“Comida de Alma”

“Sopas, chás, mingaus e outros que tais. Mais que alimentos, essas delicadas delícias são um verdadeiro banquete para a alma nos momentos de tristeza, saudade ou até mesmo de dor de cotovelo”. Isso é o que pensa a cozinheira e cronista Nina Horta, em seu livro ‘Não é Sopa'(1).

Inspirada pela autora a equipe do Avisa Lá, no âmbito do projeto Comer e brincar na escola(2), resgata as comidas de alma das participantes que editam livros de Comida de Alma. Assim, desde as formadoras das Secretarias de Educação até as duplas gestoras das escolas, professoras e merendeiras participam dessa proposta com suas memórias afetivas em relação à comida.

Mas, qual não foi a nossa surpresa ao nos depararmos com um texto de “Comida de Alma” no feed do Facebook .
Curiosas, entramos em contato com a autora, Joceléa Soares, que nos informou ter participado do projeto neste ano, momento em que o desenvolvimento da ação do Avisa Lá já havia sido finalizada no município de Ponta Grossa /PR, participante da edição 2021/22. O mais interessante foi descobrir que o município iniciou, por iniciativa própria, outra edição do projeto em 2023, assumindo a formação(3).

Joceléa Soares é professora de educação infantil e escreveu uma linda memória, a sua “Comida da Alma”. Ela autorizou a publicação de seu texto em nosso Blog; agradecemos e divulgamos a seguir, para o nosso deleite.

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COMIDA DA ALMA
JOCELÉA SOARES (*)

Num belo dia, na escola em que eu trabalho, a equipe gestora veio com um papo de querer saber qual era a nossa comida da alma…

Na hora vieram muitas comidas que marcaram a minha alma… desde o pirulito de chupeta açucarada que eu comprava na cantina da escola na 3 série, que até hoje me lembro com água na boca, mesmo sabendo que não passa de um açúcar caramelizado fajuto…rs. Outra comida que me faz salivar, são goiabas, ah… elas me fazem lembrar da melhor parte da minha infância onde eu, com minhas melhores amigas, ficávamos as tardes inteiras encima do pé de goiaba da vizinha e comíamos em meio a risadas, conversas e segredos… sem maldade, sem competição, sem falsidade.

Lembro também da banana madura com farofa temperada que me juntou água na boca e me fez desconfiar que estava grávida do meu 1 amor, e até hoje quando lembro sinto aquele cheiro.

Ahhh tantas comidas que mexem com minha alma!!!! Tantas memórias que se criaram pelo meu paladar…

Mas nada mais especial do que uma maionese de ovos…

Lembro-me dos domingos em que eu chegava da missa, lá pelas 10h da manhã, e ao entrar pela sala já avistava ela de costas, lá na cozinha, na beirada da pia, mexendo o molho para temperar a maionese … Domingo não era domingo sem aquele prato especial preparado pela dona Therezinha, minha mãe.

Mulher séria, de pouca conversa e poucos amigos, mas que dedicava sua vida a cuidar dos 5 filhos.

Todo domingo era sagrado, o pai na churrasqueira, desde cedo, fazendo uma costela assada de desmanchar na boca e a mãe preparando sua maionese com molho de ovos e cheiro verde…

Engraçado, que na época não parecia algo tãaao especial, mas hoje refletindo para cumprir esse desfio solicitado na escola, vejo o importante significado dessa análise… Ao degustar uma maionese, não sinto falta do tempero especial da minha mãe, até porque não tinha nada de tão especial na salada de batatas com molho de óleo e ovos, mas sinto falta da presença dela nos “meus” domingos, dos seus conselhos, dos retalhos que me dava pra fazer roupinha de boneca, de me ensinar a colocar fio na agulha, de me ensinar bordar, de como corrigir o molho da maionese quando desandava, de falar que um dia eu entenderia… e até do seu azedume e implicâncias… Rsrs

Hoje, minha comida da alma é a maionese porque ela me remete aos domingos que nunca mais voltarão, do rádio ligado tocando músicas “de velho” que eu não gostava, do cheiro de cebolinha sendo picada, da presença daquela mulher maravilhosa que todo domingo demonstrava amor pela sua família cozinhando…

Maionese para mim tem gosto de saudade…. saudade do que eu e ela não vivemos.

Já faz bem uns 25 anos que nunca mais comi a maionese da dona There… e para ser sincera não tenho saudade da maionese dela, mas de comer “com ela”.

A gente até faz… come… gosta… Mas “aquele” sabor…ah aquele sabor não tem igual…

Sabor de amor de mãe!
Mães deveriam ser eternas!

Agosto/2023

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(*) Joceléa Soares, professora de Educação Infantil, participou do projeto ‘Comer e brincar na escola’ quando lecionava no Centro Municipal de Educação Infantil Ana Neri. Atualmente é professora da Escola Engenheiro Cyro Martins, em Ponta Grossa/PR.

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(1) Nina Horta. Não é Sopa – Crônicas e Receitas de Comida. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

(2) Projeto Comer e brincar na escola, uma parceria do Avisa Lá com a Fundação Cargill, apoia as Secretarias Municipais de Educação na formação de profissionais, contribuindo para a inserção da alimentação e do movimento, na perspectiva da promoção da saúde como atividade educativa incorporada ao projeto pedagógico das unidades de Educação Infantil. Já foram realizadas quatro edições em diferentes municípios brasileiros.

(3) O Avisa Lá conta com uma metodologia que promove sustentabilidade ao processo formativo, pois os profissionais aprimoram suas competências como formadores, contribuindo para criar uma rede de responsabilização pela educação oferecida nos municípios.

 

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