Gestos de artistas e de crianças invadem espaços

VANESSA SILVA SFAIR¹


EXPERIMENTAÇÃO E INVESTIGAÇÃO APOIANDO O TRABALHO DE MODELAGEM


Em reuniões feitas com a coordenadora de Artes para reformulação dos objetivos da área de Artes Visuais, surgiu a ideia de uma sequência didática relacionada aos processos e conceitos de criação da artista Anna Maria Maiolino². Concluímos que por mais que as crianças tivessem contato com a modelagem da argila desde os 2 anos³, quando chegavam aos 5 anos ainda estavam limitadas à utilização desse material de forma mais escolarizada e não artística. Seu uso era restrito ao espaço de um suporte de papelão geralmente de 20cm x 20cm para apoiar a argila, a quantidade do material se limitava, na maioria das vezes, a ½ kg por criança e a modelagem era feita com as mãos ou materiais como palito, forminhas e espremedor de alho.

Queríamos que as crianças usassem o material com um olhar contemporâneo, com relação a vários aspectos: ocupação do espaço, ideia de “obra aberta” (que não tem fim, podendo ser continuada), experimentação e investigação das possibilidades do material feitos com o corpo todo (procedimentos de criação) e a efemeridade ou não do trabalho criado. O percurso criador de Anna Maria Maiolino com a modelagem da argila veio ao encontro das nossas expectativas de tornar os conteúdos de Arte mais contemporâneos para essa faixa etária. Ao estudar os conceitos e procedimentos de criação da artista, fui visualizando quais poderiam ser os objetivos, os conteúdos e as atividades a serem trabalhadas com as crianças, até o final da sequência didática. Durante o processo de realização, pude ir avaliando para acrescentar, tirar ou adequar atividades.


1 Professora da turma de 5 anos da Escola Verde, Santos (SP).
2 Artista contemporânea nascida na Itália em 1942 e naturalizada brasileira.
3 Na escola, as crianças de 5 e 6 anos desenvolvem semanalmente atividades de modelagem com argila.

Planejar a transformação do barro

Alguns objetivos de aprendizagem estavam claros desde o início:

♦ Ver a argila como um material que pode ser modelado no coletivo, não apenas individualmente.
♦ Ver a argila como um material que pode ser usado em quantidade e dimensões variadas, não apenas
cabendo num suporte de papelão pequeno, mas também em grandes espaços como o parque da escola ou o chão da sala.
♦ Apreciar obras de argila feitas por Anna Maiolino para compará-las com a própria produção: procedimentos de modelar, ocupação da modelagem no espaço, quantidade de argila utilizada, modelagem feita no coletivo, finitude ou não do trabalho e variação ou repetição de gestos impressos na argila e decalques com objetos.
♦ Trocar ideias a respeito da própria produção de modelagem para se chegar a uma única ideia a ser realizada.
♦ Aceitar que sua produção de modelagem com a argila pode ser efêmera.

Iniciei a sequência perguntando para as crianças se sabiam de onde vinha a argila, ao que algumas responderam:
– A argila é feita de lama.
– É barro, água.
– É suja, tem pedaços de coisas.


4 Palavra de origem indígena, do tupi towa’tinga, tendo seu significado designado como barro branco ou barro esbranquiçado.

A fim de confirmar as informações e aprofundar nossa pesquisa, mostrei ao grupo imagens de lugares de onde se retira a argila, como a beira do rio com a Tabatinga4. Puderam também apreciar utensílios e peças de decoração que são feitas com esse material, imagens de pessoas produzindo peças em olarias, usando as mãos e o torno. As crianças perceberam que há argila de cores diferentes, o que acharam muito legal. Também ficaram impressionadas com a informação de que tem gente que usa esse material para tratamento de beleza, ao se depararem com alguns exemplos nas fotos.

Das mãos ao corpo todo

Para sair da experiência conhecida de utilizar apenas as mãos na modelagem, propus uma atividade na qual puderam utilizar todo o corpo. Organizei, no chão, dois espaços forrados com papel Kraft e bastante argila para cada criança, que pôde explorá-la da forma que quisesse, com as mãos e com o corpo. Livremente podiam fazer seus comentários sobre a nova experiência. Dos dezenove alunos, três quiseram explorar apenas com as mãos e os braços na mesa; o restante tirou o sapato e experimentou diferentes sensações no contato com a argila. Nesta atividade, as crianças exploraram movimentos corporais amplos, por conta da grande quantidade de argila. Surgiram muitas possibilidades de ocupação do material no espaço da sala de aula e de modelagens variadas, trazendo uma nova dimensão do fazer artístico. Por volta dos quatro, cinco anos, quando as crianças começam a ter maior controle e intenção de seus próprios movimentos, a vivência das atividades de Artes é fundamental.

