MARIA DE FÁTIMA TOTTI E JULIANA LICHY¹
A ATITUDE DE CUIDAR É CONSTRUÍDA DESDE CEDO NAS RELAÇÕES QUE SE ESTABELECEM ENTRE AS PESSOAS, E A ESCOLA PODE SER UM LUGAR PRIVILEGIADO PARA SEU DESENVOLVIMENTO. AO SER CUIDADO PELO OUTRO, TEM-SE A DIMENSÃO DO QUE ISSO SIGNIFICA
Ao lidar com crianças pequenas é preciso pensar no sentido do cuidar para além dos cuidados físicos e ampliar nosso olhar para a compreensão da essência das relações humanas.
O que é cuidar?
Segundo Leonardo Boff:2
Cuidar é mais que um ato, é uma atitude.
Portanto, abrange mais um momento de atenção, de zelo e desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilização com o outro […]. O ser humano é um ser de cuidado, mais ainda, sua essência se encontra no cuidar. Colocar o cuidado em tudo o que projeta e faz. Eis a característica singular do ser humano.
O afeto nas diferentes instâncias permeia atitudes diárias do educador que trabalha com crianças bem pequenas. A acolhida no momento da chegada à escola, o acalanto nos momentos de sono, o afago diante do choro, o conhecimento necessário que temos de ter de cada criança em sua real necessidade, tais como oferecer a chupeta, trocar as fraldas, fazer massagens para aliviar a dor de barriga… Gentilezas no trato com o outro.
1 Maria de Fátima Totti é professora do Grupo 2 (crianças de 2 anos) e Juliana Lichy é professora do Grupo 3 (crianças de 3 anos) na Escola Vera Cruz, em São Paulo (SP).
2 Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela terra, de Leonardo Boff. Rio de Janeiro: Vozes, 2004.
São inúmeras as maneiras de cuidar que envolvem mais do que uma simples ação física. Quando falamos do cuidar estamos falando da preservação de nossa espécie, de humanização.
Esse sentido do cuidado é o que baliza nossas ações e inspirou-nos a trazer o tema para os espaços educativos³, pensando no cuidado como responsabilidade social, como uma atitude essencial para a preservação do mundo.
Cuidar e ser cuidado: uma relação de empatia.4É isso que nos mobiliza a olhar para o outro e sensibilizar-se com sua beleza, sua singularidade, seus desejos e suas necessidades. Reconhecendo o outro como meu semelhante, tornamos legítimos os sentimentos e valores que queremos compartilhar com as crianças com as quais trabalhamos.
A escola também é o lugar de construir e ajudar o sujeito em sua constituição. Partindo dessa concepção, nosso trabalho esteve pautado na escuta, no olhar para as crianças, mas também nas intenções que nós, professoras, temos e acreditamos ser caminhos mais seguros de aprendizagens e significações. Foram muitas discussões em equipe. Pensar sobre a temática do cuidado é essencial na Educação Infantil, afinal, as experiências de cuidado com o corpo, com o outro e com o ambiente fazem parte das orientações para um trabalho com crianças bem pequenas.
Foi assim que construímos, no G2 e G35, percursos de trabalho com ações voltadas para esse grande tema, o cuidado com o outro.6
3 Em 2013, a escola escolheu o tema cuidado como eixo de trabalho para todas as turmas e formação dos professores.
4 Apoiamo-nos no trabalho desenvolvido por Mary Gordon em que aposta no bebê como desencadeador de empatia e cuidado (ver box, p.12).
5 Respectivamente, grupos com crianças entre 1 ano e 8 meses a 2 anos e 5 meses e crianças entre 2 anos e meio a 3 anos e meio.
6 O trabalho contou com a atuação das professoras auxiliares Silvia Nogueira Zerbini, no Grupo 2, e Natalia Ilse, no Grupo 3.
Brincar de casinha – onde tudo acontece
O início do ano é sempre, para a criança, um momento de construção de vínculos de confiança, de conhecimento ou reconhecimento do espaço da escola e de uma nova rotina de interações com o grupo de parceiros. Esse projeto trouxe a possibilidade de favorecer essa construção, além de evidenciar aspectos do crescimento.
