A criança e a Arte: busca e encontro

DENISE NALINI E MARIANA AMERICANO¹


PENSAR EM UM TRABALHO QUE SE APÓIE EM ELEMENTOS DA ARTE CONTEMPORÂNEA COM CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS REQUER CONHECIMENTO SOBRE O DESENVOLVIMENTO INFANTIL


Esta é uma ação² que vai além do foco em um artista ou em uma obra. Nesse processo, procura-se um educador sensível que consiga estabelecer um diálogo entre a criança e a arte produzida hoje.

Os conceitos em jogo são busca e encontro. É uma busca, pois significa observar as crianças, sua forma de se relacionar em grupo e com o mundo e, a partir desse olhar cuidadoso, definir obras e artistas que conseguem conversar, dialogar com essas crianças. É encontro porque é preciso aprender a observar para poder encontrar a Arte e as crianças.

Foi com esse mapa nas mãos, feito de observações cotidianas, de estudos sobre Arte e sobre desenvolvimento e aprendizagem infantil, que começamos o trabalho com as obras do artista dinamarquês Olafur Eliasson (1967-) junto às crianças do Berçário 1 do Centro de Educação Infantil (CEI) Jardim Shangri-lá, na cidade de São Paulo.


1 Formadoras do Instituto Avisa Lá e coordenadoras da formação de educadores no Centro de Educação Infantil Jardim Shangri-lá em 2012.
2 Foram autoras deste projeto junto às crianças as professoras do Berçário: Amanda Sequeira, Kátia Girlene Silva Leite e Antonia Maria de Farias Leite.

As professoras pretendiam dar continuidade ao trabalho realizado na área de Artes Visuais, no segundo semestre de 2012, e começaram a pesquisar artistas contemporâneos que trabalhassem com instalações, que dialogassem com o que elas estavam trabalhando com os bebês.

Nessa pesquisa, encontraram vários artistas, entre eles: Carlos Cruz-Diez (1923-); Yayoi Kasuma (1929-) e Olafur Eliasson. Depois disso, as professoras começaram a olhar de forma mais apurada para aquilo que as crianças sabiam. Observaram o grupo suas condições e possibilidades de desenvolvimento, necessidades de aprendizagens, saberes e desejos.

Assim nasceu o projeto A cor luz, os reflexos e a luminosidade, buscando referências na obra de Olafur Eliasson, elaborado pelas professoras do grupo de crianças de 1 ano:

Olafur trabalha com espelhos, reflexos, cor, luz e luminosidade, usando o meio ambiente e a natureza para transformar seu entorno através dos reflexos, da luminosidade e da ocupação do espaço. Por este motivo, seguiremos este caminho em busca dos objetivos almejados por nós: explorar e experimentar a percepção das cores, a orientação espacial, os diferentes planos e outras formas de envolvimento com a realidade. Assim as atividades que realizaremos junto aos bebês ajudarão a ampliar sua experiência de corpo e espaço como um todo. Esse artista tem uma preocupação com a ocupação do espaço, além de gostar de explorar os ambientes. Isso conversa bastante com a fase que os bebês estão, a de se descobrir e descobrir o outro.
(Justificativa do projeto elaborado pelas professoras do Berçário.)

Sobre Olafur Eliasson

Olafur Eliasson nasceu em 1967 na cidade de Copenhague, Dinamarca. Viveu a infância entre Islândia e Dinamarca.

Formou-se na Academia Real de Belas-Artes, em Copenhague, e iniciou seu trabalho na década de 1990.

Para ele, o processo de percepção da realidade está no centro de sua pesquisa artística, que parte ciências e envolve a recriação de fenômenos naturais. É conhecido por suas esculturas e instalações de grandes dimensões feitas de luz, água, espelhos que brincam com a luminosidade e até com sensações térmicas para proporcionar uma experiência espetacular ao público.
Alguns de seus trabalhos são:

The weather project (2003), Take your time (2008), Prismas (2008), Your atmospheric colour atlas (2009), Your chance encounter (2010), Slow light sphere (2011), Seu planeta compartilhado [Your shared planet] (2011).

Em 1995, Eliasson mudou-se para Berlim, Alemanha, e deu início ao Studio Olafur Eliasson. O estúdio conta com uma equipe de 45 pessoas aproximadamente, entre artesãos, técnicos especializados, arquitetos, artistas, arquivistas, historiadores de arte, cozinheiros e administradores. Eles trabalham com Eliasson e, juntos, experimentam,
desenvolvem, produzem e instalam obras, projetos e exposições. Eles também cuidam do arquivamento, da comunicação e contextualização do seu trabalho.