A experiência foi tão prazerosa que escutei os seguintes comentários:
– Vamos fazer mais vezes essa atividade?
– É muito legal!
– Estou gostando muito, nunca tinha feito desse jeito.
– Olha só como eu fiz!
– Eu fiz assim, e olha só o que aconteceu.

Nesse primeiro momento, a proposta era que explorassem o material à vontade e aos poucos descobrissem as possibilidades de sua utilização. As sim, sem que fosse proposto diretamente, as crianças foram cortando, apertando, grudando, es ticando, enrolando, pisando, forrando o corpo, furando. Eu caminhava entre elas para socializar as explorações, dando dicas do que cada um estava descobrindo. As crianças também trocavam informações sobre suas descobertas e experimentavam o que viam o colega fazer. Na atividade não havia a necessidade de modelar alguma imagem, porém, após experimentarem bastante, alguns alunos quiseram dar forma final à sua argila. Juntaram suas partes e fizeram modelagens grandes, o que os impressionou.

Vida de artista e mão na massa

No segundo momento, apresentei a sequência que iríamos estudar, fiz um semicírculo com os alunos para mostrar fotos da artista Anna Maria Maiolino, em diferentes épocas de sua vida. Eles faziam perguntas e ficavam cada vez mais curiosos, o que me levou, ao longo da sequência, a fazer novas pesquisas para responder às dúvidas. Para esse estudo usei material impresso, vídeos e fotos em datashow. Também deixei imagens da artista, de seus trabalhos e ateliê pendurados no mural da sala de aula para que as crianças olhassem e conversassem à vontade sobre as experiências que estavam tendo com essa sequência.

Os assuntos abordados nesta apresentação foram sua nacionalidade, onde vive atualmente, sua profissão, os trabalhos que já expôs em alguns países, entre outras questões levantadas pelos alunos.

Por conta dos cabelos brancos da artista, perguntaram: “Ela é vó?”.

Num terceiro momento, apresentei a imagem de uma obra da artista e fiz várias perguntas de observação: Que material havia sido usado? Como achavam que ela havia feito aquela modelagem? Ela modela cada peça de um jeito diferente ou parecido? Como é? Onde a peça será colocada? Será que foi ela quem fez tudo? Quanto tempo demorou para fazer? Conseguiríamos fazer algum trabalho parecido com este? Como?

Expliquei que era um trabalho que ela inventou, mas que não foi só ela quem modelou tudo, pois precisou de ajudantes, senão demoraria muito tempo para fazer. Também informei que esse tipo de trabalho, que ocupa, modifica e transforma um espaço, se chama instalação.

A modalidade artística instalação surgiu nos anos 1950, fazendo parte do período que abrange a Arte Contemporânea. Instalação é um trabalho tridimensional que pode interferir num espaço já existente, fazendo parte dele e modificando-o, ou então, ser montada como um espaço novo, que não existia, onde o espectador pode entrar. Diferente de uma obra feita para ser olhada, como a pintura, a instalação propõe ao espectador que para apreciá-la ele também a vivencie, não apenas com o sentido da visão, mas também com os demais. Há instalações que são obras abertas, ou seja, o espectador pode continuá-la.

Anna Maria Maiolino

Nasceu na Itália em 1942 e morou dos 12 aos 18 anos na Venezuela, mudando-se para o Brasil em 1960. É, portanto, uma artista brasileira que, desde o início, se integra ao novo meio cultural. Na escola conhece artistas com os quais participará do Nova Figuração, movimento que se afirmava, no início da década de 1960, no Brasil. Ela integrou, em 1967, a mostra Nova Objetividade Brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e assinou a “Declaração dos Princípios Básicos de Vanguarda” com Hélio Oiticica, Antônio Dias, Rubem Gerchman, Lygia Clark, Lygia Pape e outros. No mesmo ano realiza sua primeira exposição individual, no Rio de Janeiro, mostrando xilogravuras.

