O vídeo sobre o retorno às atividades do CEI Jd. Sangri-lá, parceiro do Avisa Lá, traz toda a delicadeza desse momento.
E no texto abaixo podemos conhecer as reflexões e emoções da diretora da creche nesse contexto.
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Toda construção de saberes percorre caminhos muitas vezes árduos e com muitas fronteiras a serem ultrapassadas. Reflexões e escutas nascem da vontade de qualificar as experiências e continuar escavando o terreno formativo da nossa condição humana.
O coletivo da Educação Infantil do Centro Comunitário Jardim Autódromo busca promover a qualificação de suas equipes com o que há de melhor neste campo de conhecimento. A aproximação com o Avisa Lá é a certeza de avanço e qualidade no atendimento aos bebês e as crianças, e muito do que somos e fazemos atualmente é fruto do que aprendemos nessa trajetória, escutando as formadoras, apreciando as mais belas obras de arte, olhando e escutando os bebês e as crianças, ocupando museus e galerias, ouvindo leituras. No início com elas, depois a gestão e equipes… Até tornar-se uma busca pessoal.
Quando o “vazio” é citado no documentário, um fio condutor nos remete ao investimento reflexivo da formação pessoal, humana e também ao foco no trabalho que realizamos para o coletivo, toda uma equipe. Escola vazia pouco significa, ela se faz na interação; estar vazia fisicamente possibilita que nasça em ideias, conquistas, escritas e os mais diversos registros desse grupo, que se fortalece e sabe o que é possível quando se quer e se tem apoio.
Em tempos de pandemia continuar é preciso. Podemos falar de distanciamento social, mas não de isolamento – precisamos muito mais de integração, acolhimento, solidariedade, cuidados mútuos.
No ano de 2020 fui interpelada pelo artista/fotógrafo Martin Avaro a fazer um registro do espaço vazio, um trabalho bastante despretensioso: registrar um ambiente tão potente “fechado em plena pandemia”.
No início do vídeo a narrativa se volta para o olhar… para um bebê e esse foco nos aproxima de outros olhares que nos são também tão raros, como a própria natureza. Propicia uma mensagem de escuta, olhar, acalanto, amparo e potência, como a vida e energia emanada dos bebês, das crianças, da terra, do cosmo… Poderiam trazer afago aos corações de milhares de educadores, familiares e toda comunidade escolar. A reflexão no vídeo nos remete a uma criança que, naquele momento, não está ocupando este espaço… Por isso ele é vazio, vazio de pisadas pelos percursos e labirintos dos parques abertos e fechados, da horta e todos os quintais… Lugares esses que vão além do Shangri-lá… Milhares de instituições de educação.
O vazio nos traz incertezas, mas também nos leva à lucidez de não sermos indiferentes à vida que pulsa, só por estarmos vivos, enquanto tantos se foram. Tratar com respeito a vida, é, por exemplo, propor um trabalho educativo com muita sensibilidade ao maior bem universal: “a vida” e, por esse caminho, trilham-se todos os cuidados e também a formação, que é sensível ao ser, ao seu meio e às interações.
Pensamos que, nesta reflexão, é fundamental partir da cosmologia da criação; todo ambiente educativo parte de um princípio, um propósito, por isso atuamos e criamos instituições. O “Vazio” nos inspira a repensar nosso papel como ambiente de cuidado, de construção de conhecimento… Saber que parte do outro, principalmente do bebê e da criança que estão nessa interlocução com os adultos, a sua volta o tempo todo. Pegar o fio condutor e tecer teias, trilhas, caminhos com pegadas leves, suaves…
Com o retorno dos trabalhos no CEI Jardim Shangri-lá, pensamos novamente que seria interessante fazer o registro, agora do “Espaço Habitado” e nasce esse lindo vídeo com a participação de muitos que habitam esse lugar.
Novamente, o registro de Martim Avaro, nos traz esperança e marca o tempo do retorno, mostra como é possível o coletivo propor um trabalho com qualidade, mesmo em tempos tão difíceis. Importante pensar a necessidade de recomeçar, sempre e de diferentes maneiras.
Benedita Machado de Mello
Diretora do CEI Jardim Shangri-lá – Núcleo III