Ilustradores de primeira

Produzir um livro com as crianças para que seja incorporado à biblioteca da escola não é uma grande novidade, mas a elaboração de ilustrações primorosas ainda é pouco comum. Veja como as crianças do Centro de Convivência Infantil – CCI Adolfo Lutz, na cidade de São Paulo, conciliaram de forma competente a proposta de escrever e desenhar.
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Desenhos das crianças do CCI Adolfo Lutz

Para as crianças de 5 anos do CCI Adolfo Lutz, o contato com lendas, contos de fadas e diferentes tipos de texto é uma constante. A elaboração de histórias pelos pequenos é algo que parece natural e povoa até mesmo as brincadeiras espontâneas. Neste contexto, foi muito bem-vinda a proposta trazida por nós, as professoras: produzir um livro contendo uma história sobre bichos. Nosso objetivo era despertar nas crianças o gosto pela leitura e a capacidade de elaborar textos, ainda que elas não soubessem escrever convencionalmente. Pensando nisso, provocamos situações nas quais as crianças desempenharam o papel de leitores e escritores. Queríamos também reforçar no grupo o sentimento de união, colaboração, compartilhamento de idéias e negociação de pontos de vista. O texto foi sendo construído em diferentes dias, com muitas sugestões, e no início era uma história bem simples.

Escolhido o tema, montamos na sala um cantinho com diversos livros de histórias de animais para que as crianças pudessem explorá-los. Passamos a sentar diariamente com eles para lermos juntos uma história escolhida pelo grupo. No início, essa escolha era difícil, pois cada um queria uma história diferente. Partíamos, então, para as negociações, que levava tempo, já que ninguém abria mão da sua escolha. Fazíamos uma votação para decidir quais seriam as próximas a serem contadas naquele dia. Após muita leitura as crianças “escreveram” ditando à professora, o Buliduli e seus amigos.

Obra coletiva
As crianças entrevistaram o escritor e ilustrador Avelino Guedes, que atendeu nosso pedido e colaborou bastante com o grupo, explicando o processo e as etapas desenvolvidas para produzir suas ilustrações. Contamos também com a contribuição do design gráfico Flávio Navarro, que discutiu conosco quais técnicas, instrumentos e suportes dariam melhores resultados para o nosso livro. No decorrer do projeto, todas as crianças produziram desenhos para ilustrar a história, que foram sendo guardados em uma pasta coletiva, sem a identificação do autor. Decidimos que as crianças não assinariam seus desenhos, porque estavam trabalhando em grupo.

Optamos por colocar um fundo nas ilustrações usando tinta nanquim, feita pelas educadoras com carga de caneta hidrográfica usada diluída em álcool. Produzimos também tintas com pigmentos naturais (beterraba, almeirão ou morango, misturados com álcool). A cada dia, as crianças preparavam as folhas, pintando o fundo com essas tintas caseiras. Prontos os desenhos, começamos a montar o livro. Dividimos o texto em partes, recortamos os desenhos dos personagens e dos detalhes e, juntos, elaboramos as cenas. No total, o processo de criação do texto e das ilustrações durou cerca de oito meses, num clima de magia e aventura, transformando, com muita imaginação e trabalho, o sonho em realidade.

(Renata Fraudendorf, psicopedagoga da Clínica Soma, em Campinas-SP, e formadora do Instituto Avisa Lá)

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Buliduli e seus amigos

Era uma vez um gorila que se chamava Buliduli e morava na floresta com a Dona Gorila (Téia) e o filhote que era uma menina e se chamava Nininha. Eles moravam numa casa de madeira enfeitada com flores, tinha um balanço que era em galho cheio de flores. Nininha estava brincando no seu galho preferido, quando de repente apareceu um caçador e Nininha chorou assustada. Na verdade esse caçador era um veterinário, que tinha ido à floresta para cuidar dos gorilas. Mas Buliduli, que estava dormindo em sua rede, ouviu o choro do seu bebê e acordou assustado, correu atrás do veterinário.

Téia correu para ajudar Buliduli. Juntos conseguiram prender o veterinário e amarrá-lo pendurado em uma árvore, com a cabeça para baixo. Mas apareceu a pantera Bililica e falou que o homem não era um caçador mau, e sim um veterinário. Ela já conhecia ele, pois um dia o pai dela estava doente e o veterinário foi lá cuidar dele…

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O que a onça pintada vai levar?

No decorrer dos dias a história foi ficando mais complexa: as criancas incluíram uma festa com descrição de personagens, roupas e adereços. Após muita cantoria o final foi feliz. “Ao ouvirem a história, as crianças quiseram fazer alterações. Ao serem questionadas sobre a real importância dessas mudanças, as explicações foram tantas que não houve como deixá-las de lado. Um dos trechos que quiseram mudar foi a descrição da Dona Onça Pintada. Estava escrito que ela tinha “uma bolsa com batom e maquiagem”. Uma das crianças, enquanto eu lia, foi repetindo a frase e terminou com: “E um espelho”. Então, eu disse que essa informação não estava escrita, e começou a discussão: para a turma era totalmente absurdo haver uma bolsa com maquiagem, batom e sem espelho”.

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Ficha técnica

Centro de Convivência Infantil do CCI Instituto Adolfo Lutz
Rua Itaquera, 519 – Pacaembu
São Paulo- SP – CEP: 01246-030
Tel.: (11) 3661-7547
e-mail: ccial@ig.com.br

Equipe
Diretora: Ana Maria Dahi Rizzo
Coordenadora: Ana Christina Romani
Professoras: Maria Rosivani Batista Madeiro, Vera Lúcia Nunes e Maria Cristina de Lima Alves Araújo.

Para saber mais

Livros
O Gato de Botas, Pedro Bandeira. Ilustrações de Avelino Guedes. Ed. Quinteto Editorial. Tel: (11) 3253-5011.

Girofle Girofla, Coleção Veredas. Cecília Meireles. Ilustradores: Avelino Guedes e M. Cristina Simi Carletti. Ed. Moderna. Tel.:0800 17 2002.

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