Crianças que tiveram seu percurso criador
alimentado por professores atentos são capazes de produzir imagens muito ricas e interessantes. Uma das estratégias utilizadas para subsidiar a criação do desenho das crianças é a interferência
gráfica, cuja proposta você vai conhecer nesta matéria.
Professores de educação infantil têm pesquisado e experimentado diversas formas de alimentar a produção das crianças. Uma das mais conhecidas é a interferência gráfica. Essa proposta consiste numa oferta que o professor planeja e prepara anteriormente utilizando recortes de outras imagens – personagens de tirinhas, fotografias, cartões-postais, imagens de revistas, detalhes de reproduções de obras de arte, um desenho iniciado por outra criança, papéis de formatos e tamanhos diferentes, vazados ou não etc. – ou formas geométricas que são coladas sobre o papel que servirá de suporte para o desenho das crianças. As interferências, quando bem escolhidas, são interessantes o suficiente para levar a criança a pensar soluções para compor uma nova imagem, como nos exemplos a seguir.
Como planejar uma boa proposta de interferência
Nos trabalhos de interferência gráfica, a riqueza dos resultados produzidos pelas crianças salta aos olhos, e é provável que esse sucesso imediato seja o responsável pela repercussão que a proposta costuma ter junto aos professores. No entanto, como toda boa intervenção pedagógica, a interferência precisa ter intencionalidade clara, para evitar-se o risco de massificar e padronizar os traços infantis, como vemos comumente em atividades que só oferecem uma única possibilidade de resolução, entendida como a correta.
Ao preparar materiais para o desenho, o professor deve conhecer o trabalho de seu grupo, compreender os percursos individuais e propor desafios que, fugindo da obviedade das idéias, possam estimular a busca de soluções diversas. E quanto maior for a diversidade de resultados obtidos numa sala, melhor! Como nos exemplos que a professora Mábia Santos de Oliveira, da creche Casa da Criança, em Ermelino Matarazzo, São Paulo, selecionou para avisa lá. Ela colou retalhos de papel espelho vermelho, em formato retangular, sobre folhas de sulfite branco e ofereceu-as a seu grupo de 4 anos.
O uso de interferências na produção de garatujas
Algumas interferências são especialmente utilizadas para alimentar os primeiros grafismos de crianças pequenas. Nessa fase é importante que possam desenhar todos os dias. O professor pode alimentar essa produção oferecendo diferentes meios – tintas, lápis, giz, etc. –, uma variedade de suportes e formatos – sulfite, papelão, cartolina, papel vegetal e interferências no formato do papel etc. – e algumas interferências gráficas que podem contribuir para ampliar a expressão de suas garatujas.
Essas interferências podem servir para diferentes fins, como se pode ver nos desenhos ao lado. Em qualquer caso, é importante que o professor tenha cuidado com o tipo de interferência que oferece;
pois ela pode se constituir em um desafio que não faz sentido para as crianças. Por exemplo, oferecer uma folha com um rosto colado para que uma criança de 2 anos complete o corpo humano não é tão importante quanto oferecer formas e texturas variadas de papel que convidam à exploração de diferentes rabiscos. Isso
porque, nessa idade, os pequenos estão mais envolvidos com a pesquisa de materiais e com a descoberta de seus traços do que com a criação e representação de uma figura. Interferências impróprias como essa não ajudam as crianças. Ao contrário, desvalorizam sua garatujas.
A importância da qualidade das imagens
Outros cuidados também merecem atenção, pois influenciam diretamente o resultado final: a escolha da imagem que vai servir como interferência e do material – lápis de cor, caneta hidrocor, carvão, guache, etc. – que será oferecido às crianças.
Como as interferências no papel são bastante sugestivas, convém apresentar imagens de boa qualidade gráfica, não
estereotipadas – como personagens Disney, os tradicionais ursinhos etc. – que possam informar, encantar e provocar as crianças a brincar com o desenho, usando os recursos plásticos de que dispõe. Esse cuidado foi determinante na produção de uma turma de crianças de 5 anos, do Centro de Convivência Infantil do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. As professoras usaram recortes de algumas pinturas dos índios ticuna, tema de um calendário velho, e os colaram ora no centro ora na lateral de uma folha de sulfite branco de 0,30 X 0,37 m.
A riqueza das imagens levou as crianças a conversar sobre os ticuna e seu modo de viver ali representados, as cores, as formas, as histórias ali contidas. Um exercício de olhar e de imaginar. As cores das tintas também foram minuciosamente preparadas pelas professoras, procurando aproximar-se das cores originais: diferentes tons de verde e azul, rosas e lilases e outras misturas das próprias crianças trouxeram como resultado um efeito plástico bastante vivo que, nesse caso, valorizou incrivelmente a produção. O resultado, do qual avisa lá
traz apenas uma parte, foi exposto pela creche para deleite das famílias daquela comunidade. A proposta da interferência gráfica, como se vê, traz resultados altamente produtivos nos desenhos das crianças, mas o professor não deve se limitar a isso. Desenho livre, de observação, de modelo vivo, apreciação de desenhos de amigos e de artistas etc. são alternativas a que o professor pode recorrer para enriquecer o trabalho no ateliê.