(Heloísa Prieto, texto da exposição Circo Nerino, SESC São Paulo,
1997)
Dicas do Professor – Propostas para estruturar a figura humana
Durante os estudos dos personagens circenses, a professora Helô também ofereceu às crianças outras oportunidades de desenhar, como os exemplos que vemos a seguir. Alimentadas por este estudo, cada criança criou – utilizando caneta hidrocor fina sobre quadrados de sulfite medindo 5 x 5 cm – dois ou mais rostos. No final, escolheram a melhor produção para compor o nosso jogo. Usamos as mesmas produções para montar um jogo de memória.
1. Observação de modelos
Para começar, propusemos a confecção do jogo Cara-cara, segundo o modelo industrializado da marca Estrela. O desafio desse jogo é compor um rosto, igual ao da carta sorteada, utilizando as peças disponíveis – olhos, narizes, orelhas, bigodes etc. – dentro de um tempo previsto. Então, levei essas peças para a roda, distribui entre as crianças e pedi que observassem atentamente os detalhes e as variações de chapéus, bigodes, barbas, brincos etc.
2. Desenho de corpos
Num outro momento, propusemos o desenho das próprias crianças em tamanho natural. Uma criança se deitava sobre o papel craft estendido no chão enquanto seu companheiro fazia seu contorno no papel. Sobre este suporte cada criança coloria com giz pastel e giz de cera, completando seu desenho.
3. Modelo vivo
Também apresentamos proposta de desenho com modelo vivo. Uma criança posava e as outras a desenhavam sobre papel canson, utilizando lápis preto 6B. Todos tinham que apreender os detalhes importantes antes que o modelo ficasse cansado.
4. Interferência gráfica
Em várias oportunidades, oferecemos também um rosto recortado de revista ou foto, colado sobre folha de papel sulfite. O desafio para a criança era dar continuidade a imagem. Para fazer o contorno oferecemos caneta preta futura, que tem ponta bem fina e permite maior precisão. Para o preenchimento, lápis de cor.
Dicas do professor para variar os materiais de desenho
Lápis de cor e giz de cera todo mundo conhece. São os materiais mais
utilizados nas escolas de educação infantil. Mas existe uma grande variedade de riscantes que podem ser explorados no desenho para
se conseguir resultados muito diferentes: traços mais finos, grossos, sutis, sombreados, profundos etc. Experimente alguns deles!
Giz:
- Giz de cera fino
- Giz de cera grosso
- Giz pastel
- Crayon
- Tijolinho (apropriado para crianças até 2 anos)
- Giz de lousa branco e colorido
Canetas
- Esferográficas coloridas
- Esferográficas fosforescentes
- Esferográficas ponta fina
- Paper mate ultra fine (traço muito fino)
- Paper mate futura
- Marca-texto fosforescente
- Pincel atômico
- Hidrográfica de ponta fina
- Hidrográfica de ponta grossa
- Caneta para tecido
- Caneta tinteiro
- Bico de pena de diversas espessuras
Lápis
- Lápis de cor ponta fina
- Lápis de cor ponta grossa
- Lápis aquarela (pode ser usado seco ou molhado)
- Lápis grafite 6B, 5B, 4B, 3B, 2B, B (para traço macio e escuro)
- Lápis grafite HB, F, H (para traço suave e escuro)
- Lápis grafite 2H, 3H, 4H, 5H, 6H (para traço duro e claro)
- Lápis de carpinteiro diversos
Diversos:
- Tijolo
- Telha
- Pedras
- Carvão para churrasco
- Carvão para desenho (diversas espessuras)
- Velas brancas ou coloridas
Ficha técnica:
As atividades planejadas pelas professoras Helô Pacheco e Mirtes Carvalho de Rezende foram propostas às crianças de 5 anos da Escola Vera Cruz. Escola Vera Cruz, Rua D. Elisa de Moraes Mendes, 784, Pinheiros, São Paulo, SP, 05449-001.Tel.: (11) 3021-2050. www.veracruz.g12.br
Para saber Mais
- Centro de atendimento Faber Castell. Tel.: 0800-161616. Caixa Postal 19. SP. 01059-970. Atacadista Kalunga.Tel.: 0800-195566 Misaspel.Tel.: (11) 3037-2900