Começamos montando cenários de casinha em que as crianças pudessem exercer o papel de cuidadoras. Os cenários privilegiavam diferentes contextos: comidinhas a serem preparadas para os “bebês”, situações de banho e troca com banheiras pequenas e fraldas descartáveis, camas e berços de brinquedo para o sono das bonecas. As crianças demonstravam grande interesse pela proposta, carregando os bebês no colo, embalando-os, cobrindo-os, trocando as fraldas, alimentando-os com leite e comidinhas, vestindo-os e medicando-os. Além dos “bebês”, muitos foram os alvos dos cuidados oferecidos: as professoras, os bichinhos de pelúcia e as próprias crianças do grupo.
Pudemos observar que para elas o outro ainda está misturado com o eu: eu dou mamadeira para o meu bebê e mamo também, eu o coloco para deitar no bercinho onde, às vezes, eu me deito também.
É importante lembrar que ao mesmo tempo em que estavam imersos nessa brincadeira de faz de conta, viviam uma experiência bastante forte de cuidado ao se adaptarem à escola. A adaptação no G2 é um momento de muito acolhimento no colo, proximidade física, carinho e intimidade. Des cobrimos nos pequenos gestos como acalmar cada criança, tornando-nos íntimas delas e criando, assim, um vínculo de confiança.
Como etapa seguinte dessa sequência de atividades, escolhemos convidar para a nossa sala os irmãos menores das crianças, com o intuito de que os alunos pudessem se perceber em fases diferentes dos bebês visitantes e fossem valorizados em seus aspectos de crescimento.
O que o Francisco come?
Convidamos a mãe e o irmãozinho de 10 meses de Maria para virem nos visitar. Nossa intenção, nessa etapa, era observar quais os cuidados necessários com relação à alimentação de um bebê.
As crianças aguardaram Francisco com curiosidade e sabiam que iríamos recebê-los para uma roda de conversa. Assim que ele chegou já perceberam que o bebê não sabia andar ainda, diferentemente deles. Ele engatinhou por toda a sala. A conversa girou em torno das diferenças entre as crianças e os bebês, como Francisco, e o foco foi o crescimento. As crianças brincaram de ser bebês, engatinhando e imitando alguns gestos do Francisco para logo constatarem que já estavam crescidas e mais sabidas.
Durante a visita, as crianças mostravam-se ansiosas para cuidar do bebê, seguindo-o, oferecendo-o brinquedos, tentando chamar sua atenção. Ele desviava e queria fazer seu próprio caminho. Em vez de aceitar os brinquedos oferecidos, engatinhou rapidamente até a janela, encantado com os adesivos espelhados colados nela. As crianças puderam perceber que os bebês, embora bem pequenos, têm suas vontades e buscam satisfazê-las.
Maria mostrou tudo o que estava na sacola do Francisco, objeto indispensável para os cuidados do bebê: fraldas, chupeta, mamadeira, papinha etc., algumas coisas diferentes e outras semelhantes às encontradas nas mochilas do G2.
Observamos Francisco comendo. A mamãe colocou um babador e lhe ofereceu uma papinha salgada, servindo-lhe com uma colher que era levada à boca pausadamente. Depois tomou água de coco na mamadeira. Como sobremesa, comeu mamão amassadinho. Ela nos explicou que ele ainda tem poucos dentes.
Conversamos sobre como as crianças de G2 comem sozinhas, sem babador, mastigando pedaço de comida e usando copo para beber água de coco.
Inspiradas na visita do Francisco, resolvemos montar um cenário em que as crianças pudessem brincar de alimentar as bonecas. Quando as crianças chegaram ao pátio, lá estavam pratinhos, garfos de madeira e pedaços verdadeiros de mamão. E os bebês (bonecos) aguardando a refeição. As bonecas, sentadas com seus babadores, compunham a cena. Como os bebês pequenos e sem dentes podem comer essa fruta? A pergunta estava posta. Com um grande exercício incentivando a autonomia, as crianças se desafiaram a cortar, amassar, esmagar a fruta e, num jogo de faz de conta, estabeleciam diferentes relações com o que já conheciam e com os novos desafios, como preparar a papinha de mamão amassando-a com um garfo de madeira, levar o alimento à boca do bebê etc.
Ao mesmo tempo que se envolviam na brincadeira de alimentar os bonecos, mais uma vez incluíam-se na brincadeira, saboreando a fruta cortada em pedaços ou experimentando a papinha de mamão. Enquanto brincavam, conversavam e estabeleciam novas relações na troca com os parceiros. “Eu já sei comer sozinho”; “Eu tenho dente para mastigar”.
Que barrigão é esse?
