Mudança de cultura em relação à preservação do ambiente pode e deve começar cedo pela incorporação de novos hábitos ao cotidiano
O projeto “Não ao desperdício” teve início em fevereiro de 2007, no Jardim de Infância do Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo – SP, e permanece até hoje. Professores e demais funcionários da escola, crianças de 2 a 6 anos e suas famílias se envolveram com o trabalho. Ele baseou-se na “Carta da Ecopedagogia”, do livro Pedagogia da terra, de Moacir Gadotti, que propõe “reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver a atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio ambiente e aos viventes e o desperdício, a poluição sonora, visual, da água e do ar. Para intervir no mundo no sentido de reeducar o habitante do planeta e reverter a cultura do descartável”. Desperdício pode ser tanta coisa. Sugere uso excessivo de água, da energia, dos alimentos. Nós, que lidamos com crianças, temos de educá-las para consumir apenas o necessário. O projeto surgiu das ideias que vêm sendo discutidas de modo geral no mundo e da preocupação da equipe docente em orientar suas turmas para uma nova realidade que se vislumbra no planeta. Muito tem se falado na mídia, porém o que tem sido feito efetivamente no dia-a-dia em casa e nas escolas sobre o assunto? Com essa questão, demos o pontapé inicial.
Adeus aos descartáveis
O objetivo central do projeto foi a conscientização de todos os envolvidos em relação às questões de consumo e desperdício. Para isso, pensamos em meios para diminuir gradualmente o uso de descartáveis, especialmente os copos. A primeira atitude foi acumular esse material durante uma semana. A intenção era quantificar os descartados naquele período e o total de lixo gerado para que principalmente as crianças pudessem ter uma dimensão mais real do problema. Marcamos um dia para não termos mais copos descartáveis na escola. Antes, porém, tudo foi combinado entre a direção e as professoras e comunicado aos pais por meio de circulares. Além disso, todos deveriam ter recipientes próprios para beber água. Boa parte cumpriu o combinado. As crianças acharam o máximo ver suas garrafinhas enfileiradas, com desenhos e formatos variados, todas disponíveis para o momento da sede.
Outras economias
Com base nessa primeira atitude, as professoras instigaram os pequenos a observar, formular hipóteses e apresentar soluções. A professora Lilia Marli de Almeida, por exemplo, mostrou à sua turma do Jardim 1 (crianças de 4 anos) que era possível diminuir o lixo de papel adotando toalhinhas de mesa plastificadas que poderiam ser aproveitadas várias vezes em vez de toalhas de papel. Para quantificar o desperdício, foi adotado o mesmo procedimento dos copos. Os pequenos juntaram todas as toalhas por uma semana. A visão da quantidade de papel usado mobilizou as crianças.
Maria Luiza Spinello, professora do Maternal (crianças de 3 anos), construiu brinquedos com embalagens vazias. Um tubo de pasta de dente virou um tubarão, uma garrafa PET foi transformada em pássaro; uma outra, em papagaio. Sem falar no cachorro, na galinha e nos pintinhos. E o prato de papel que virou uma joaninha? O pote de margarina transformou-se rapidamente numa tartaruga. Para acomodar todos os animais, foi criado um cantinho na sala. Com isso, todos puderam perceber que é possível construir brinquedos maravilhosos com o pouco que se tem, e as crianças aprenderam que é possível brincar e se divertir com material de sucata.
Educação para a cidadania
O projeto foi mais que uma campanha, ele significou a reorientação de diretrizes da escola. A meta da equipe de direção era manter o projeto vivo, buscando sempre incentivar novas atitudes das crianças e de todos os adultos envolvidos. Para lelamente surgiram outras ideias em relação ao uso de papel, consumo de uniformes etc. A partir dessas ideias, ações foram implantadas, como por exemplo:
- Retirada dos galões de água das classes e instalação de bebedouros.
- Uso de papel reciclado e de jornal para as atividades.
- Reutilização de papel para rascunho.
- Campanhas para incentivar a economia de água e energia.
- Reutilização dos uniformes com a implantação de um varalzinho para que as famílias possam pendurar os que não servem mais e retirar os que sirvam no momento.
Dessa forma, conforme Moacir Gadotti, acreditamos que “uma educação para a cidadania planetária tem por finalidade a construção de uma cultura da sustentabilidade […], que deve nos levar a saber selecionar o que é realmente sustentável em nossas vidas, em contato com a vida dos outros. Só assim seremos cúmplices nos processos de promoção da vida e caminharemos com sentido”. Claro que a escola sozinha não conseguirá transformar as crianças em adultos cientes de suas obrigações para com o planeta, mas pelo menos uma semente está sendo plantada.
(Renata Rendeiro, coordenadora pedagógica do Jardim de Infância do Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo – SP)
Dicas
- Uma embalagem de plástico, em contato com contaminantes óleos, graxas, colantes, solventes etc., deixa de ser reciclável.
- O plástico leva mais de 100 anos para se decompor. As boas qualidades do plástico, como durabilidade e resistência à umidade e aos produtos químicos, é que impedem uma decomposição mais acelerada.
- O papel é um produto que exige grande quantidade de água e de energia para ser produzido.
- Antes de imprimir um documento, revise-o com cuidado, para não gastar papel à toa. Reutilize envelopes, mas dê preferência ao e-mail.
- A reciclagem é um processo que começa em casa, mas continua fora dela e depende de muitos agentes. O consumidor só participa do primeiro passo da reciclagem, que é a separação do lixo.
- Separar o lixo corretamente é vital para que a cadeia de reciclagem seja bem-sucedida. A forma mais simples de fazer essa separação é isolar o lixo seco (papéis e embalagens) do lixo molhado (restos de alimentos).
- Para compactar o lixo, amasse latinhas de alumínio, garrafas plásticas (não se esqueça de tirar as tampas) e outros tipos de materiais, para que eles ocupem menos espaço.
Ficha técnica
Jardim de Infância do Esporte Clube Pinheiros – Endereço: Rua Angelina Maffei Vita, 493 – Jardim Europa – São Paulo – SP. CEP: 01455-902 – Tel.: (11) 3598-9853
Diretora: Regina Delduque – E-mail: regina@ecp.org.br
Coordenadora pedagógica: Renata Rendeiro – E-mail: renatar@ecp.org.br
Site: http://www.ecp.org.br/jardimdeinfancia/index.asp
Para saber mais
Livros
- Pedagogia da terra, de Moacir Gadotti. Ed. Peirópolis. Tel.: (11) 3816-0699.
- Paz,como se faz? Semeando a cultura de paz nas escolas, de Lia Diskin e Laura Gorresion Roizman. Fundação Vale e Unesco. Tel.: (61) 2106-3500.