Fonte: Olafur Eliasson. Disponível em: www.olafureliasson.net/.

Arte contemporânea para crianças pequenas

As crianças percebem o mundo com o corpo e com todos os sentidos. Elas veem o mundo não apenas com os olhos. São vivências inaugurais, que contribuem  para a formação da sua própria estruturafísica e mental: o primeiro contato com a luz, com o toque, com os diferentes tipos de materiais. Os pequenos têm na experimentação uma forma privilegiada de se desenvolver, conhecer e compreender o mundo. É nesse lugar, da possibilidade da experiência, da integração entre Arte e vida e de um olhar sobre os sentidos do espectador que a Arte Contemporânea nos convida a refletir. Não se trata apenas da produção do artista, e sim do encontro entre o espectador e suas sensações³. É uma arte que convida a ver além do olho, e, portanto, muito adequada para as crianças pequenas.

O uso da luz, das cores e dos espelhos desperta a curiosidade das crianças, além de estimular o conhecimento sobre o próprio corpo e do espaço, como confirma Antonia, professora do berçário, em um de seus relatos:

Em uma tarde, brincando com o nosso grupo de bebês, depois do lanche na sala, com a janela aberta ao sol, observei a luz se expandindo no espaço. Como neste momento estávamos explorando a “luz”, inspiradas nas  obras de Olafur Eliasson, eu já tinha preparado um espelho para fazer um móbile. Então, peguei aquele espelho e propus uma brincadeira com as crianças, aproveitando esse sol e a sua luminosidade natural. Coloquei o espelho ao encontro da luz solar e as crianças logo começaram a interagir, brincando naquele canto. Em seguida, fui direcionando aquele reflexo na parede e no teto, e os bebês que se encontravam comigo perceberam aquele movimento. As crianças se interessaram pela nova descoberta. Gabriela e Heloisa logo perceberam aquele reflexo que estava direcionado à parede e correram para pegá-lo. Gabriela veio a mim e mostrou-me aquela luz; Heloisa tentou pegar a luz do reflexo, mas logo viu sua sombra e mudou de direção ao Christopher e ao Luiz Antônio, e depois coloquei o reflexo na mão deles; eles fechavam a mão tentando pegar a luz! Subi o reflexo até o teto e Marina, que estava com um brinquedo nas mãos, direcionou-o para cima e, assim, ria e se divertia com aquele reflexo que parecia um arco-íris.

Bryan e Luiz Alexandre corriam de um lado para o outro tentando pegar o reflexo de luz que passeava naquele espaço, e Laura observava aquele movimento, sentada onde brincava. Foi muito interessante e fiquei feliz, pois pude aproveitar essa oportunidade, oferecendo aos bebês a possibilidade de cada um explorar do seu jeito o reflexo e a luz. As crianças participaram e se divertiram muito naquele momento, fazendo descobertas e interagindo com algo extremamente atraente.


3 Os trabalhos de Lygia Clark e Hélio Oiticica, nos anos 1960-70, são exemplos de produções que enfatizam essa ideia.

Com essa experiência, as crianças fizeram descobertas, explorando a luz, o espaço e o corpo. Compartilhei a alegria e o prazer deles durante a realização da atividade e percebi como é importante a mediação e um olhar diferenciado para possibilitar a eles a oportunidade de se descobrir, descobrir o outro e o espaço.

O que está sendo produzido hoje em termos de Arte ainda não tem uma marca de permanência, nem sabemos o que será história; só sabemos do passado e é nele que buscamos referências para tecer comentários, ler críticas de Arte. Somente o tempo e a experiência vivida é que vão mostrar o caminho do que será trilhado e valorizado no campo das artes.

Logo, o trabalho do educador é delicado. Cabe a ele pensar: O que eu escolho para oferecer às minhas crianças? Quais as referências que eu quero que elas construam? Que experiências podemos compartilhar?

Essa é uma questão polêmica, pois toda escolha deve partir de um critério: aquilo que me toca, que dialoga com o meu repertório e com minha sensibilidade. Portanto, é preciso que o educador frequente espaços culturais e tenha contato com produções artísticas para poder rever suas experiências.