Depois da alimentação, escolhemos como foco de interesse a gestação e o nascimento. A mãe do Pedro, grávida de sete meses, veio nos visitar. Numa conversa em roda com o grupo de crianças, ela contou que lá dentro de sua barriga estava crescendo uma menina.
Como será que o bebê que está lá dentro come?, perguntou a professora. As crianças, com carinha de indagação, ouviram a explicação de que o bebê come através de um cordão que sai do umbigo do bebê e liga-se à mãe. Tudo o que a mãe come vai um pouquinho para o filho.
Mas as crianças queriam mesmo era tocar aquela enorme barriga. Os pequenos exploram tudo, conhecem o mundo com as mãos, com os olhos, com os ouvidos, com a boca. E por meio das sensações descobrem o mundo.
E por onde o bebê vai sair? Uma criança, movida pelo seu conhecimento de histórias, conclui: “O médico pega uma faca e corta a barriga da mamãe”. Por coincidência, neste mesmo dia, brincamos com bexigas e, numa brincadeira espontânea, algumas crianças colocaram a bexiga embaixo das camisetas, imitando o barrigão da mãe de Pedro. Puderam observar algumas fotos trazidas pela mãe que mostravam Pedro quando bebê, sendo amamentado por ela. Essa mesma brincadeira surgiu em outra ocasião.
Um bebê em nossa sala
O projeto de cuidado no Grupo 3 nasceu com nossas primeiras brincadeiras do ano, em especial aquelas que envolviam os contextos dos jogos simbólicos de casinha. As crianças gostavam muito dos cenários preparados na escola a partir de materiais como tecidos, utensílios de cozinha, bonecas, panelinhas. Cuidar dos bebês era frequente, e os bebês das brincadeiras eram as bonecas, as próprias crianças e nós, professoras, envolvidos em ações de ninar, alimentar, trocar a fralda, preparar comidinhas. A temática do cuidado com bebês também se fazia presente nas rodas de conversas do grupo porque tínhamos muitas crianças com irmãos bem pequenos e mães grávidas. Falar sobre o cuidado era recorrente, bem como a reprodução de algumas ações nas brincadeiras. Dessa forma pensamos: Como essas ações de cuidado poderiam ser ampliadas e enriquecidas?
A brincadeira de casinha, como todo jogo simbólico, é uma instância em que as crianças assumem papéis: tornam-se mães, pais, filhos, irmãos, babás… Ao enriquecermos esses contextos de brincadeiras, ampliamos as possibilidades de imaginação, criação e apropriação do mundo que cerca as crianças. É essencialmente por meio do brincar que elas se relacionam com o mundo. Lev Vygotsky diz que as brincadeiras das crianças representam exemplos autênticos de verdadeira criação.
As brincadeiras infantis, frequentemente, são apenas um eco do que a criança viu e ouviu dos adultos. No entanto, esses elementos da experiência anterior nunca se reproduzem, na brincadeira, exatamente como ocorreram na realidade. A brincadeira da criança não é apenas uma simples recordação do que vivenciou, mas uma reelaboração criativa de impressões e, baseada nelas, a construção de uma realidade nova que responde às inspirações e aos anseios da criança. Assim como na brincadeira, o ímpeto da criança para criar é a imaginação em atividade. (VYGOTSKY, 2009: 17)7.
Ao pensarmos na possibilidade do cuidado como foco e no enriquecimento de um jogo simbólico tão querido pelas crianças, as brincadeiras de casinha, inspiramo-nos no trabalho realizado por Mary Gordon (ver box, p.12). Em um movimento similar, convidamos alguns bebês e seus familiares para visitarem nosso grupo e nos contar sobre o cuidar. Nossa intenção era que as crianças vivenciassem ações de cuidado, ampliando o repertório para seus jogos simbólicos. Recebemos seis bebês que foram convidados por fazerem parte do nosso contexto relacional: parentes e professores da escola. Cada uma das visitas tiveram focos escolhidos por nós como bons eixos de ampliação das relações de cuidado e enriquecimento das brincadeiras de faz de conta: corpo e higiene, brincadeira, linguagem não verbal, alimentação, gravidez e aquisição do andar.
