Avisa Lá Indica #9


Mais uma indicação de Ana Carolina Carvalho – “Orie” de Lucia Hiratsuka, um livro ilustrado. Uma linda história de memórias, crescimento e transformações. Mas, memórias para crianças pequenas, faz sentido?
Clique aqui para assistir o vídeo e leia a resenha abaixo com reflexões da nossa especialista.

 

Orie, de Lúcia Hiratsuka

Por Ana Carolina Carvalho

Orie, avó de Lúcia, veio do Japão aos 20 anos. Era filha de barqueiros e contava muitas histórias daquele país à sua neta. Uma dessas histórias ouvidas por Lucia em sua infância inspirou esse delicado livro publicado pela editora Pequena Zahar há alguns anos, em 2014.

Trata-se de um livro de memórias para crianças pequenas. E podemos nos perguntar: faz sentido compartilhar memórias com os pequeninos, que ainda estão no começo de suas vidas? Claro que sim! É bonito compartilhar com as crianças desde cedo essa faceta crucial do que nos torna humanos: temos histórias e somos feitos delas, do modo como as contamos, do que nos lembramos e dos sentidos que damos ao vivido. Como se estivéssemos abrindo uma porta às crianças, dizendo: entre, esse mundo cheio de memórias, com suas sensações, cenas e saudades, também é seu! Reaver nossas memórias é também saber quem somos nós.

Para além das memórias de Orie compartilhadas com sua neta, o livro também nos fala das transformações, do crescimento, algo tão vivo para as crianças. No início da narrativa, os passos de Orie são pequenos e ela acompanha seus pais, barqueiros, até a cidade. Tudo é motivo de observação atenta da menina pequena: o balanço das águas, os peixes no rio, o movimento do remo, os pássaros e o que é trazido pelo vento. Depois, vem o olhar da pequena para a cidade. Também as suas sensações: cheiros, cores, sons. O tanto de gente que havia pelas ruas, o movimento, o vai e vem.

O vai e vem, aliás, é personagem importante do livro. Quantas vezes Orie atravessa o rio com seus pais em um constante ir e vir… O tempo passa. Orie se transforma e um delicado indício do que está por vir em sua vida pode ser revelado ao leitor por meio de um presente que ela recebe de uma moça. Uma cumplicidade se instaura entre as duas. Orie foi tocada pelo presente e pelo sorriso da moça. Ela se prepara. Para o quê?

Ainda é importante dizer que nada no livro está à toa: o tempo da narrativa nas páginas, o ritmo do texto que sugere movimento, o projeto gráfico na cor do papel que remete à terra, fazendo jus à origem da avó de Orie. O formato do livro na horizontal é outro elemento que nos chama à atenção ao dialogar com a travessia que marca a vida da personagem. Por fim, mais um aspecto que faz parte da leitura: os traços de Lúcia nos trazem muitos elementos da cultura japonesa.

Ao ler Orie embarcamos no passado dessa menininha que mais tarde viria do Japão para o Brasil e experimentamos um pouco de uma vida tão distante do tempo e no espaço, vivendo suas sensações, impressões e chegando mais perto do outro lado do mundo.

 

 

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