Um exemplo interessante é o da 29a Bienal de São Paulo (2010), que teve como tema “Viver junto e as reflexões sobre a convivência”. Como é que se convive? Num espaço de educação infantil, este é um conteúdo importante para o trabalho com as crianças pequenas, por possibilitar diferentes abordagens, por privilegiar diferentes obras. Essa é a hora que o educador, inspirado pela observação do grupo, seleciona imagens, esculturas, instalações, pinturas que trazem a possibilidade de sentir e de experienciar. O educador deve colocar a criança em contato com todos os elementos possíveis, criando um ambiente propício para sua aprendizagem. Tem de se comprometer a disponibilizar materiais organizados e adequados para o uso das crianças nos processos de criação e interação.

A importância das escolhas

A escolha dos artistas deve passar pela construção de referências significativas para as crianças. Elas estão construindo, neste percurso, marcas muito profundas em sua vida. Como diz Fayga Ostrower (1920-2001) em seu livro Criatividade e processos de criação4:

As imagens referenciais não são herdadas. Não são estereótipos de percepção, não são conceitos. Formam-se, basicamente, de modo intuitivo. Configurando-se em cada pessoa  a partir de sua própria experiência e como “disposição característica” dos fenômenos, isto é, como imagem qualificada pela cultura, sua visão é ao mesmo tempo pessoal e cultural.


4 Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1977.

É preciso observar também as referências dos professores. O que guia o seu trabalho e a escolha de um artista são as referências que ele teve em seu percurso formativo, além da memória de sua aprendizagem na infância e o que ele tem como experiência pessoal. Outro ponto a ser avaliado na hora de uma escolha é a extensão da obra de um artista. Por exemplo, não podemos falar que estamos trabalhando com Pablo Picasso (1881-1973), visto que a obra dele é extensa, complexa, com diferentes fases e modos de perceber. É preciso eleger alguns aspectos deste artista ou vários artistas que conversem entre si, uma determinada fase, algumas obras que inspirem o professor a oferecer experiências significativas para as crianças. É necessário formular hipóteses sobre as questões que tocam aquele artista, considerar o que ele fala a fim de estimular as crianças a pensarem um modo novo de fazer, de ver e de viver experiências significativas.

Na pesquisa que realizamos sobre o trabalho de Olafur Eliasson, percebi que ele tem muito a contribuir no desenvolvimento das crianças de 1 a 2 anos, principalmente no trabalho que realiza com os espelhos e com a luminosidade. Este artista não trabalha com o concreto, ele usa a natureza e o meio ambiente para transformar seu entorno por meio do reflexo, da luminosidade e da ocupação do espaço e, por isso, é que seguimos esse caminho em busca dos objetivos almejados para nossos bebês. Eles irão experimentar a percepção de cor, a orientação espacial e outras formas de envolvimento com a realidade. (Kátia, professora do Berçário, ao justificar a escolha do artista para o projeto.)

Dentre outras questões, a ocupação do espaço é um dos temas que interessam a Olafur Eliasson. Seu corpo da obra5, primeira exposição individual do artista dinamarquês no Brasil, decorre de uma pesquisa referente ao lugar que os corpos ocupam no espaço: onde estamos e como esse ambiente nos recebe. Para as crianças do Berçário 1, que
estão construindo sua identidade corporal e de localização, os reflexos, a luminosidade, os espelhos são uma fonte muito rica para a construção dessa identidade corporal. Descobrir formas de ocupar o espaço e ver o corpo ocupando esse lugar de vários ângulos e possibilidades podem enriquecer esse processo.

As crianças pequenas ainda têm uma visão do seu corpo fragmentada (“as partes que eu vejo”). O espelho nos possibilita ter uma visão mais integral de nós mesmos e do outro. Por isso as crianças se surpreendem ao perceber a imagem dela e a dos outros. Essa interação é bastante prazerosa e alegre: as crianças batem coisas, beijam e abraçam o espelho, escondem-se dele e depois reaparecem. Essa forma de construir sua imagem corporal, se olhar por inteiro em diferentes posições e formas cria novas referências sobre quem se é e como ocupa o espaço.

Construindo uma poética

A marca de um bom trabalho é quando o educador está construindo uma poética com as crianças, inspirado em um artista. Isto está muito distante de tentar que as crianças “copiem” as obras do artista. O que, inclusive para a faixa etária, se configuraria em um despropósito.

Uma ação consistente passa pela escolha de espaço, tempos e materiais, seleção de obras e criação de ambientes. Uma poética que retrata esse encontro, o do interesse e das necessidades das crianças, com o que este artista tem a dizer, a mostrar, e, por que não, experienciar.