7 Imaginação e criação na infância, de Lev S. Vygotsky. São Paulo: Ática, 2009.
Nádia, de oito meses, visitou-nos com a mãe para nos contar sobre os cuidados com o corpo e a higiene ao tomar banho em nossa sala. A partir desse encontro criamos cenários de brincadeiras de dar banho nas bonecas que se enriqueceram com os olhares mais refinados das crianças. Uma das crianças – Beatriz –, depois de ter assistido à cena da Nádia tomando banho, falou-nos:
– Eu já sei como dar banho no bebê. Primeiro molha a mãozinha e depois passa no bebê.
Helena, de cinco meses, esteve em nosso grupo com a mãe, que contou um pouco sobre as primeiras brincadeiras dos bebês. Depois de sua visita, propusemos um encontro com o Grupo 1, que tem crianças de onze meses a um ano e meio, para que todos pudessem brincar e experimentar outras formas de se relacionar com crianças menores e o quanto isso exige cuidado com o outro.
Carolina e Isabel, gêmeas de sete meses, estiveram presentes com os pais. Eles nos ensinaram a trocar fralda, dar mamadeira, além de contarem um pouco sobre a gravidez. Depois dessa visita, as crianças reproduziram as imagens vistas da mãe das gêmeas de quando ela estava grávida e também imitaram o jeito de dar a mamadeira, conforme o pai das bebês havia mostrado ao grupo.
Pedro, de quatro meses, visitou-nos com a avó. Ela falou sobre os cuidados de avó e a comunicação que estabelecia com ele por meio de sua linguagem gestual, balbucios e falas. A partir dessa visita surgiram no grupo conversas sobre a linguagem dos bebês:
– Os bebês fazem “gugu”, disse Helena.
– Eles falam dentro da barriga, afirmou Rodrigo.
– Os bebês falam dentro deles, comentou Felipe.
Por fi m, a mãe de Isabel, de onze meses, falou-nos sobre a aprendizagem do andar e a alimentação da filha. Na ocasião, ela almoçou conosco. Conversamos sobre as fases de alimentação do bebê. As crianças ajudaram a preparar parte da sopa de Isabel, a alimentaram, e, é claro, experimentaram também.
Sabores que cuidam
Seguimos ampliando as experiências das crianças e suas possibilidades de criação. Depois da visita da Isabel, que almoçou em nossa sala, nos inspiramos a incrementar ainda mais os contextos simbólicos das casinhas no que se refere às brincadeiras de fazer comidinhas. Pensamos sobre os significados que as comidas têm para as pessoas e que os alimentos também podem ser uma forma de cuidar. Nesse sentido, perguntamos: Quais sabores cuidam? Como a comida aparece nos contextos relacionais das pessoas como forma de carinho e atenção? Como alguns alimentos podem ser inseridos nas brincadeiras de casinha para que as crianças ampliem suas experiências de cuidado a partir do exercício de suas criações?
Com este foco, pedimos às famílias que enviassem para a escola uma receita especial, que fizesse sentido para a criança. Recebemos receitas muito especiais: o chá de erva cidreira para as noites mais difíceis, o macarrão caseiro feito tradicionalmente na família, o bolo de chocolate da mãe confeiteira, o legítimo molho pesto de uma família italiana, o mingau de aveia que é saboreado desde bebê, os ovos mexidos com um toque especial de um pai que adiciona leite à receita, o purê de batatas.
As receitas foram preparadas na escola. Tivemos a oportunidade de receber duas famílias que cozinharam conosco: um pai fez macarrão caseiro; o outro, produziu o legítimo molh0 pesto italiano. Durante o preparo das receitas ficava evidente o sentido que as preparações tinham para a criança que a havia trazido. O cuidado também estava presente sob o aspecto da manipulação dos alimentos e da elaboração das receitas saboreadas por todos. Quando prontos, os pratos eram oferecidos em cenários de casinha, enriquecendo ainda mais as brincadeiras das crianças que se exercitavam no jogo simbólico com alimentos de verdade. Ofereciam chá e mingau para os bebês, colocavam queijo ralado sobre o macarrão para agradar o colega que experimentava a receita, davam comidinhas na boca uns dos outros e preparavam os pratos dos filhinhos.
Das famílias para as relações na escola
Depois das visitas dos bebês em nosso grupo, refletimos sobre como levar o cuidado para as relações das crianças. Foi nesse momento que evidenciamos dois caminhos a partir do cuidado: o cuidado com o corpo do outro e o cuidado com o sentimento do outro.
O cuidado com o corpo do outro – Durante as visitas, as crianças precisaram conter o próprio corpo e saber os limites do contato possível com bebês tão pequenos: Como se aproximar? Como oferecer carinho sem machucar? Essas foram perguntas que as ações das crianças refletiam.