Em 1968 naturaliza-se brasileira e como artista segue as décadas posteriores explorando outras possibilidades para além do papel: corpóreas, espaciais, utilização de diversas mídias, suporte artesanal, trabalho com super 8, fotografia e instalação.

Em 1989 inicia as séries de instalações: Terra modelada, laborando grande quantidade de argila, “in sito”. Participa de várias exposições, mostras, bienais em diversos países e, em 2001, suas obras passam a integrar o acervo do MoMa de Nova Iorque.

Em 2012 é contemplada pelo prêmio Masp – Mercedez-Benz pelo conjunto de sua obra e participa da DOCUMENTA 13, em Kassel, Alemanha, com a obra Here & There composta por uma grande instalação de argila, sons e vegetação, além de uma gravação de sua voz declamando o poema Eu sou Eu, de sua autoria.

Fonte: site oficial http://annamariamaiolino.com/pt/index.html

Dentre os diferentes tipos de instalações feitas de modelagens de argila que Anna Maria Maiolino já expôs, escolhi mais duas que seguiam os procedimentos de criação daquela que eles tinham apreciado e mostrei aos alunos. Em seguida compararam as três instalações percebendo as semelhanças de materiais e jeitos de fazer. Propus que escolhessem, por meio de votação, uma delas para iniciar a instalação do Grupo 3 e experimentar procedimentos de criação que se aproximassem da experiência da artista. Ou seja, realizar uma instalação de mesmo material e construída com gestos feitos por eles, parecidos com os da instalação que escolheram.

Depois disso discutimos como faríamos, e pensando no espaço que tínhamos para expor, organizamos os detalhes, tais como: em que ponto seriam colocadas as modelagens criando a instalação, como seriam dispostas, se faríamos os mesmos gestos da argila, como a artista havia feito, ou mudaríamos algo. Assim que definimos essas questões, partimos para a produção. Tentaram deixar cada peça bastante semelhante à original. As crianças escolheram fazer peças de argila em que cada uma imprimia seus gestos em formas que pareciam pãezinhos. Decidiram até quanto produziriam para conseguir montar a instalação que haviam planejado. A argila foi dada no local onde seria feita a instalação e as crianças foram então criando os gestos em forma de pãezinhos (quantos quisessem). Quando o Grupo concluiu que já havia pãezinhos em número sufi ciente propus a montagem da instalação. Antes retomei o que haviam discutido em sala sobre como seria a instalação e organizei o grupo para que a montassem buscando seguir seu planejamento. Foi um momento muito importante de construção do trabalho coletivo em que cada um teve de respeitar a vontade do grupo. Ajustamos, no momento da montagem da instalação, detalhes que antes não tinham sido discutidos nem previstos, tais como se os pães ficariam grudados ou se teriam espaços entre eles e quantas fileiras de pães fariam.

Novas técnicas e experiências

Em outra atividade – num quarto momento propus que fizessem, individualmente, decalques em placas de argila, pois assim poderiam experimentar outra maneira de modelar. Esse procedimento não é usado pela artista, mas é justamente isso que interessava que as crianças percebessem, ao compararem sua experiência de decalcar na placa com os trabalhos de Anna Maiolino.

Assim, distribuí um saquinho para cada aluno recolher alguns objetos como pedrinhas, folhas etc. Convidei-os a sair da sala e percorrer a escola e seus jardins com esse olhar investigativo. Ao retornarem fizemos uma roda para apreciação e socialização dos objetos recolhidos e as crianças os classificaram dizendo onde haviam sido encontrados.

Mostrei possibilidades de impressão na argila com alguns daqueles objetos. Alisei uma placa de aproximadamente 25 cm utilizando o cabo de vassoura, como se fosse um rolo de macarrão sobre a massa, tomando o cuidado para que a placa não ficasse fina, e imprimi alguns objetos deixando sua marca na superfície. Em seguida, dei um pedaço de cabo de vassoura de 30 cm para cada criança fazer sua placa. Escolheram livremente os objetos que queriam decalcar em suas plaquinhas, podendo, inclusive, desfazê-las e criar outras, até chegarem ao resultado final.

