Atividades lúdicas feitas por crianças em seus lares permitem que os pequenos aprendam a estudar de maneira autônoma e responsável
As atividades enviadas para casa pelas escolas de Educação Infantil da rede municipal de ensino de São José dos Campos (SP) vão além das tarefas. Elas constituem um conjunto de ações que as instituições desenvolvem há tempos, como empréstimos de livros, pastas de socialização de projetos e trabalho com leitura de textos memorizados (caderno de leitura). No entanto, há dois anos, iniciamos um trabalho, em parceria com as famílias, com o objetivo de significar essas atividades. Para ampliar o envolvimento dos pais com a aprendizagem dos filhos, buscamos melhorar a compreensão deles em relação à proposta pedagógica estendendo as ações para além das reuniões, de palestras e conversas.
Surgiu, então, a necessidade de também significar essa questão com alguns professores em nossas unidades, a fim de instigá-los em relação a concepções tradicionais ainda presentes na prática diária. Vários consideravam a oportunidade como uma estratégia de ensino de conteúdos. Eles enviavam mais tarefa para serem considerados empenhados. No entanto, a ação não estabelecia vínculos significativos com a aprendizagem dos pequenos. Para reverter o quadro, buscamos em textos e em reflexões sobre a prática dar novos significados a essas ações, indicando o que já fazíamos e apontando as intenções educativas dessa nova prática para cada segmento envolvido. Depois disso, reestruturamos as atividades considerando o sociointeracionismo adotado pela rede. Vale lembrar que o trabalho foi realizado em horário de trabalho coletivo (HTC).
Tarefas com significado
Qual o objetivo das atividades realizadas em casa pelas crianças? Por que fazê-las? O que é possível fazer com autonomia com turmas de 4 a 6 anos? Essas foram as questões sugeridas pelo corpo docente. Realizamos pesquisas com os pais para saber o que pensavam e esperavam dessas atividades. O retorno das famílias foi positivo, mas demonstrou também uma concepção das tarefas como estratégia de aprendizagem, o que deveria ser revista em reuniões e orientações. As atividades “para casa”, como denominamos aqui na rede municipal, cumprem importante papel no projeto pedagógico da escola, pois possibilitam às crianças da Educação Infantil aprender a estudar com autonomia e compromisso com sua aprendizagem. Queremos que elas vivenciem essa proposta pedagógica desde o início. O hábito deve ser em decorrência de uma prática sistemática e regular e, principalmente, significativa. Para tanto, refletimos e planejamos uma proposta com base no lúdico. Definimos com os professores com os pais quais os objetivos do projeto para cada grupo envolvido. Ficou acordado que para as crianças o principal objetivo seria desenvolver postura de estudante, construindo hábitos de estudos importantes na vida escolar e social.
Para as famílias, participar da aprendizagem dos filhos, envolvendo-se com as propostas e projetos realizados pela escola de maneira ativa e compromissada. O papel da escola seria o de socializar as propostas e os projetos desenvolvidos, compartilhando estratégias e procedimentos de ensino com os responsáveis. O próximo passo foi mapear todas as ações desenvolvidas, organizando e socializando a proposta com todos. Sobre as atividades enviadas para casa, retomamos o caráter lúdico e as características de cada faixa etária. Surgiram ideias interessantes e significativas, como empréstimos de jogos, de CDs e de poemas utilizados em sala de aula. Construímos cronogramas semanais e mensais. O retorno foi muito bom, tanto dos professores quanto das famílias, que chegaram a confeccionar jogos em casa a partir de nossas sugestões. Por decorrência, elaboramos cinco tipos de propostas, indicadas a seguir.
Empréstimo de livros
- Organizado por meio de cronograma, enviando por mês três livros para casa.
- As obras devem ser enviadas em pastas ou em sacolas específicas para o empréstimo com orientações e combinados sobre a leitura e cuidados com a publicação, datas de envio e de retorno do material.
- A condição de empréstimo é que algum membro da família assine o termo de compromisso.
Socialização de projetos
- Além de socializar, o objetivo é ampliar as informações e conteúdos dos trabalhos desenvolvidos em Natureza e Sociedade, Música e Linguagem Oral e Escrita. Colocar os projetos em pastas de grampo com plásticos, que poderão conter textos, gravuras, fotos e espaço para que os responsáveis opinem e colaborem com novos materiais.
