*Cristina da Silva Pereira
Trabalhar em creches como auxiliar de enfermagem nos últimos onze anos, permitiu-me testemunhar diversas transformações, incluindo mudanças na percepção das mães sobre a amamentação na creche.
Uma das frases mais comuns que ouvíamos das mães ao matricular seus filhos era: “Se vai para a creche, tira do peito”.
Com um esforço coletivo, começamos a incentivar e orientar as mães, já no ato da matrícula, sobre a importância de manter o aleitamento no CEI. Nosso foco inicial foi garantir, pelo menos, a primeira mamada na entrada da criança. As professoras encaminhavam as mães para o cantinho da amamentação, localizado à frente da sala do berçário, conseguindo assim quebrar esse tabu e integrar a amamentação ao ambiente escolar.
Entretanto, enviar o leite materno congelado ainda é um desafio. Muitas mães, impossibilitadas de trazer os bebês até a creche devido à distância, precisam enviar o leite. Para garantir sua qualidade, o leite deve ser mantido congelado até o momento do consumo. Pensando nisso, o CEI passou a disponibilizar um kit composto de potes, caixa térmica e gelox, assegurando a conservação adequada durante o transporte.
Como profissional da saúde, sempre soube da importância do aleitamento materno prolongado. No entanto, surgia a pergunta: como ajudar as mães a continuarem a oferecer o leite materno a seus bebês?
A resposta veio em 2019, após a pandemia, enquanto apresentava o CEI a uma mãe lactante que mencionou não ter condições financeiras para comprar os potes de armazenamento. Aí surgiu um novo questionamento: o que as mães fazem com esses potes após o desmame? Foi então que surgiu o “Mães Amigas do CEI”.
Início do Projeto
Entrei em contato com uma amiga que, após amamentar o filho, havia guardado potes em casa sem utilidade. Com o apoio de outros conhecidos, realizamos a primeira doação de potes.
Utilizei uma caixa de isopor que tinha em casa e uma pequena quantidade de gelox, dando início efetivo ao projeto.
O gelox é uma solução inovadora de resfriamento reutilizável, ideal para manter a temperatura dos alimentos por períodos prolongados, diferente do gelo comum que derrete rapidamente.
Na enfermaria, as participantes do projeto recebem de cinco a dez potes (conforme a idade da criança), caixa de isopor; gelox e sacolinha para transporte.
Elas também assinam um termo de preferência pelo leite materno exclusivo, recebem orientações sobre ordenha, manejo, armazenamento, higienização e envio do leite, e tiram uma foto para o Cantinho da Amamentação.
Sempre convidamos as mães a manterem a amamentação presencial no CEI, respeitando os horários das refeições dos bebês e a disponibilidade de cada uma.
Expansão do Projeto
Divulgamos a iniciativa nas reuniões de pais e, por meio do “boca a boca”, conseguimos ampliar sua abrangência. Em 2023, recebemos cinco doações de potes, um marco que confirmou o impacto positivo.
Erika 2023 com o Dante Erika 2024 com Aurora
Erika, uma das participantes, sempre demonstrou entusiasmo em manter o aleitamento na creche, sem receio do desmame precoce. O leite enviado é oferecido aos bebês com copinho ou colher dosadora, evitando o uso de mamadeiras e mantendo o vínculo da amamentação no peito.
Nosso objetivo é aprimorar continuamente o atendimento, alinhando o projeto às necessidades das mães. A maior recompensa é o reconhecimento das famílias, que enche nossos corações de alegria.
sacolinhas do projeto kit fornecido as mães
Depoimentos das Mães
“O CEI é um ambiente acolhedor e incentiva a amamentação, sempre pensando no bem-estar dos bebês.”
Sandra, mãe da Pietra
“Tenho muita gratidão pelo acolhimento durante a amamentação do Levi, inclusive pela doação dos potes, que naquele momento eu não tinha como comprar”.
Lucineide, mãe do Levi
Levi em 2023
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(*) Cristina da Silva Pereira é auxiliar e técnica de enfermagem, formada em Pedagogia. Atua há onze anos na educação infantil com crianças de 0 a 4 anos. Atualmente, trabalha em um CEI na zona sul de São Paulo, onde desenvolveu o projeto “Mães Amigas do CEI” há quatro anos.