Ajudei as crianças a resolverem eventuais dúvidas e dificuldades, que também foram sendo discutidas e socializadas entre elas. Apreciamos os resultados tendo como foco o olhar para as diferentes possibilidades que surgiram. Perguntei aos alunos quais outros objetos imaginavam que fosse possível imprimir na argila. Logo deram mais ideias além dos objetos recolhidos, como palitos, tampinhas, barbante, pecinhas de jogo de encaixe… Depois, mostrando as instalações da artista, perguntei se ela tinha feito decalque de objetos como eles fizeram na placa de argila. Logo o grupo percebeu que as placas não tinham gestos como os dela, mas que deixavam marcas, como ela fazia.

Ainda seguindo a ideia de ocupar espaços com gestos de argila e chegar a uma ideia única de produção, propus mais um trabalho coletivo de instalação – o quinto momento da sequência. Novamente as crianças apreciaram instalações da artista, analisando as mesmas questões levantadas no terceiro momento, com alguns acréscimos: O que será que ela faz quando acaba a exposição? O que acontece com a instalação? E com as argilas que ela modelou? Será que a instalação dura para sempre?

As crianças sabiam que a instalação de pãezinhos havia ficado por alguns dias no pátio coberto da escola, que depois teve de ser desmontada e os pãezinhos foram guardados numa caixa, dentro da sala. Por essa vivência puderam refletir sobre o que devia acontecer com as instalações de Maiolino. Falaram,
então, que ela desmontava e guardava para montar novamente. Também falaram sobre o que podia quebrar. Aproveitando a reflexão, informei que quando acabava o tempo da exposição a artista desmontava a instalação e pedia a seus ajudantes que quebrassem a argila para que virasse pó e fosse novamente usada. Todos acharam essa ideia muito legal e ficaram loucos de vontade de experimentar fazer o mesmo.

Para essa segunda instalação as crianças escolheram fazer gestos que modelavam cobrinhas, como viram em exposições da artista e num dos vídeos que mostra Maiolino produzindo sua instalação com alguns de seus ajudantes. Aqui, diferente dos “pãezinhos”, que foram criados no local da instalação, a atividade de instalação com “cobrinhas” foi feita em sala, levando alguns dias para ficar pronta. Depois transportamos as cobrinhas para o local onde seria montada a instalação. Elas queriam que ficasse grande, com bastante cobrinha, queriam que o trabalho tivesse visibilidade. Assim, produziram muitas peças, por vários dias, até que acharam que a quantidade era sufi ciente. O mais incrível é que não se cansaram de produzi-las, estavam muito envolvidos com a meta de deixar a instalação grande, como uma montanha (quase do tamanho deles) de cobrinhas de argila. Passaram a fazer cobrinha a qualquer momento livre do dia, como o momento de escolha, no início da aula, na espera dos pais no final do dia, quando jogam ou brincam. Fazendo uma avaliação do processo da sequência, achei importante ouvir a necessidade das  crianças e, assim, concluí que estavam tomando para si esse aprendizado. Sempre que precisávamos decidir algo, como o posicionamento das argilas ou se a quantidade produzida estava boa ou não, fazíamos votação a fim de atender à vontade da maioria. Nas tomadas de decisões, quando necessário, também sugeria a eles, de antemão, duas ou três opções a fim de aperfeiçoar o trabalho, e assim chegávamos ao consenso do que era mais adequado no momento.

Durante as apreciações vi que as crianças ficaram muito interessadas em fazer modelagens com argila que tivessem as cores que a artista usava.

Como não tínhamos acesso à argila daquelas cores, achei importante acrescentar na sequência uma atividade não prevista inicialmente. Chegamos, assim, ao sexto momento da sequência, quando propus às crianças uma experiência de tingir a argila para chegar às cores que Anna usava, com tonalidades próximas ao preto e ao vermelho.

Seguindo a mesma ideia utilizada pela artista, de reutilização das argilas usadas nas instalações, propus que os alunos quebrassem as argilas que haviam sido modeladas. Isso aconteceu em um evento de final de semana com os pais, para serem novamente transformadas na matéria-prima de argila mole. Para isso, as crianças pisaram com os sapatos e bateram com objetos duros na argila seca e modelada, deixando-a em pequenos pedaços. Depois, misturaram a argila com água e a amassaram por um tempo até que pudessem juntá-la com a tinta guache. Em seguida a colocaram para secar em bandejas, por alguns dias, até o ponto de poder ser usada. Nessa atividade puderam vivenciar o procedimento da artista de reutilização do material. Alguns dias depois, fizeram modelagens de bolinhas com cores diferentes de argila, como queriam, e montaram uma terceira instalação na escola. Quando a escola tem como princípio fazer Educação Ambiental com seus alunos – como é o caso da Escola Verde – é muito importante que esteja atenta às possibilidades que as atividades de todas as áreas oferecem para isso. Foi o que aconteceu nessa proposta, com a interação de diferentes áreas de conhecimento.

