“Estamos nesse grupo e precisamos nos conhecer melhor”, é o que dizem as crianças de uma creche em São Paulo ao apresentar os auto-retratos da turma. Observar imagens, conhecer procedimentos e formas diversas de expressar-se foram algumas das oportunidades oferecidas ao grupo nas propostas levadas pela professora. O resultado salta aos olhos: imagens belíssimas que recheiam as páginas seguintes. Conheça essas crianças por meio de suas letras, traços e cores.
Antes de pedir para a criança fazer seu auto-retrato, o que não é nada simples, tento deixá-la familiarizar-se com o tema. Conversamos sobre o que é um auto-retrato, observamos vários exemplos de artistas, em diferentes linguagens. Também observamos o rosto do amigo para analisar como são os olhos, o nariz, a boca etc. Peço também para que se olhe no espelho, e só então deixo-a produzir seu retrato segundo os critérios que ela definir.
As crianças são tão precisas que deixam em evidência, em suas produções, os detalhes dos olhos, como os cílios, e as curvas do formato da boca. Detalhes que, talvez, não constariam em suas produções se não tivessem todo esse processo de preparação.
Algumas dessas produções ilustram a capa desta edição. São resultado de etapas finais, mas antes as crianças também experimentaram outros materiais, como carvão e giz pastel, por exemplo. Para os leitores que apreciam o fazer das crianças, compartilho os autorretratos que ilustram essas páginas.
(Eliane Feitosa, educadora da creche Amuno)
Situações de escrita num projeto de artes
Além da preparação da imagem, a professora também criou oportunidades para que as crianças pudessem ampliar o próprio conceito de auto-retrato. Ela propôs que cada uma discutisse e escrevesse itens de uma lista de suas preferências: que time torce, de que comida mais gosta, do que brinca mais etc.
Pensar sobre essas respostas levou cada uma a falar sobre si e a conhecer mais sobre as outras crianças do grupo, trazendo à tona elementos que podiam compor a construção de uma imagem que as representasse bem, incluindo as particularidades.
Essa escrita pôde ser aproveitada em outros momentos, a fim de que o grupo pudesse aprender mais sobre a língua portuguesa. Dando oportunidades para que escrevessem de próprio punho, segundo suas hipóteses, apresentassem suas produções e discutissem sobre elas, Eliane permitiu às crianças conhecer mais sobre outro modo de representação, a escrita.
Dica de leitura
No livro Espelho de Artista, de Katia Canton, você vai encontrar vários tipos de auto-representação, desde as marcas de mãos deixadas nas paredes das cavernas, na pré história, até os autorretratos contemporâneos. É uma fonte interessante para quem quiser pensar em projetos parecidos com o da professora Eliane.
Espelho de Artista. Katia Canton. Ed. Cosac & Naify.Tel.: (11) 255-8808
Ficha técnica:
Creche Amuno. Rua Aparecida Ivone Munhoz, 91, Jd. Novo Osasco, Osasco, SP, 06142-050. Tel.: (11) 3609-1091. E-mail: crecheamunoa@uol.com.br