5 ELIASSON, Olafur. Seu corpo na obra. Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1o/10/2011 a 8/1/2012.

O trecho do relato da professora Kátia revela a construção dessa poética:

Na proposta que realizei com os bebês, eles teriam que usar o celofane para ver através dele, ocupando-se tanto do papel quanto do espaço externo e da luz natural do sol. Recortei vários pedaços em cores e tamanhos variados. Ofereci a eles e, de imediato, vi a reação nos olhos de cada um. Olhar de interrogação, mas ao mesmo tempo, de curiosidade em experimentar aquele material de todas as maneiras possíveis. A primeira reação foi amassar, já que isto emite um barulho que chama bastante a atenção, e como eles são ligados a qualquer tipo de som, isso fez com que se envolvessem mais na proposta. Depois desse momento inicial de exploração do papel-celofane, apalpando-o, amassando-o, experimentado sua textura, comecei a olhar para cima, para o céu, e falar:

– Nossa! Que bonito! Está tudo vermelho!

Luiz Antônio me olhou e sorriu. Em seguida, colocou o celofane nos olhos e passou algum tempo olhando através dele. Passados alguns minutos, ele tirou e me olhou novamente e abriu mais um sorriso. Dessa vez era um sorriso de afirmação, de que era mesmo bonito.

Quando Geovanna percebeu o que estava acontecendo, ela também colocou seu pedaço no rosto e ficou olhando através dele. Ela falou:

– Tati (Kátia) e balbuciava alguma coisa. Querendo me falar algo. Então firmei uma conversa com ela.

– Você está vendo tudo verde, Geovanna? Eu estou vendo tudo azul. Ela me olhou, sorriu e balbuciou algo, como quem queria dizer que também estava vendo. E voltou a colocar o celofane nos olhos novamente.

Heloisa sorria. Ela é uma criança muito alegre e gosta de experimentar tudo. Então colocava o celofane no rosto e sorria, querendo dizer: “Eu também estou vendo”. (…) O mais interessante nessa proposta é que eles estavam bem tranquilos e à vontade. Observavam atentamente como tinha que fazer e quando entendiam o sentido passeavam pelo gramado com o celofane nos olhos. Foi excelente a aceitação e participação deles. Durante o passeio, eu ia indagando-os sobre o que estavam vendo e quais cores viam.

– Olhem! Daqui vejo tudo azul quando olho para o sol. (Eu falava).

E Gabriela questionava com seus balbucios e olhar de curiosidade. Logo quis trocar o seu celofane com o meu. Teve a curiosidade de ver também da mesma cor que eu havia falado.

Então continuei:
– Quando olho para a grama ela fica um pouco vermelha.

E logo todos olhavam para o chão.

Percebi, a partir das reações deles, o quão é importante a mediação, a intervenção e as perguntas do professor para ampliar o olhar dos bebês sobre o que está à sua volta e a forma como isso os favorece.

Contudo, o que mais me cativou foi a reação deles, posterior à proposta. Em outro momento da nossa rotina, espalhei pela sala, em cantos estratégicos, pedaços de celofane, no intuito de observar qual seria a atitude dos bebês, e enquanto brincavam nos cantos alguns encontravam o material, colocavam nos olhos e passeavam pela sala, observando o entorno naturalmente, como se aquilo fosse algo normal para eles. Isso me mostrou que a proposta teve e fez um sentido para eles. O que parecia uma simples brincadeira se tornou algo muito significativo, afirmando a ideia de que é necessário vivenciar diversas situações, experimentar, tocar, sentir, transformando esses momentos de mediação em novas descobertas e aprendizagens para as crianças e para mim.

A Arte e a criança

Ao propiciar as experiências inspiradas na obra de Eliasson aconteceram as conversas entre o artista e as necessidades das crianças. Aí Arte e educação se encontram. E as crianças nos dão todos os exemplos de que isto está acontecendo.

Realizamos uma atividade em sala e, para isso, preparamos o ambiente com papel laminado colorido nas paredes e no chão, colocamos objetos como a “colmeia”6 virada para baixo que dá a sensação de uma mesa grande e baixa.

Em cima colocamos garrafas pet com água e glitter, para emitir reflexos, e papel laminado, para o manuseio das crianças. Encapamos algumas caixas pequenas para que elas pudessem se olhar, latas de leite, CDs e espelhos pequenos e médios de diversos formatos.

A nossa intenção era oferecer novas descobertas com os reflexos emitidos. Organizamos o espaço colocando uma instalação baseada na obra retirada da mostra “Seu corpo na obra” do Olafur. Adaptamos uma divisória, usando papel-celofane colorido, e organizamos cantos nos quais as crianças pudessem explorar esses materiais. 

Após tudo preparado, pedimos que as crianças entrassem na sala, mas antes conversamos com os pequenos e perguntamos a eles: “O que será que temos naquela sala?” E vimos as carinhas de alegria da turma.