- As pastas de Linguagem Oral e Escrita e Música poderão ser acompanhadas de CDs e de fitas cassetes de gravações com poemas, cantigas, parlendas e letras de músicas.
- Confeccionar várias pastas para atender mais crianças ao mesmo tempo.
- Todas devem estar etiquetadas e, na primeira página, com orientação e justificativa.
- Explicar em reunião os combinados e conteúdos de cada uma delas.
Atividades de Leitura, Escrita e Matemática
Atividades já trabalhadas em sala de aula (Infantis III e IV – respectivamente, crianças de 5 e 6 anos).
- Enviar somente atividades já realizadas em sala, tomando-se o cuidado de adequar os desafios.
- Ler e explicar a atividade antes.
- Elaborar consignas objetivas e claras.
- Se necessário, enviar material de apoio, como alfabetos, retas e quadros numéricos.
Caderno de leitura (Infantil III – 5 anos)
- Enviar duas vezes por mês, intercalando com os empréstimos de livros e textos memorizados pelos pequenos.
Empréstimos de jogos
- Separar para envio os passatempos de Leitura e Escrita e Matemática.
(Equipe Região I da Prefeitura de São José dos Campos, formada pelas EMEI Profa Elza Ferreira Rahal e NEI Profa Elza Maria Dias Mendonça. O trabalho foi realizado pelas professoras das unidades escolares da Região I, a orientadora pedagógica Sandra Aparecida Ramos e a diretora Fátima Aparecida de Oliveira Santos)
Observações importantes
Para o sucesso de toda a operação, foi importante estabelecer alguns combinados. Decidimos que a confecção do material seria realizada em HTC pelos professores. As propostas deveriam ser organizadas em rodízio durante o mês, sendo enviadas uma vez por semana para casa. Sempre entregues às terças-feiras e devolvidas às sextas-feiras. Na primeira reunião de cada ano, a proposta foi explicada aos pais. Entregamos a eles o manual de orientação das tarefas e, antecipadamente, divulgamos as datas de empréstimo e de entrega do material. Também combinamos com as famílias que possíveis danos deveriam ser ressarcidos. Orientamos e incentivamos a participação e valorização das atividades enviadas.
Todo o material, bem como o cronograma de entrega, permaneceu em caixas dentro de armários, para evitar possíveis perdas. Em dia de devolução, a sugestão foi destinar um cantinho só para conferência. Cada criança deveria contar os itens do jogo emprestado. O material pertence à escola, porém, aquele professor que venha a confeccioná-lo e que permaneça de um ano para outro atendendo a mesma faixa etária, o material pode ficar com ele. Era papel do educador avaliar o trabalho com os pais na reunião individualizada e solicitar sugestões para melhorar as propostas.
Sugestões para atividades
INFANTIL I (CRIANÇAS DE 3 ANOS)
Eixo de trabalho – Linguagem oral e escrita:
Propostas:
– Quebra-cabeça
– Memória com fotos das crianças, de animais (de fazenda, selvagens, mães e filhote e de transporte
– Dominó de figuras.
Orientações:
– Confeccionar peças grandes, coloridas, com suporte resistente e plastificadas.
– Enviar, em uma sacola identificada com logotipo da escola, instruções de como jogar e de manutenção do material.
– Os jogos devem ser de conhecimento das crianças. É importante que elas joguem com autonomia.
Eixo de trabalho – Matemática:
Propostas:
– Dominó de pontos.
– Jogo da velha.
– 30 casas.
– Jogos de preenchimento da joaninha, da árvore e da tartaruga.
– Trilhas sem números e com vários caminhos.
Orientações:
– Seguir orientações anteriores.
– Iniciar o empréstimo somente no 2º semestre, pois os pequenos estarão mais independentes e autônomos.
– Para os jogos de preenchimento, enviar duas cartelas e os marcadores coloridos separados em pequenos potes identificados.
– Para as trilhas, confeccionar com vários caminhos, sem números, selecionando temas lúdicos ou de histórias, com marcadores de bichos ou de personagens.
INFANTIL II (CRIANÇAS DE 4 ANOS)
Eixo de trabalho – Linguagem oral e escrita
Propostas:
– Dominó e memória de fotos e nomes de crianças.
