Prof. Vital Didonet[1] e Profa. Cisele Ortiz[2]
Transformação por “Amor à Natureza” – Centro de Educação Vital Didonet – Fortaleza – Ceará (CE)
Amor à Natureza é um princípio da Escola Vital Didonet. Para fazer jus a esse princípio, a escola, sempre atenta à Natureza, abre suas portas para o ambiente no qual está inserida. Um terreno sito na Rua Chico Lemos com a Rua Antônio de Castro, que vem trazendo danos à saúde da comunidade passou a ser foco de um projeto de transformação. O referido terreno tem sido utilizado, há mais de quarenta anos, como depósito de lixo. Este Projeto envidou todos os esforços para a sua transformação em sala de lazer.[3]
Como é possível fazer desta Terra novamente o sonhado paraíso terrestre?
Se, pela mão do homem, as árvores secaram, o fogo devastou o verde, o solo ficou nu, as águas ficaram poluídas, os peixes morreram, os barrancos de rios e encostas das floretas sofreram erosão e os rios, assoreamento…, pela mão do homem pode retornar a ser nosso lugar bom e bonito de viver.
Os “alunos” (sujeitos do conhecimento no espaço da escola) são também “cidadãos” (pessoas da sociedade, que se servem dos bens públicos e que contribuem para o desenvolvimento, o progresso, a vida coletiva) e, por isso, é lindo vê-los saírem das quatro paredes e dos muros da escola (a expressão “por cima do muro” é de Loris Malaguzzi) para serem operadores de transformações do meio em que vivem. Um terreno baldio, esquecido pela secretaria de urbanismo ou meio ambiente, que ficou sendo destino e depósito de lixo, encontro festivo de ratos, rotas de passeio de baratas, fedor de decomposições, cheiro de maconha e cocaína, é visto pelos professores e alunos como um desafio de transformação. Obtida a licença da Prefeitura, arregaçam as mangas, levam ferramentas, recolhem o lixo, capinam, aplainam, adubam, plantam árvores, colocam bancos, levam equipamentos de parque infantil, marcam encontros, celebram a beleza.
O que aprenderam nesse projeto não estava nos livros e seus cadernos de exercício não pediam. A prática engajada os ensinou. Não colocaram mais informações e conhecimentos descontextualizados em suas memórias, mas experiências de transformação; trouxeram para suas formações cidadãs o empreendedorismo, a iniciativa, a coragem de enfrentar sol e poeira, sujeira e descrédito de quem vivia ali ao redor, tantos anos, sem nunca ter feito nada para impedir a degradação ambiental.
Nossas escolas precisam abrir as portas e janelas para os alunos verem além do muro. Precisam incluir no currículo os passeios e o caminhar pela cidade, pelos bairros, pelas ruas de lama e esgoto, pedir licença às famílias para entrar nas casas e conversar sobre o que lhes falta. Um amigo, de muitos anos, o Tião Rocha, fez uma escola sem muros, uma escola caminhante, uma escola transformadora. Ele foi um mestre, um inspirador, um professor da vida presente.
O projeto “Amor à Natureza” resvala em nossa discussão atual:
“Qual o impacto que as mudanças climáticas e a degradação ambiental podem ter sobre os direitos de crianças e adolescentes no Brasil?
Por estarem em uma fase mais sensível de desenvolvimento, crianças e adolescentes são os que mais sofrem esses impactos. As mudanças climáticas e a degradação ambiental comprometem também serviços, políticas e instituições que atendem às necessidades de meninos e meninas e de suas famílias. E são elas e eles que vão conviver por mais tempo com as consequências da crise climática.”[4]
Muitas pessoas e instituições estão genuinamente envolvidas com os efeitos danosos das mudanças climáticas no desenvolvimento das crianças e jovens e pelos direitos de todas as crianças e adolescentes à natureza, à segurança, à saúde e à vida em um planeta preservado; tais instituições uniram-se em uma Coalização Pelo Clima Crianças e Adolescentes (Clica) cujo manifesto está em seu site e vale a pena acompanhar e se informar[5].
Envolver as crianças, os estudantes, os familiares e toda a comunidade nesse processo não é só impedir o desmatamento, os depósitos de lixo viciados, mas sobretudo, restaurar a vida do ambiente produzindo impacto positivo na vida daquela comunidade.
Projeto semelhante faz parte do arquivo de boas práticas do Programa Ocupação Criança do Avisa Lá, que envolveu uma creche e uma comunidade para revitalizar um ambiente saudável para as crianças e suas famílias.
https://ocupacaocrianca.weebly.com/banco-de-boas-praacuteticas/projeto-revitalizacao
Nosso desejo é que neste “Agosto Verde – Mês da Primeira Infância”, experiências como estas possam inspirar práticas tão importantes, e ainda mais qualificadas, para protegermos nossas crianças e retomarmos nosso vínculo com a natureza.
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[1] Vital Didonet: professor licenciado em filosofia e em pedagogia, mestre em educação, com especialização em Educação Infantil; Assessor parlamentar da RNPI
[2] Cisele Ortiz: psicóloga, especialista em Educação Infantil, Coordenadora Adjunta do Instituto Avisa Lá
[3] https://www.editorasophos.com.br/trofeu/mod/book/view.php?id=11&chapterid=2
[4] https://www.unicef.org/brazil/media/21346/file/criancas-adolescentes-e-mudancas-climaticas-brasil-2022.pdf