Assim, buscando transferir essas mesmas perguntas para as relações das crianças, desenvolvemos uma sequência de ações de sensibilização e contato com o corpo do outro. Diariamente, após as
brincadeiras no espaço externo, propúnhamos um momento de descanso, organizávamos diversos cenários nos quais as crianças eram convidadas a cuidar do corpo do outro ao se tocarem, se acariciarem, dividirem espaço e experimentarem alguns materiais de massagem. Estendíamos um grande pano na sala com algumas almofadas e deixávamos à disposição materiais como algodão, pincéis, pequenos potes com água e conta-gotas, panos e penas. No começo, apresentamos os materiais individualmente para, só depois, compormos um pequeno acervo de utensílios para esse momento de descanso e relaxamento.
Ao longo dessas vivências foi interessante ver como as crianças descobriam cada parte do corpo do outro ao sugerirem massagem nos pés com os pincéis ou passarem bolinhas de algodão pela barriga do colega, por exemplo. Na experiência de tocar o outro lidavam continuamente com as questões: Como se aproximar sem machucar? Como cuidar do corpo do outro para que ele se sinta confortável? Nesse movimento, as crianças se aproximavam em pequenos grupos, duplas ou trios e estabeleciam combinados, perguntavam à criança que recebia massagem como preferia que fosse feito e, cuidadosamente, lhe ofereciam as sensações dos materiais. Depois as próprias crianças invertiam os papéis, isto é, quem havia oferecido carinho agora se dispunha a recebê-lo.
O cuidado com o sentimento do outro – Com as visitas dos bebês foi possível entender o aspecto mais abstrato e subjetivo do cuidado, ou seja, o cuidado com o outro como pessoa que tem sentimentos e jeitos próprios de ser. Poder acolher, querer ajudar. Um exemplo disso foram as leituras das histórias que envolviam enredos de medo ou que continham personagens amedrontadores como monstros, lobos e bruxas. Em uma dessas situações em que contávamos a história de Chapeuzinho Vermelho duas crianças se ofereceram para estar ao lado de outras duas que estavam com muito medo do Lobo. Desde então essa postura tornou-se recorrente entre as crianças:
– Vou cuidar da Antônia porque ela tá com medo do Lobo, disse Beatriz.
Pudemos acompanhar a reverberação desse sentido do cuidar do outro em situações quando, por exemplo, as crianças se ajudavam em situações de dificuldade ou buscavam o auxílio do adulto quando alguém estava descontente.
Apesar de termos dividido o entendimento do cuidado como o cuidado do corpo e o cuidado com o sentimento, ou seja, um mais concreto e o outro mais abstrato, é importante pontuar que os dois também acontecem juntos, afinal o sentido de cuidado só ganha significado quando há alguma ação que o concretize. É assim na brincadeira.
Nessa atuação direta sobre o outro e sobre o mundo pelo olhar cuidadoso, as crianças constroem o sentido profundo das relações humanas. E com essas vivências, conversas, brincadeiras e muito afeto, o cuidado foi instaurado em nosso grupo. A atenção, a gentileza e o carinho permearam nossos dias. E a cada gesto de tomar para si o cuidado com o outro sentíamos o quanto a clareza de nossas intenções havia tocado cada um deles.
O que faz o Roots of Empathy
O Roots of Empathy (raízes da empatia) é um programa realizado em salas de aula, que aplicado desde 1996, reduziu significativamente os níveis de agressão entre jovens nas escolas por meio do incentivo do relacionamento com bebês – sempre um deles em um grupo, acompanhado de um instrutor adulto. Esses bebês catalisam a experiência da percepção de seus próprios sentimentos e o do outro, resultando em uma cultura de mais afeto e compreensão.
O que Mary Gordon diz em Quem se Importa
“É uma oportunidade para que alunos numa sala de aula criem seu entendimento social e emocional. Para que sejam capazes de cuidar do outro, de aprender sobre a experiência do outro. E o que acontece neste programa é que, quando a empatia que desenvolvem e a habilidade de entender os outros aumentam, todas as coisas ruins, como bullying, diminuem”.
“Existe uma grande tendência chegando à educação que reconhece a pesquisa que diz: O melhor motor para o aprendizado é como nós nos sentimos”.
Fonte: http://www.quemseimporta.com.br/o-filme/empreendedores-sociais-2/mary-gordon