– Bingos de letras.
– Bingo de nomes (cartelas com 4 nomes da turma e cartões com os mesmos nomes).
Orientações:
– Seguir orientações anteriores.
Eixo de trabalho – Matemática:
Propostas:
– 50 casas.
– Jogos de preenchimento da joaninha, da árvore e da tartaruga.
– Trilhas com e sem números.
– Fecha-caixa
– Guerra dos dados.
– Bingos de números até 30.
Orientações:
– Seguir orientações anteriores.
– Para os jogos de preenchimento, enviar duas cartelas no 1o semestre e uma para dois jogadores no 2o semestre. Também enviar os marcadores coloridos separados em pequenos potes identificados.
– Para as trilhas, confeccionar com e sem números, selecionando temas lúdicos ou de histórias, com marcadores de bichos ou de personagens, e já estabelecer etapas com inclusão e exclusão de percursos.
– Utilizar dados em tamanho maior que o padrão para que as crianças contem os pontos.
INFANTIL III (CRIANÇAS DE 5 ANOS)
Eixo de trabalho – Linguagem oral e escrita
Propostas:
– Dominó e memória de fotos e nomes de personagens de histórias.
– Bingo de letras.
– Bingo de nomes dos personagens de histórias (cartelas com seis nomes de personagens e cartões com os nomes para sortear).
– Lotoleitura com palavras do mesmo campo semântico.
– Cruzadinhas, caça-palavras, cartas enigmáticas com banco de palavras ou não dependendo da hipótese de escrita.
– Forca.
Orientações:
– Seguir orientações anteriores.
Eixo de trabalho – Matemática:
Propostas:
– 50 casas.
– Bingos de números.
– Bingo de números comercial.
– Bingo de números redondos (10, 20 e 30).
– Trilhas com números e com campo numérico superior a 50.
– Fecha-caixa.
– Guerra dos dados.
– Jogo do castelo.
– Batalha de números e de composição.
– Memória de 10.
– Tirando 10.
– Jogo dos pontinhos.
Orientações:
– Seguir orientações anteriores.
– Usar dois ou três dados de pontos e de números.
– Para os jogos de cartões ou cartas, enviar em potes tampados e identificados.
– Para jogos de registro, enviar caneta marcadora de quadro branco.
Desde quando e por que os pequenos devem usar cadernos nas tarefas de casa?
Em escolas de Educação Infantil das redes municipais e estaduais, em geral, o uso de caderno de tarefas não é comum. Os conteúdos são construídos em sala de aula, de acordo com os temas e projetos previstos no planejamento. A criança pode ser estimulada a colher mais informações em casa, com o auxílio dos pais. De qualquer forma, essas atividades são complementares e não dependem de registros. Já nas escolas particulares, é maior o número de professores que indica o uso de cadernos de tarefas para crianças a partir de 4 anos. Ainda assim, as atividades de casa não precisam seguir formalizações tão rígidas quanto as exigidas no Ensino Fundamental. O professor pode pedir desenhos ou pesquisas ligados ao que a turma ouviu em sala, por exemplo. As cobranças em relação ao material entregue devem ser sempre negociadas, e a lição pode ser quinzenal ou semanal. Trabalhar com a criança o senso de responsabilidade e o exercício de autonomia em relação ao próprio material escolar colabora para que ela aprenda a se organizar.
(Consultoria de Vera Cristina Figueiredo, formadora de professores da Educação Infantil, e Denise Milan Tonello, orientadora pedagógica do Colégio Miguel de Cervantes, em São Paulo, SP. Fonte: Site da Nova Escola – pergunta de internauta)
Ficha técnica
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP) – Tel: (12) 3901-2083 – E-mail: smedei@sjc.sp.gov.br
Formação e desenvolvimento: Secretaria Municipal de Educação de São José dos Campos (SP), Região I.
Diretora: Fátima Aparecida de Oliveira Santos – E-mail: nei.elzafrahal@ig.com.br Orientadora pedagógica: Sandra Aparecida Ramos – E-mail: sandraaramos@ig.com.br
Para saber mais
Livro
- A ética na Educação Infantil – o ambiente sócio-moral na escola, de Rheta de Vries e Betty Zan. Ed. Artmed. Tel. 0800-703-3444.