Cisele Ortiz – A Pandemia Coronavirus, o isolamento social e seus reflexos para a Educação Infantil – 3

Cultura, culturas…

Cisele Ortiz

Nesta série, já abordamos dois temas (*) que nos ajudam a pensar este momento de tantas mudanças na vida das escolas e das famílias; instituições complementares no cuidado dos bebês e crianças pequenas. Para fecharmos, por enquanto, estas reflexões, abordaremos a questão da relação cultura e educação.

Cultura: palavra difícil de definir e repleta de significação nas ciências, nas artes e na vida.  Assim como a dicotomia entre cuidar e educar pode ser ressignificada neste momento, a dicotomia entre natural e cultural também poderia sê-lo.  Hoje nos vemos imersos num problema cultural: o que temos valorizado em nossa vida? O que o novo Coronavirus está nos mostrando? O que vamos valorizar daqui para frente, como vivemos e viveremos o nosso tempo? Que experiências escolhemos no tempo que temos?
No cotidiano não percebemos a cultura porque estamos imersos nela, “nadando nela”; só tomamos consciência de nossa cultura se tivermos, de alguma forma, contato com outra, diferente dela. O que nos leva a ter contato com outras culturas? A informação? O desejo? Outra pessoa que faz uma mediação e nos mostra outro mundo?

Nosso papel de professor é banhado pela cultura, é ela que traz a substância, a concretude para o trabalho. O que escolhemos para levar às crianças está diretamente relacionado ao que escolhemos usufruir em nossas vidas. Podemos levar o que quisermos, mas aí tem a escolha e a intenção. Como reconhecer a cultura da criança no seu modo de brincar, se expressar e agir se não reconheço a minha própria cultura, se encaro tudo como “natural” na minha vida e não como escolhas possíveis?

Esta reflexão vem das propostas culturais que estão sendo apresentadas às crianças nesse momento, para elas assistirem, lerem, escutarem, desenharem, brincarem. Levarei objetos culturais que reforçam o consumo, a massificação, a simplicidade simplória, ou farei essa escolha partindo do que as crianças e suas famílias sabem, conhecem, usufruem, reconhecendo-as, mas também ampliando seu universo cultural para além do que já está dado?

Se na vinculação com as famílias tivermos clareza de nossas escolhas e levarmos propostas mediadas pela cultura, não aquelas dadas pelo mercado, pela mídia, mas as que nos é estranha, não naturalizada, que nos faz pensar, sentir diferente, nos emocionar e soubermos traduzir isso em imagens, textos, filmes, músicas proporcionaremos às crianças e as suas famílias um mergulho diferente na vida!

Tenho a impressão de que se pudermos pensar nisso juntas e elaborarmos esse conhecimento coletivamente, de coração e mente aberta, em descobertas compartilhadas, poderemos avançar muito em nossa formação, no cuidado, na educação e na parceria com as famílias, neste momento tão especial de vida, em que cada um sente a sua maneira, mas que todos vivem ao mesmo tempo.

(*) Temas anteriores: Educação Infantil e Família; O Cuidado na Escola e na Família.
Imagem: Fita de Moebius
http://cadaumveaquiloquesabe.blogspot.com/2011/02/7-de-fevereiro-superficies-nao.html

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