Ao entrarem na sala, as crianças logo começaram a brincar nos cantos e a explorar os objetos ali propostos. Gabriela corria pela sala, explorando todo o espaço. Assim que pegou um espelho, ela se olhou e mostrou para a educadora Kátia. Gabriela mostrava que, no espelho, tinha a imagem dela. Achamos isso bem legal. Caio brincou bastante com os espelhos. Ele passou um bom tempo se observando. Achei interessante a reação dele; parecia que estava se reconhecendo. Geovanna brincou com a educadora Kátia no celofane: ela, de um lado; a educadora, de outro. Ela via a sala conforme a cor daquele celofane. Antônia apresentou os espelhos para Wesley, e ele ficou bastante interessado. A professora Nelian apresentou os CDs para algumas crianças, como Victória e Yago. Eu fui interagir com Caio na apresentação dos espelhos. Todas as educadoras interagiram conforme a necessidade e a procura de cada criança. Pudemos perceber o quanto essa mudança na sala trouxe novas descobertas para as crianças. Um exemplo bacana é o da Marina, que se apoiou no pufe revestido de papel laminado, ficou olhando e apreciando o movimento que fazia com a cabeça. Ela também subiu na colmeia e ficou brincando, tentando diferentes movimentos. Luis Fernando ficou em um canto olhando o papel laminado fixado no chão, com espelhos e CDs nas mãos. Heloisa também explorou bastante o ambiente. Ela corria e subia na colmeia. Yago brincou de se olhar no espelho, e mostrava o espelho para mim. Victoria brincou de esconde-esconde com os celofanes. Eu ficava de um lado, ela do outro. Ela dava gargalhadas pela possibilidade de me achar colorida. Assim, todas as crianças puderam ampliar o olhar tanto sobre o espaço quanto sobre si mesmas em relação aos outros. Essa interação foi repleta de felicidade e alegria em estar naquele momento”. (Amanda, professora do Berçário.)

Após essa experimentação, as educadoras mediaram a construção de objetos com as crianças. As professoras pegaram o material – fita adesiva, barbante, entre outros – e começaram a criar. Elas colocaram um guarda-chuva pendurado na sala e fixaram os objetos entregues pelas crianças, formando um grande móbile.

Luís Antônio e Yago ajudaram a pendurar os espelhos. Observando a brincadeira de olhar o próprio rosto, coloquei um espelho pequeno junto ao espelho fixo na parede. Temos no espelho da sala as fotos do rosto das crianças, e assim elas podem olhar as fotos e, ao mesmo tempo, cada uma pode olhar a si própria. Luís ficou empolgado ao se ver e começou a sorrir.

Esse foi um dia de novas descobertas para os pequenos e de muita satisfação para a equipe. Percebemos o interesse e a participação de cada criança na realização das atividades. Com isso elas trabalharam a descoberta de seu corpo e do outro, tendo contato com diversos materiais e podendo, cada vez mais, explorar o espaço. (Amanda, professora do Berçário.)


6 Conjunto de 6 caixas de papelão, coladas lado a lado, que as crianças brincam de entrar nelas e delas sair.
As crianças e a relação com as Artes Visuais

Segundo o livro Children, Art, Artist:
O trabalho dos artistas oferece alimento para o pensamento e para a imaginação, mas ao trabalhar com as crianças o foco primeiro é, desde sempre, as próprias crianças, com suas estratégias próprias para pensar, seus processos de construir conhecimentos e de estabelecer relações.
Assim, o que precisamos perseguir e aplicar quando trabalhamos com as crianças são alguns dos processos que envolvem o ato criativo, tais como sínteses, tensão exploratória, a intensa relação com as coisas, a invenção simbólica, metáfora, evocação e analogia, coragem cultural e expressividade.
O papel do professor é tornar-se um observador competente da linguagem visual e das estratégias individuais ou em grupo das crianças para que possa apoiar afinadamente a expressão autônoma infantil.

Children, Art, Artist. the expressive languages of children the artistic language of Alberto Burri Reggio Children – Reggio Emilia – Itália – www.reggiochildren.it

Olhar para o aluno e para a Arte, mas antes de tudo VIVER, experimentar, experienciar! Uma reflexão constante que busca, nesse encontro, o que realmente faz sentido.

Foi o Eliasson? Não! Mas esse artista nos propiciou ver isso de outra maneira e, por meio dessa realimentação, nos fez reformular nosso trabalho.

Posted in Revista Avisa lá #53.