No sétimo momento, fizemos nova apreciação das obras da artista com imagens projetadas em datashow. Neste caso não se tratava de instalação, e sim de escultura. Perguntei se o Grupo gostaria de
experimentar fazer alguma escultura parecida. Perguntei se achavam que os trabalhos eram instalações e responderam que sim. Nessa idade este conceito ainda não está bastante compreendido, portanto não insisti, mas viram que a artista continuou usando a argila, dessa vez esculpindo minhocas, em círculos um sobre o outro. E quiseram experimentar também aquele jeito de fazer a argila. Separei as crianças em grupos de quatro e cada uma foi fazendo seu círculo de minhoca, e o grupo foi montando um em cima de outro, até uma determinada altura, que foi pensada levando em consideração a estabilidade da escultura montada. Com receio de que caísse e para que os trabalhos realizados pelos pequenos grupos em sala não ficassem com tamanhos variados, decidimos “a olho” a altura da obra.

No oitavo momento, analisamos uma instalação em que a artista grudava os gestos de argila na parede e retomei aquele grupo de questões que iniciei na primeira apreciação, no terceiro momento da sequência. As crianças disseram que ela devia usar cola para a argila não cair e que elas poderiam fazer a mesma coisa. Em um vídeo com a produção dessa instalação elas puderam conferir como era feito. Assim, providenciei uma grande placa de madeira, forrei-a com tela de plástico e as crianças foram preenchendo-a com pequenos gestos de argila, encaixando-as na tela com ajuda da cola. Antes de começarmos a colar, perguntei como iriam querer que ficassem as figuras de argila, qual formato e
como as disporíamos na madeira. Após expressarem algumas ideias, a maioria decidiu seguir o gesto observado na obra da Anna Maria Maiolino, e optaram pela sugestão de um colega em colocar os gestos modelados em ziguezague.

Para finalizar o estudo solicitei que, em grupos de quatro crianças, criassem uma modelagem diferente do que tinham visto até o momento nas obras da artista.

Com os grupos montados as ideias foram surgindo, e, assim que decidiram o que iriam modelar, cada grupo começou a produzir. Quando já tinham feito uma quantidade sufi ciente de modelagem, começaram a organizar a instalação no pátio coberto, como haviam planejado coletivamente. Decidiram organizar as modelagens em forma de caracol, que ia aumentando de tamanho à medida que colocavam o que produziam.

Interação entre diferentes faixas etárias

Num outro dia, na hora do parque dos primeiros anos do Ensino Fundamental, propus que cada grupo se posicionasse no pátio coberto com bastante argila sobre uma mesa e que convidasse os alunos  e outras turmas para experimentarem fazer aquelas formas e continuarem a instalação do caracol. Houve muito respeito entre todos. Os pequenos se sentiram muito importantes. Ao final, formou-se uma grande e linda instalação que permaneceu por um tempo sendo apreciada por todos da escola. No
dia da exposição dessa sequência aos pais, os mesmos grupos propuseram que os pais experimentassem fazer as formas e ampliassem com eles a instalação do caracol.

As avaliações do processo a partir dos objetivos iniciais aconteciam durante as atividades de produção e apreciação. As apreciações dos trabalhos dos alunos e das obras da artista foram meios utilizados para avaliar o que eles já sabiam sobre a artista, quais procedimentos de produção empregados, os materiais destinados a cada ideia, a ideia de finitude ou não, a ideia de efemeridade, a ocupação da argila em diferentes espaços, o trabalho coletivo. As votações para as tomadas de decisões ajudaram também no envolvimento dos alunos que estavam contribuindo pouco, garantindo que as decisões fossem tomadas por todos.

Sempre respeitei as limitações e as habilidades de cada um durante o processo de construção das modelagens, o que realmente faz diferença nas expectativas que construímos sobre cada aluno. Foram pouquíssimas as vezes que precisei estimular algum aluno nessa sequência, uma vez que o trabalho com argila era de total interesse do grupo-classe.

Posted in Revista Avisa lá #56.